Capítulo 106

1010 Words
Mariana permanecia de joelhos sobre a grama húmida, os cabelos desgrenhados colados ao rosto, os olhos fixos no chão, como quem já não esperava redenção. A sua respiração era pesada, marcada pela dor física e pelo desgaste emocional. Mas aquela aparencia não enganava Hideo, ele sabia bem o tipo de mulher que estava a sua frente. Hideo parou a alguns metros dela, inclinando a cabeça levemente, como quem avalia algo irrelevante. Um sorriso de desprezo surgiu no canto dos seus lábios. — Patético… — murmurou com desdém, a voz carregada de um desprezo cortante. Dois soldados que vigiavam Mariana afastaram-se ligeiramente, abrindo espaço para que Hideo e Sayuri se aproximasse. Ele caminhou até ela com uma calma c***l, como quem saboreia cada segundo da submissão alheia. De súbito, um grito rompeu o silêncio. Hideo já sabia de quem se tratava, ele reconhecieria aquela voz odiosa em qualquer lugar. — HIDEO! Sora avançou rapidamente, o rosto contorcido pela fúria, mas antes que pudesse chegar perto, dois seguranças o contiveram com força, segurando-lhe os braços e imobilizando-o. Para Hideo aquilo era apenas um jogo, e Sora e a mãe dele eram seus brinquedos no momento. Ver a forma que o seu irmão bastardo o olhava apenas reforçava a ideia que Hideo tinha sobre ele, Sora não era o que a maioria pensava, e em breve ele arrancaria a máscara que ele usava diante dos outros. — Como pode fazer isto?! — berrou o irmão, lutando inutilmente contra os homens que o prendiam. — Ela já sofreu o suficiente! Hideo virou-se lentamente para ele, os olhos frios como aço, sem demonstrar qualquer sinal de arrependimento ou dúvida. Ao seu lado Sayuri apenas observava o que ele faia sem interferir. — O suficiente? — repetiu, num tom que beirava o escárnio. — Quem decide isso sou eu… Não você. Sora continuou a debater-se, a fúria que ele sentia por Hideo o fazendo se contorcer de raiava, as palavras seguintes sairam como ameaças cuspidas entre dentes. — Se você se atrever a tocar nela outra vez, juro que… Antes que pudesse terminar, Hideo aproximou-se com rapidez inesperada e desferiu um soco certeiro no estômago do irmão, fazendo-o dobrar-se de dor, ofegante, enquanto os guardas o seguravam ainda mais firmemente. O som seco do golpe ecoou pelo jardim, quebrando o frágil silêncio. Hideo olhava para o meio irmão com fúria, ele era o novo Don da Yakuza e não permitiria que as pessoas o tratasse daquela forma, ainda mais algum que sempre tinha desejado estar no seu lugar. Sayuri sorriu ao lado de Hideo, mas manteve-se imóvel, sem ousar intervir. Ela gostava daquele lado de Hideo, e podia ver que o irmão dele tentava o provocar, mas se ele insistisse ela sabia que aquilo não terminaria bem. Hideo inclinou-se sobre o irmão, agora curvado e sem fôlego, e sussurrou no seu ouvido, com uma calma que soava mais ameaçadora do que qualquer grito: — Nunca mais me desafie. Devia se sentir grato por eu não ter colocado uma bala na cabeça de vocês dois. — Disse ele se afastando. — Mais ainda temos tempo, nunca se sabe o que pode acontecer. Hideo encara Mariana, que, mesmo de joelhos, não ousava levantar os olhos para ele. Mas ele podia ver a forma que ela serrava os punhos ao lado do corpo, ao que parecia ela não era tão indiferente ao que acontecia quanto queria que ele pensasse. — Espero que tenha aproveitado bem a noite. — Diz ele com um traço de sorriso em sua voz. — Você está sendo injusto comigo, se seu pai.... — Meu pai não está aqui! Eu estou, e diferente dele tudo o que sinto por você é nojo. — Diz ele a interrompendo de forma brusca. — Eu não... — Ela não termina de falar quando a mão de Sayuri se choca com o rosto dela a derrubando no chão. — Mãe! — Grita Sora tentando ir até ela, mas é contido pelos soldados. — Acho que o Don não te pediu para falar. Então por que abriu a maldida da boca? — Pergunta Sayuri a puxando pelos cabelos e a colocando de joelhos novamente. Hideo olhava para Sayuri com os olhos brilhando, tinha algo que a deixava ainda mais atreente aos seus olhos quando agia daquela forma. — Levem-na daqui — ordenou friamente aos soldados. — E quero que recuperem tudo o que meu pai deu a ela, não esqueçam de nenhum alfinete. — O que? Você ficou louco! — Grita Sora se debatendo. — Não estou louco, pelo contrário. Vocês poderiam até ter uma boa vida e eu os deixaria em paz, mas infelizmente vocês mexeram com alguém que eu amo e isso jamais será perdoado. — As palavras dele eram duras, e Mariana e Sora se pegam sem conseguir pensar direito sobre o que estava acontecendo. — Olhe só para você, o papai mau foi enterrado e você já se acha o grande líder! — Diz Sora com desdém. — Eu não acho que sou um líder, eu sou. Caso não se esqueceu a vergonha aqui são vocês dois e não eu. — Responde ele com um sorriso de canto. — Você vai se arrepender disso! — Diz Sora. — Acho que não. — Diz Hideo sinalizando para que os soldados os tirassem da sua presença. Enquanto Mariana era puxada pelos braços, arrastada para longe junto com Sora, Hideo virou-se e, sem mais uma palavra, começou a caminhar de volta para dentro da casa, com Sayuri a segui-lo em silêncio. Ela tinha um largo sorriso no rosto enquanto o seguia. Hideo mostraria a Sora e a sua mãe o preço que se pagava por mexer com Mei. Ele tiraria tudo o que seu pai um dia havia lhes dado e se dependesse dele, os dois jamais teriam um lugar na sociedade que frequentavam, a menos que quisessem arcar com as consequências. Mas depois do que ele tinha dito, duvidava que algum aliado da sua organização os aceitasse, ninguém iria querer um grupo de soldados raivosos em sua porta.
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