A brisa daquela tarde carregava o cheiro doce das flores, misturado ao peso amargo da despedida. O caixão de Haruki Shinoda descia lentamente à terra, sob o olhar de dezenas de rostos calados. Entre todos, apenas uma figura chorava com verdadeira dor — Mei. A mãe. A esposa.
Ela soluçava em silêncio, os olhos fixos no homem que tanto amara e que tantas vezes a ferira. Hideo mantinha-se ao seu lado, imóvel como uma estátua, o semblante fechado, mas o olhar atento a cada movimento. A mão repousava firme sobre o ombro da mãe, sustentando-a não apenas com o toque, mas com a força da sua presença.
— Adeus, pai — murmurou ele, numa voz quase inaudível. Mas não havia tristeza ali. Apenas um senso implacável de encerramento. Hideo não fingiria naquele momento. Ele lamentava a morte do pai, mas não seria hipócrita a ponto de dizer que sentiria a falta de Haruki.
Quando a última pá de terra foi lançada, o ritual chegou ao fim. Alguns se aproximaram para consolar Mei, outros apenas fizeram uma reverência respeitosa e se afastaram.
Horas depois, a casa de Hideo estava cheia novamente — mas agora de aliados, não de lágrimas. Os principais membros da Fênix e a família de Sayuri reuniram-se em torno dele. Havia comida, chá servido em silêncio e um clima de expectativa contida. Todos sabiam: era o fim de uma era, e o início de outra.
Kyota, pai de Sayuri, ergueu-se com solenidade. O seu rosto, geralmente rígido, trazia agora uma expressão respeitosa.
— Hideo — disse ele, com voz firme — sei que o momento ainda é de luto, mas há assuntos que não podem mais esperar.
Hideo o encarou, sem surpresa. Sabia o que viria. Todos ali já esperavam por isso, então ele apenas assentiu com um suspiro.
— Meu pai acabou de ser enterrado. Não acha cedo demais?
Kyota assentiu com leveza, mas manteve o tom direto:
— Justamente por isso. Com Haruki enterrado, muitos estão à espera de uma confirmação clara sobre quem ocupa o seu lugar. Não basta apenas o medo ou a força. É preciso estabilidade. É preciso tradição. Está na hora de você e Sayuri oficializarem a sua união… publicamente.
Todos no ambiente silenciaram. Sayuri, sentada próxima de Mei, ergueu os olhos para Hideo. Ela não parecia assustada nem constrangida. Pelo contrário, havia orgulho em seu olhar. Ela queria aquilo, sempre quis, apenas desejava que não fosse daquela forma.
— Concordo com meu pai — disse ela, com serenidade. — Já passamos tempo demais adiando isso. E agora você tem Sora no seu pé. Ele vai procurar qualquer coisa que puder para usar contra você e tomar o seu lugar.
— Você está certa. Só queria que não fosse assim. E até onde me lembro, você tinha negado o meu pedido — disse ele com a sobrancelha arqueada.
— Aprenda a pedir direito, senhor Shinoda — disse ela, piscando para ele.
Hideo sorri com as palavras dela. Só mesmo Sayuri para melhorar o seu humor naquele momento.
Hideo olhou ao redor. Os homens da Fênix aguardavam a sua resposta. Ele sabia que cada gesto, cada palavra, era agora um tijolo na fundação do seu império. Um passo em falso, e toda a sua autoridade ruiria. Mas ele se casaria com Sayuri porque a queria como sua esposa, e não porque eles esperavam que ele o fizesse. Hideo não fazia o que pediam.
Ele respirou fundo.
— Muito bem — levantou-se. — Sayuri e eu oficializaremos a nossa união assim que essa teimosa aceitar o meu pedido de casamento.
— Mas é p*u-mandado mesmo — disse Aurélio, balançando a cabeça.
— Você também é p*u-mandado, ou se esqueceu? — disse Nico, com a sobrancelha arqueada.
— Não me esqueci. E uma palavra nunca me deixou tão feliz quanto essa — disse ele, piscando para Oksana.
Hideo virou-se para Sayuri e, num gesto simbólico, estendeu-lhe a mão. Ela se levantou com elegância e caminhou até ele. Silêncio absoluto.
— Sei que falhei muito com você, Sayuri — começa ele. — Não sabe o quanto me arrependo de ter fugido de você por tanto tempo. Acho que devo agradecer ao Matteo por me mostrar o que eu estava perdendo por ser um i****a.
— Vou querer ouvir seus agradecimentos — disse Matteo com um sorriso de canto.
Os outros riem quando Hideo faz uma careta.
— Sayuri, eu não tenho um anel, nem preparei uma linda surpresa para você, mas eu queria muito que você ficasse comigo por toda a sua vida. Quero estar ao seu lado, velhinho, em uma cadeira de balanço — disse ele, com a voz mais calma que alguém já tinha ouvido antes. — Sayuri Matsumoto, você aceita se casar comigo?
Aquela pergunta ficou suspensa no ar. Sayuri encarava Hideo sem expressão, então abriu um largo sorriso no rosto e se jogou em seus braços.
— Eu devia te castrar por toda a raiva que você já me fez — disse ela, com os olhos fixos nos dele.
— Essa é das minhas — disse Oksana com um largo sorriso.
— Você me magoou muito, Hideo, e vai ter que pagar por isso. E acho que viver comigo o resto da sua vida pode ser um bom castigo para você.
Hideo ficou surpreso, e quando as palavras dela entraram em sua mente, ele sorriu. Seus braços a apertaram mais contra si enquanto ele enterrava a cabeça na curva do pescoço dela, inalando aquele cheiro familiar que esperava sentir durante todos os dias da sua vida.
— Está mesmo falando sério? — Pergunta ele se afastando um pouco dela com um largo sorriso.
— Eu não brincaria com algo tão sério Hideo. — Diz ela envolvendo novamente seus braços no pescoço dele. — Eu disse que você era meu.
Palmas contidas começaram a surgir entre os mais próximos. Alguns sorriram, aliviados. O caçulinha deles finalemnte estava tomando a decição que mudaria sua vida. Não havia mais espaço para dúvidas.
Mei observava em silêncio, o rosto ainda marcado pela dor. Mas, ao ver o filho assumir o seu lugar com firmeza, uma paz amarga começou a crescer dentro dela. Ela estava feliz, e por mais que seu peito se partice com o luto viveria aquele momento feliz de seu filho.