Capítulo II

568 Words
Tulipas. Tulipas são flores do inverno, resistentes a baixa temperatura, mas frágeis ao toque. São sedosas e sedutoras, com aroma leve que contraria totalmente a robustez dessa flor. Embora seja bela e aparentemente resistente, tulipas, na verdade são as flores que mais demandam cuidado. As flores não são raras, mas, aparecem em poucas épocas, e mesmo sem uma aparência vivida você precisa continuar regando, e acreditar que ela irá florescer novamente no seu tempo. No fundo, tudo o que você precisa fazer de fato é acreditar que é possível. “Acreditar que é possível”, sua mãe costumava lhe dizer essa frase, principalmente quando estava a cuidar do belo jardim que ocupava a maior parte do espaço ao redor do que Helena conhecia de mundo, o jardim que era mesmo maior do que a própria casa. Embora cuidar das flores e aprender os afazeres domésticos com sua mãe ocupassem boa parte do tempo, o pouco que ainda sobrava ela gostava de estar com seu pai a tratar dos animais, os animais a faziam bem, mas, Helena gostava mesmo era de colo e aconchego. Via seu pai tratar os animais, tirar o leite das vacas e produzir queijos deliciosos, ouvi atentamente as suas histórias de como era a aldeia mais perto da civilização, dizia ele que quando ela já estivesse com idade o suficiente os dois poderiam visitar a civilização, e era tudo o que a garota desejava. Ficava horas imaginando como seriam as pessoas da aldeia, faria amigos? Conheceria animais diferentes? Será que haviam tulipas pelo caminho? E se as flores fossem de cores diferentes? É que tudo isso só faria sentido quando ela realmente pudesse estar longe dali. As únicas pessoas que Helena teria visto além de seus pais eram os soldados do rei, seu pai já havia contado de onde eles vinham, que viviam ao redor do grande castelo, esse que era repleto de luxuosos cômodos e que acomodava as pessoas mais importantes daquele lugar. Já os soldados tinham uma feição sombria e c***l, Helena não gostava deles, vinham com suas roupas carregadas e pesadas, em seus cavalos grandes e fortes para tirar parte das poucas moedas que seus pais conseguiam ao longo do ano. Ela sabia o quanto era difícil consegui-las, e achava injusto doá-las a alguém que não necessitava. No fundo, o coração da garota era tão bom, que ela era incapaz de assimilar como as coisas eram no mundo real. Sentada em seu balanço na árvore, ela estava a pensar o quão breve completaria sete anos e poderia finalmente sair e conhecer o mundo, ou assim ela pensava que seria. Sentia a brisa leve do vento ao tocar seu rosto e seus pés m*l tocavam o chão enquanto o balanço ia e voltava, esse vai e vem durou quase a tarde toda, enquanto observava seu pai a guardar o feno dos animais e sua mãe gentilmente tentando ajudar como era possível. Naquela tarde, Helena não percebeu o quanto seu pai parecia cansado, os indultos cobrados pelo rei estavam cada vez mais pesados, fazendo com que o trabalho fosse constantemente mais pesado. Há dias sua mãe não regava as flores, dizia que sobreviveriam com a pouca chuva que descia do céu, mas, isso não era verdade, e aos poucos o forte tom rosa avermelhado foi sumindo da frente da pequena casa, minguando aos poucos, quase que de maneira imperceptível para todos, menos para ela.
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