Depois de algumas semanas de trabalho, Henrique havia se integrado bem à equipe de segurança da família Mancini. Ele havia demonstrado ser um homem confiável e capaz, e Antônio começou a sentir que ele poderia ser um ativo valioso para a sua organização.
No entanto, Antônio não estava convencido de que Henrique era leal apenas a ele. Ele precisava testar a lealdade do novo segurança e ver se ele estava disposto a fazer o que fosse necessário para proteger a família Mancini.
Antônio organiza um encontro “de rotina” em um galpão afastado da cidade, no fim da tarde. Ele chama Henrique para acompanhá-lo, dizendo que vão apenas “negociar uma entrega importante”.
Quando chegam, há dois homens desconhecidos já à espera. O clima é tenso. Um deles se aproxima de Antônio, fala algo baixo e, de repente, puxa uma arma, apontando para o chefe.
Henrique, sem saber que tudo é uma encenação montada por Antônio e os dois comparsas, reage instintivamente. Ele saca a própria arma, se posiciona na frente do chefe e ordena que os homens soltem a arma.
Antônio observa tudo com frieza. Ele não intervém, apenas observa a postura de Henrique se ele hesita, se protege primeiro, se atira, se tenta negociar.
Quando Henrique se mantém firme, protegendo Antônio com o corpo e a mira estável, um dos homens “atacantes” abaixa a arma e começa a rir. Antônio também.
Antônio então diz:
— Por que não atirou, Henrique?
— Porque o senhor não ordenou.
Antônio da uma risada seca e diz:
— Bem-vindo de verdade à equipe, Henrique. Poucos passam nesse teste.
Henrique, era treinado, a adrenalina nem sequer atingiu seu corpo, ele havia percebido que a arma do homem era falsa, e percebe que seu chefe jamais deixaria um homem seu apontar uma arma de verdade para ele.
Antônio coloca a mão em seu ombro e completa:
— Agora, vamos ver se posso confiar em você de verdade.
O som metálico do galpão ecoa quando Henrique baixa a arma, tranquilo. O eco dos passos de Antônio se aproxima devagar. Ele sorri, um sorriso contido, quase satisfeito.
Henrique franze o cenho, confuso.
Antes que ele pergunte qualquer coisa, o portão do galpão se abre de novo e dois seguranças de Antônio arrastam um homem com o rosto coberto por um capuz. O sujeito está amarrado e se debate, soltando gemidos abafados.
Antônio caminha até o homem, tira o capuz com um puxão seco. É um dos funcionários da empresa, alguém que Henrique já tinha visto antes, o motorista de de Antônio.
—Esse animal— começa Antônio, com o tom frio,—foi pego roubando carga.
Antônio então vira o olhar para Henrique.
— Quero ver o quanto você é obediente, Henrique. Quero que resolva isso.
O silêncio pesa. Os outros homens observam, esperando. Henrique olha para o motorista, que chora e balbucia:
— Eu juro que não fiz nada, doutor Antônio… eles me forçaram!
Henrique não hesita nem por um instante. Ele encara Antônio, e o olhar firme do chefe espera sua atitude.Sem dizer uma palavra, ele se aproxima do motorista e o puxa pelo colarinho.
— Ele quer um culpado, diz Henrique, baixo, encarando o homem— E… é você.
Henrique chuta o homem que estava ajoelhado o fazendo cair de costas, pega sua arma e aponta para o homem que súplica para que ele tenha misericórdia. Henrique sorri de canto algo que Antônio percebe. Ele mira na cabeça do homem e atira, sem hesitar, sem sequer mexer um músculo que demonstre algum sentimento por ter matado o homem a sangue frio.
Antônio observa a cena sério, mas por dentro satisfeito com Henrique. Ele ergue a mão.
— Basta.
Henrique permanece em silêncio.Antônio se aproxima, pega a arma da mão dele e diz:
— Era só isso que eu precisava saber. Você não hesita quando a ordem vem de mim.
Ele devolve a arma, bate no ombro de Henrique e completa com um sorriso satisfeito:
— Você é dos meus, garoto. E aqui, hesitar pode custar a vida.
Antônio sai do galpão, deixando Henrique para trás, mas antes deixa uma última ordem para Henrique e os outros dois seguranças.
— Limpem a bagunça desse verme.
Henrique entende: aquele não foi apenas um teste, foi um aviso.