Capítulo 81

1029 Words
O ar parecia mais denso. Os olhos dos soldados se moviam entre Ricardo e Haruki como se esperassem, a qualquer momento, um disparo, uma ordem ou uma explosão de violência. Mas ali, entre os dois homens, não havia pressa — só o peso de anos de poder, orgulho e uma história que finalmente se entrelaçava num ponto sem volta. Haruki deu um passo à frente, os olhos semicerrados. — Você está ultrapassando os limites, Ricardo. Invadiu a casa de um líder da Yakuza, desacatou os meus homens... e agora quer me dizer como devo lidar com o meu próprio sangue? Ricardo cruzou os braços, inabalável. Ele não cederia sobre aquele assunto. — Não me venha falar de limites, Haruki. Os rompeu no momento em que amarrou o seu próprio filho como um cão e o deixou sangrar como inimigo de guerra. Haruki cerrou os dentes, o maxilar trincando de raiva. Os pessos das palavras de Ricardo carregando uma verdade que ele se recusava a aceitar. — Eu sou o Don desta casa. E você sabe o que isso significa. O que faço com os meus é da minha conta. — Quando isso envolve tortura, crueldade e covardia... deixa de ser só sua conta. — disse Ricardo, dando mais um passo à frente. — Você não passou dos limites. Você os ignorou. Como pai. Como homem. Os soldados de Haruki se remexeram, desconfortáveis. A tensão era quase insuportável. Ricardo estava deixando claro seu desprezo por Haruki ignorando o poder que ele tinha para destrui-lo. Haruki o encarou com frieza, mas havia algo diferente em seus olhos. Talvez surpresa. Talvez ódio. Talvez... o incômodo de ouvir verdades que ninguém jamais teve coragem de lhe dizer. — Cuidado com as palavras, Ricardo. Não esqueça onde está. — Eu sei exatamente onde estou. — disse Ricardo, firme. — E é por isso que você não vai reagir como gostaria. Porque você me deve. Haruki ficou imóvel, o silêncio à sua volta se tornando ainda mais denso. Alguns dos soldados mais próximos entreolharam-se. Muitos se perguntando como aquela conversa não tinha se transformado em um banho de sangue ainda. — Não se atreva a usar isso contra mim... — rosnou Haruki. — Me atrevo sim. — cortou Ricardo, o tom agora mais baixo e letal. — Anos atrás, eu dei a você a única informação que podia salvar o seu filho, lembra? Foi graças a mim que Sora ainda respira. E você jurou que um dia retribuiria. Haruki desviou o olhar por um instante — só por um segundo. Mas foi o suficiente para que todos vissem. Ele se lembrava. E aquilo o corroía por dentro. Mas jamais havia imaginado que Ricardo iria querer algo com o seu filho como pagamento pelo que tinha feito, e ainda o desafiar daquela forma ignorando o perigo que ele representava a ele. — O trato era outro. Eu não prometi que você poderia usar isso contra mim. — Não estou usando contra você, Haruki. Estou cobrando. — Ricardo se aproximou ainda mais, até estarem frente a frente. — A dívida que você tem comigo... é paga agora. E não com dinheiro, nem com palavras. É com a liberdade de Hideo. Ele sai daqui comigo. E você nunca mais toca nele. — Isso se aplica a máfia russa também. Hideo está sobre a minha proteção. — Diz Yuri dando um passo a frente. — A máfia italiana também. Honramos a nossa família. — Diz Aurélio com olhos sombrios. — Você tem a minha palavra que Hideo estará amparado por cada aliado que tenho, ninguém poderá tocado sem sofrer as consequências por isso. — Diz Ricardo. Haruki o olhou de cima a baixo. Por um instante, parecia que fosse ordenar um ataque. Mas algo o segurou — o orgulho, talvez. Ou a lembrança de um tempo em que Ricardo havia sida a salvação para seu problema. — Isso não termina aqui. — disse Haruki por fim, a voz pesada, quase engolida pela frustração. Não havia o que fazer, ele tinha sido derrotado em seu próprio jogo. — Não. Não termina. — respondeu Ricardo, recuando com firmeza. — Mas a partir de agora, começa em outro lugar. Um lugar onde o seu filho não tenha que sangrar para provar lealdade. Sem mais uma palavra, Ricardo virou-se e caminhou de volta até Hideo, que era amparado por Nico e Aurélio. Os homens da Fênix se alinharam ao redor deles como escudos vivos. Lentamente eles deixavam o lugar, e com eles ia a unica esperança de Haruki. Haruki permaneceu imóvel, assistindo em silêncio enquanto levavam o filho. Os seus olhos escurecidos observavam Ricardo com um misto de rancor e algo mais profundo... talvez perda. Sayuri caminha lentamente entre eles parando a frente de Haruki, os seus olhos vermelhos pelas lágrimas não derramadas que ela continha. — Jamais vou perdoá-lo pelo que fez Tio Haruki. — Diz ela encarando os olhos sombrios de Haruki. — Ele é seu filho, seu sangue. E você o tem tratado como um criminoso. — Escute Sayuri, não é o que pensa... — Não, é bem pior do que eu imaginava Tio. — Diz ela antes de se afastar correndo para acompanhar os outros. Tudo o que Hideo tinha lhe dito não chegava aos pés do que ela tinha visto, o seu coração sangrava apenas por lembrar do que tinha visto. O campo de batalha, por ora, estava em silêncio. Mas as cicatrizes daquela noite jamais seriam esquecidas. Haruki sentia a sua boca amargar, a humilhação o corroendo por dentro enquanto ele assistia impotente que o seu filho fosse tirado dele para sempre. Assim que chega no carro Sayuri afasta os outros e entra se sentando no banco de traz. — Me dê ele. — Pede ela. Com cuidado eles colocam Hideo no banco de tras com a cabeça no colo de Sayuri. O seu ferimento voltado para cima para evitar que piorasse. As mãos de Sayuri se erguem para tocar as suas feridas, mas recuam ao ver o quão grave elas eram. Os seus olhos ardiam e ela se segurava para conter as lágrimas que ameaçavam cair. Hideo precisava dela, ela não poderia desmoronar naquele momento.
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