Capítulo 56

1035 Words
Ronin estava inquieto, fazia alguns dias que ele não via a sua filha. Depois do que ela tinha feito ele a estava evitando de propósito, queria que Lyo aprendesse uma lição com tudo o que tinha causado. A reunião que ele participava o incomodava terrivelmente e depois de tentar se concentrar e não conseguir ele apenas faz um gesto para que as pessoas deixassem a sala. Em silêncio eles se retiram depois de fazer uma pequena reverência. O telefone tocou no silêncio da noite que se iniciava, um som agudo que perfurou o coração de Ronin Takahashi como uma lâmina. Ele atendeu com as mãos trêmulas. Não tinha uma boa sensação sobre aquilo. — Se quiser ver a sua filha de novo, vá ao beco da Rua Hoshikawa. Agora. — Diz a voz do outro lado da linha. A linha morreu antes que pudesse reagir. Sem pensar, Ronin largou tudo. A discussão amarga com Lyo ainda ecoava na sua memória — o escândalo, a vergonha — mas não importava. Era sua filha. Dirigiu pelas ruas que começavam a se movimentar, o coração martelando no peito, a mente invadida por uma prece desesperada. Quando chegou ao local, o becô era uma f***a esquecida entre prédios, mergulhada em sombras espessas. Ali, no frio cortante, encontrou Lyo. A princípio, duvidou dos olhos: ela estava quase irreconhecível, o rosto coberto de hematomas, o corpo curvado em uma posição de proteção desesperada. Um gemido fraco escapou dos seus lábios rachados. — Lyo! — gritou, correndo para ela. Ajoelhou-se ao seu lado, os olhos marejados, os dedos trêmulos tocando o seu rosto machucado. Ronin a ergueu nos braços com todo o cuidado que conseguia reunir, soluçando sem pudor. Cada hematoma, cada osso torto, era uma punhalada no seu peito. Levou-a ao hospital mais próximo, o carro atravessando os semáforos vermelhos como um cometa desgovernado. Atravessou a entrada de emergência aos berros por socorro, e logo viu Lyo ser tragada por uma equipe de médicos e enfermeiros. A sua mente dava voltas enquanto esperava, pensando em quem poderia ter feito aquilo com a sua filha. O arrependimento por tudo o que tinha feito o corroía, ela era tudo o que ele tinha, o pequeno presente que a sua falecida esposa tinha deixado para que ele cuidasse, e ele havia falhado naquele tarefa. Horas se arrastaram. Ronin sentou-se na sala de espera, a cabeça entre as mãos, o gosto amargo da culpa entalado na garganta. A imagem dela, nua e desamparada na cidade, queimava a sua consciência. Tinha jurado nunca perdoá-la... Mas agora daria tudo para ouvir a sua voz novamente. O telefone vibrou no seu bolso. Um número oculto. Atendeu com a voz partida. — Se quer que a sua filha viva, envie-a para outro país. Ela nunca mais deve se aproximar de Sayuri Matsumoto. Se não obedecer, da próxima vez ela não sobrevive. A ligação terminou, deixando-o afundado em um mar de desespero. Quem eram eles? Por que essa ordem? E Sayuri... o que havia realmente acontecido entre ela e Lyo? Ronin se sentiu rasgado. Como poderia proteger Lyo, sua menina, sem exilá-la? Era justo condená-la ao exílio, ainda mais depois de tudo que sofrera? Mas o medo era um veneno que já lhe corria nas veias. Entre soluços silenciosos, encarou a porta fechada da UTI. Dentro dela estava o seu maior tesouro — ferido, mas vivo. E ele sabia: faria qualquer coisa para que assim continuasse, mesmo que isso lhe custasse o último pedaço do seu coração. Horas depois o médico se aproxima de Ronin com rosto cansado, ele se levanta de presa temendo o que o médico lhe diria. — Como ela está doutor? — Pergunta aflito. — A situação da senhorita Lyo é grave senhor Ronin, não vou mentir. — Diz o médico com olhos preocupados. — Ficou claro que a senhorita foi torturada, e quem fez isso sabia bem o que estava fazendo, porque apesar dos vários ossos quebrados no seu corpo nenhum perfurou órgãos internos. Ronin gela com aquela revelação, os seus olhos se escurecendo com as palavras do médico. — Ela vai precisar ficar na unidade de terapia intensiva por um bom tempo, é a melhor forma de garantirmos que ela não pegue nenhuma infecção grave, se isso acontecer com o atual estado dela, a senhorita Lyo não resistiria. — Faça tudo o que tiver ao seu alcance para que a minha filha fique bem doutor, não importa o valor, eu pagarei. — Diz Ronin. O seu coração doía terrivelmente com as palavras do médico, mas ele mudaria a situação da sua filha. — Faremos o nosso melhor senhor Ronin. — Responde o medico. — Preciso que me informe quando a minha filha poderá ser transferida doutor. — Diz Ronin olhando para o rosto surpreso do medico. — Eu não entendo senhor? Transferir a senhorita Lyo? — Pergunta o médico. — Sim. Quero saber quando ela poderá fazer uma viagem para o exterior, vou movê-la para outro país. — Explica ele. — Na situação atual dela não seria recomendado, ela não resistiria a viagem, precisamos analisar com calma o seu estado, quando ela se recuperar um pouco lhe informarei senhor. — Responde o médico. — É uma questão de vida ou morte doutor. Quando ela tiver condições de viajar me avise imediatamente. — Ronin não fiaria ali com a sua filha sendo ameaçada como estava, precisava garantir a segurança de Lyo. — Ficaremos atento senhor, e qualquer melhora será avisado imediatamente. — Posso vê-la doutor? — Pergunta ele. — Precisa ser breve senhor, ela não pode ficar exposta a bactérias. — Serei rapido. — Diz ele. O médico permite que Ronin entre rapidamente na sala cirúrgica onde Lyo ainda estava. Quando ele vê o estado da sua filha não consegue segurar as lágrimas, ela era apenas uma sombra do que um dia já foi, o seu rosto irreconhecível pelos vários hematomas que o tomavam. Com cuidado Ronin segura a mão da sua filha e dá um beijo, o seu coração se partindo diante do que via. — Você ficará bem, meu amor, vou cuidar de você e poderemos recomeçar em outro lugar, onde você ficará segura. — Diz ele. Aquela certeza queimando no seu coração.
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