A semana de Isabel tinha se passado de forma lenta e angustiante. A cada instante em que se imaginava conversando com Max, o seu peito se agitava. Ela não sabia o que ele diria, mas, conhecendo-o como conhecia, não desistiria dele. Max era o amor da sua vida, e ela jamais permitiria que ele se afastasse. Se ele não a amasse, ela o perseguiria até fazê-lo se apaixonar por ela.
— Posso saber o motivo do sorriso de minha princesa? — perguntou Vito, entrando na sala de jantar e vendo Isabel à mesa.
— Em breve saberá, papai — respondeu ela, sorrindo.
— Espero que seja uma notícia boa — disse ele, ocupando o seu lugar.
— É sim — afirmou ela tranquilamente. — Queria te pedir algo.
Vito levantou o rosto do prato e olhou para a filha. Amava o jeito como Isabel falava com ele.
— Qualquer coisa para você, meu amor — respondeu.
— Queria passar alguns dias com a minha irmã.
Aquilo era corriqueiro para Vito. Sempre que Isabel se sentia só, passava alguns dias com Estela, alegando que sentia falta de sua "cara-metade".
— Você tem as suas lições, lembra? — disse ele, arqueando a sobrancelha.
— Posso estudar mais quando retornar. Por favor, papai — pediu ela, com os olhos brilhando.
Vito suspirou. Sabia que não negaria aquele pedido à filha. Isabel sempre conseguia o que queria sem muito esforço.
— Tudo bem. Vou pedir ao piloto para se preparar, mas me prometa que ficará lá até o nosso encontro — disse ele, lembrando-a do compromisso mensal que tinha com a Fênix.
— Obrigada, papai! — exclamou ela, levantando-se e enchendo as bochechas do pai de beijos, fazendo-o rir. — Vou fazer como desejar.
Enquanto conversavam, ouviu-se um som de vozes. Vito se levantou, os olhos em brasa, fixando-os na pessoa que ousava interromper o seu momento com a filha.
— Como se atreve a entrar em minha casa assim?! — esbravejou ele, fulminando o homem com o olhar.
— Me desculpe, Don. Eu tentei contê-lo — disse a governanta da casa.
— Está tudo bem, Lúcia. Eu cuido disso — respondeu ele, deixando-a aliviada.
Isabel olhava com desgosto para o homem à sua frente. Não gostava da forma como ele a encarava, sem o menor respeito pelo local em que estava, tampouco por ela.
— Precisamos resolver algo, Vito. Não podemos esperar mais — insistiu o homem, desviando o olhar de Isabel para Vito.
— Tudo bem. Vamos ao meu escritório — disse Vito, suspirando.
Aquilo surpreendeu Isabel. Ela encarou o pai com um olhar questionador.
— Papai...
— Depois conversamos, querida — disse ele, beijando a sua testa antes de seguir para o escritório com o homem atrás dele.
Assim que a porta se fechou, Vito virou-se abruptamente e agarrou o homem pela garganta, apertando-a com força.
O outro o olhava em choque, sem acreditar no que estava acontecendo. Sentia o ar faltando nos seus pulmões diante da pressão exercida por Vito.
— Escute aqui, seu maldito! Não pense que não vou te matar por essa ousadia! Aqui é minha casa, e aquela sentada à mesa é minha filha! E, acredite, ela não se importaria de ver a sua morte — rosnou Vito, tentando se conter.
Mas era como se as pessoas o provocassem de propósito. Sabiam do seu gênio forte, mas ainda assim insistiam em pisar em seu calo.
— Me... me... desculpe... — balbuciou o homem, com dificuldade.
Vito apertou ainda mais o pescoço do sujeito e, quando ele já estava ficando roxo, soltou-o com um empurrão contra a parede.
— Espero que se lembre de com quem está lidando, Saulo. Não sou como a ralé que vive implorando aos seus pés. Seria bom que se lembrasse disso antes de entrar na minha casa da forma que fez — disse Vito, sentando-se em sua cadeira e observando o homem recuperar-se.
— Isso não voltará a acontecer. Mas temos assuntos a tratar — disse Saulo, massageando o pescoço enquanto se sentava na cadeira em frente a Vito.
— Imagino que a minha filha seja o assunto — retrucou Vito, cerrando o maxilar.
— Sim. Você sabe que precisa nos dar uma resposta, Vito. Está nas regras da máfia. A sua filha deve ser dada a um aliado em casamento, assim como as nossas — declarou Saulo.
Vito olhou para ele com profundo desgosto. Saulo o tomava por t**o. Ele sabia que o único interesse do homem naquele casamento era a influência que ganharia através de Isabel e a sua conexão com a Fênix.
— Me prometeram um tempo — argumentou Vito.
— Sim, mas esse tempo acabou. A sua filha já está passando da idade de se casar, enquanto há vários pretendentes que desejam desposá-la — disse Saulo.
A forma como ele falava apenas aumentava a vontade de Vito de matá-lo. A sua filha não era uma mercadoria. E, antes que tivesse que entregá-la a qualquer homem por causa de uma aliança, ele preferia a guerra.
— Minha filha tem sonhos. Deseja estudar. Não quero que se case com alguém que a restringirá de tudo isso — afirmou Vito, tentando desviar o assunto.
— Aí é que está. O meu filho está disposto a se casar com a sua filha... nos seus termos, é claro.
Aquelas palavras surpreenderam Vito. Ele olhou para Saulo com desconfiança, sem entender o que o homem queria.
— Como assim? — perguntou.
— É simples. Você sabe que o nosso interesse nesse casamento é meramente comercial. Se você concordar, faremos um contrato com todas as condições que desejar para sua filha, incluindo a garantia de que ela continuará a estudar. O documento será assinado na presença do conselho, garantindo a sua legitimidade. Assim, você terá a certeza de que cumpriremos o combinado.
Vito não podia negar que a proposta era boa. Ninguém havia lhe oferecido algo assim em troca de sua filha.
— Não sei... Gosto de ter Isabel por perto — disse ele, coçando a barba.
Na verdade, queria ver até onde Saulo iria por sua filha.
— Podemos incluir no acordo que ela continuará morando aqui, na Itália, em um local onde você poderá vê-la sempre que quiser.
Desespero.
Era isso que Vito via nos olhos do homem à sua frente.
E aquilo o fazia pensar que algo estava acontecendo, algo que ele ainda não sabia... mas que Saulo precisava resolver desesperadamente.