Capítulo 34

1035 Words
Fiorela observava a paisagem passar pela janela do carro, as luzes da cidade cintilando como estrelas distantes. O seu coração batia forte no peito, um turbilhão de emoções a consumindo. Ela tinha feito a escolha certa? Fugir da casa de Cortez para ir com Kenai era um salto no desconhecido. Mas quando pensava em sua vida até aquele momento, a solidão que sempre a envolveu, percebeu que talvez a sua única sorte estivesse ao lado dele. Kenai dirigia em silêncio, suas mãos firmes no volante. Desde o momento em que a vira encolhida naquele quarto, sentira algo dentro de si despertar. Uma necessidade estranha de protegê-la, de tê-la por perto. Não era algo que pudesse ser explicado, apenas sentido. Ele não costumava confiar facilmente, mas com Fiorela, algo era diferente. A fragilidade dela não o fazia enxergá-la como fraca, mas sim como alguém que precisava de um lar. E, de alguma forma, ele queria ser esse lar para ela. Fiorela desviou o olhar da janela e observou Kenai de perfil. Ele era intenso, o seu rosto carregava cicatrizes da vida que levava, e ainda assim, algo nele parecia seguro. Isso a assustava. Como poderia confiar em alguém que m*l conhecia? Ainda assim, quando ele lhe estendeu a mão, não hesitou em segurá-la. — Você está quieta. — Kenai quebrou o silêncio, os seus olhos brevemente deixando a estrada para encontrarem os dela. — Ainda estou tentando entender tudo isso — ela admitiu, sua voz baixa. — Eu não te conheço. Não sei quem você é de verdade. E mesmo assim… estou aqui. Kenai assentiu lentamente, compreendendo a sua hesitação. Ele também não entendia completamente por que a queria tão perto. Tudo nele dizia para manter distância, para não se apegar. Mas algo em Fiorela o fazia ignorar todos os instintos de autopreservação. — Não espero que confie em mim de imediato. Mas o que eu prometi, eu vou cumprir — disse ele, a voz grave, mas sincera. — Você não está mais sozinha, e estará segura comigo. As palavras dele causaram um aperto no peito de Fiorela. O significado por trás delas era algo que nunca ouvira de ninguém antes. A viagem até a base da máfia Valentine parecia durar uma eternidade e, ao mesmo tempo, apenas um instante. Quando finalmente chegaram, Kenai saiu do carro e abriu a porta para ela. O gesto simples fez algo dentro de Fiorela se aquecer. Ele a guiou para dentro de sua casa, um lugar muito diferente do que imaginava. Não havia luxo exagerado, mas era espaçoso e, de alguma forma, acolhedor. Kenai fechou a porta atrás deles e soltou um suspiro, finalmente relaxando um pouco. Era bom estar em casa, e ele estava louco para tirar as suas roupas que estavam sujas da missão daquela noite. — Essa é sua casa agora, meu beija-flor — ele disse. — A farei feliz. Fiorela o observou por um momento. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que poderia realmente respirar. E isso, por si só, já era algo poderoso demais para ignorar. Ela observa Kenai com atenção, os seus cabelos negros como a noite caiam na sua testa, eles eram de um liso tão profundo que a mão dela coçava para tocar. Kenai tinha algumas cicatrizes pequenas pelo rosto, mas nada que estragasse a sua beleza natural. A sua maneira ele era belo, ela podia ver que ele tinha traços indígenas pela forma do seu rosto e a suas características. Era aquilo que a tinha atraído para ele quando o viu e que não a fez recuar. Kenai tinha algo que lhe passava tranquilidade e ali diante dele que era um estranho ela não sentia medo. Ele tinha um porte firme, e Fiorela podia ver a forma que a camisa que ele usava se apertava contra o seu peito, sim, com toda a certeza Kenai tinha uma beleza pouco convencional, mas que ela gostava terrivelmente. — Pode fazer o que quiser aqui beija-flor, desde que me mantenha informado. — Kenai não desejava olhares estranhos sobre a sua mulher. — Amanhã as mulheres virão lhe dar as boas vindas e a purificar. Aquelas palavras assustam Fiorela e ela arregala os olhos so olhar para ele, não entendendo o que ele queria dizer. — Purificar? — Pergunta preocupada. — Sim, como você é de fora precisa passar por isso para ser aceita por meu povo, mas não se preocupe é um ritual apenas com as mulheres e sei que a minha mãe cuidará bem de você. — Kenai podia ver a apreensão nos olhos de Fiorela e não desejava a assustar, mas ela precisa entender que ele tinha uma cultura um tanto quanto diferente dos outros e mesmo que morassem em um lugar com tecnologia e desenvolvido ele ainda guardava os ritos do seu povo. — Você é mesmo índio? — Pergunta ela não querendo o ofender. — Sim, o meu pai não era, mas minha mãe é e guardo os ensinamentos do meu povo com orgulho. — Diz ele olhando para ela. Fiorela podia ver os olhos dele brilhar ao falar do seu povo. — Se diz que eu estarei bem com elas, confiarei em você. — Responde ela. — Não somos bárbaros beija flor, podemos ser um pouco diferentes, mas somos civilizados. — Diz ele piscando para ela. — Venha, vou te mostrar onde fica o nosso quarto. Fiorela se deixa arrastar pelo corredor até a ultima porta, e quando Kenai abre revela um quarto simples, uma cama em um canto e para a surpresa de Fiorela havia uma esteira no chão. Ela olha para Kenai com curiosidade, mas ele não diz nada e apenas entra no quarto abrindo o armário. Kenai pega uma camisa sua e entrega a Fiorela junto com uma toalha. — Pode tomar o seu banho, e pode ficar com a cama também, gosto de dormir no chão. — Diz ele dando de ombros antes de sair do quarto. Fiorela olhava com curiosidade ele partir, não imagina aquilo, mas, no fundo ela se sentia grata por ele ter lhe dado aquele espaço, com um suspiro ela caminha para o banheiro, precisava descansar para que no outro dia encarasse as mudanças que a sua vida daria.
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