Capítulo 35

1004 Words
Fiorela acordou com os primeiros raios de sol invadindo o quarto, sentindo o calor suave da manhã. Espreguiçou-se lentamente e, ao virar a cabeça, deparou-se com Kenai, ainda adormecido no chão. O seu peito subia e descia em um ritmo sereno, e havia uma expressão de paz em seu rosto. Ela nunca imaginaria que aquele soldado mestiço, de olhar intenso e postura firme, pudesse ser tão atencioso a ponto de ceder a cama para ela e dormir no chão. Sentiu uma onda de gratidão e, ao mesmo tempo, um nó de confusão em seu peito. Kenai era diferente do que ela esperava. Havia nele uma força silenciosa, um respeito e um carinho que a surpreendiam a cada momento, algo que não condizia com o olhar feroz que ele tinha no rosto. Levantou-se com cuidado para não acordá-lo e caminhou até a janela, respirando fundo o ar fresco da manhã. O aroma de folhas e terra úmida enchia os seus sentidos, trazendo-lhe uma estranha sensação de pertencimento. Mas antes que pudesse aprofundar-se em seus pensamentos, vozes femininas soaram do lado de fora da casa. Intrigada, Fiorela deu alguns passos hesitantes até a porta e, ao abri-la, se deparou com um grupo de mulheres indígenas, todas vestidas com trajes tradicionais, adornadas com colares de sementes e penas coloridas. No centro do grupo, uma mulher de presença marcante, com olhos sábios e postura imponente, avançou, ela não necessitava de apresentação Fiorela sabia quem era. Era a mãe de Kenai. Fiorela sentiu o coração acelerar. A incerteza do que as mulheres a sua frente fariam enchia o seu peito enquanto as olhava. Ali ela era uma estranha, uma intrusa no meio dos seus costumes. As mulheres sorriram para ela, algumas sussurrando palavras que não entendia, mas cujo tom era acolhedor. Kenai apareceu ao seu lado, ainda sonolento, mas ao perceber a cena, despertou completamente e se aproximou da mãe, trocando palavras em sua língua nativa. Então, ele virou-se para Fiorela. — Elas vieram para realizar um ritual de purificação — explicou ele, com um tom gentil. — Minha mãe quer te aceitar como parte da família. O peito de Fiorela se apertou. Nunca imaginara ser recebida dessa maneira. Mesmo sendo uma estrangeira, uma forasteira, aquelas mulheres estavam ali para aceitá-la. Sentiu-se pequena diante da generosidade daquele povo, e uma emoção inesperada a envolveu. As mulheres a conduziram para um espaço aberto, onde folhas e flores estavam dispostas em um círculo. A matriarca começou a entoar cânticos, enquanto as outras a rodeavam, derramando água perfumada sobre as suas mãos e cabelos. Fiorela fechou os olhos, permitindo-se sentir cada toque, cada som, cada gesto. Era como se estivesse sendo acolhida, purificada não apenas pelo ritual, mas pelo amor e pela aceitação que emanavam daquelas mulheres. Ao abrir os olhos, encontrou Kenai observando-a com um brilho intenso no olhar. Foi então que percebeu: ele não era apenas um soldado, um homem da selva. Ele era um elo entre dois mundos, e agora ela fazia parte desse universo. Uma nova jornada começava ali, entrelaçada com as raízes de uma cultura que ela m*l conhecia, mas que já começava a admirar profundamente. Assim que terminam o ritual as mulheres gritam e aplaudem Fiorela que estava sentada no circulo. A mãe de Kenai se aproxima lhe estendendo a mão. — Assim que pegar a mão dela, você será uma de nós, e será respeitada entre eles como a minha mulher. — Explica Kenai sem conseguir esconder a alegria em seu rosto. Fiorela olha nos olhos escuros da mulher a sua frente com um pouco de receio, mas ela tinha uma aparência tranquila e um sorriso tímido no rosto enquanto esperava a reação dela. Lentamente Fiorela estica a mão aceitando o seu destino no mio daquele povo que era tão diferente da sua cultura. — Minha filha. — Diz a mulher antes de a puxar para seus braços a abraçando forte enquanto cantava uma canção que enchia o peito de Fiorela de paz. — Ela cuidará bem de você, a minha mãe é uma mulher maravilhosa. — Diz Kenai a puxando para si enchendo o seu rosto de beijos enquanto ela reclamava em sua língua nativa. — Menino atrevido. — Diz ela lhe dando um tapa em seu braço. — Doeu maya.— Diz ele acariciando o seu braço. — Não faça isso, ela pensará que é fraco e o trocará por um guerreiro mais forte. — Diz a sua mãe séria. — Não maya, ela é minha. — Responde puxando Fiorela para seus braços. — Ouça a sua mãe, quero apenas o seu bem. — Diz ela o repreendendo. Fiorela achava aquilo engraçado, ela não havia tido aquilo. O seu velho pai tinha feito o que pode por ela antes de sucumbir e ela tinha caminhado só desde então. Naquele momento ela se sentia bem ao ter aquele tipo de carinho. — Tudo bem. — Diz ele soltando Fiorela e lhe dando um beijo na bochecha. — Preciso ir, tenho servição, cuidem bem dela. — É minha filha agora, é claro que cuidarei bem dela. — Diz a sua mãe o repreendendo. Kenai apenas se aproxima e enche o seu rosto de beijo antes de sair pela porta. — Você tem sorte Araci, o seu membyra te ama muito. — Diz uma das mulheres assim que Kenai sai. — Os deuses foram bons comigo. — Diz ela antes de voltar a sua atenção para Fiorela. — Me desculpe criança não me apresentei quando cheguei. Eu sou Araci, mãe de Kenai, e sua mãe agora. — Mãe? — Pergunta ela. — Sim, maya, a sua maya. — Diz uma das mulheres. — Não se preocupe Iara, ela terá tempo para aprender, vamos ensiná-la. — Diz Araci animada. Fiorela olhava a interação entre elas com um novo brilho nos olhos. Ela havia aceitado ir com Kenai com medo da morte e do que eles poderiam fazer a ela, mas estava ganhando bem mais doo que pensou que teria. Fiorela havia ganhado uma família.
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