O silêncio enchia o lugar. Max olhava para Vito com a mesma expressão de antes, sem vacilar por nenhum momento. Ele sentia a sua barriga queimar no lugar onde Vito o havia acertado, mas não fez nenhum movimento para impedi-lo. Merecia aquilo por ter falado aquelas coisas para ele. Algo que Max havia aprendido era que não se mexia com os fantasmas dos homens, e era isso que ele tinha feito com Vito minutos atrás.
A porta do escritório se abre com tudo, e o ambiente se enche dos membros da Fênix.
— Merda, Vito! O que pensa que está fazendo? — diz Ricardo, aproximando-se deles e afastando Vito de Max.
Vito olhava para suas mãos cobertas de sangue, voltando a si lentamente. Quando percebe o que fez, se assusta ao olhar novamente para suas mãos, com o sangue quente de Max manchando os seus dedos. Assim que encara os olhos de Max, ele não enxerga raiva ou ódio como imaginava. Havia apenas uma aceitação muda e nada mais.
— Eu... eu... — começa ele, mas as palavras fugiam de sua boca, algo que nunca tinha acontecido.
— Precisamos de um médico — diz Yuri, já saindo pela porta do escritório com pressa.
— Don! — grita Kenai, entrando rapidamente no escritório e analisando o que tinha acontecido. — Quem ousou fazer isso? Quem está pagando um convite amigo com traição?!
As palavras de Kenai apenas faziam Vito se sentir ainda mais perdido. Será que ele tinha mesmo feito aquilo? Pago um convite para uma aliança com traição?
— Você! Foi você que tentou matar o nosso Don! — Aquela acusação tinha um peso diferente para Vito, e ele se sentiu, pela primeira vez na vida, acuado e sem reação.
— Deixe ele, Kenai. Isso é assunto nosso, não tem nada a ver com as nossas organizações — diz Max de forma tranquila.
— Mas, Don, você está ferido — diz ele, preocupado.
— Meu Deus, Max! — diz Klaus, entrando desesperado. Klaus pega Max nos braços e o ajuda a se sentar no sofá que havia ali.
— Eu estou bem, isso não é nada.
— Acho que você não viu o estrago ainda — diz Klaus, mas Max não ouve direito. Ele sente a suas vistas ficarem turvas e se entrega à escuridão.
— Droga, onde está o médico? — diz Hideo, saindo atrás de Yuri, que havia ido buscar o médico.
Vito via a bagunça no escritório sem realmente entender o que estava acontecendo. Ele sente quando alguém o puxa para o lado e o senta em uma cadeira. O resto era apenas um borrão em sua memória, a sua mente estava uma bagunça e ele se sentia estranho com o que tinha feito.
O médico chega, e rapidamente eles levam Max para o seu quarto de forma discreta, sem chamar a atenção dos outros. A maioria dos convidados já tinha ido embora, mas ainda havia alguns que ficaram para se conhecer melhor. Eles queriam evitar uma cena e sabiam que o que Vito tinha feito, pelas leis da máfia, era punido com a morte. Ele havia atacado o seu anfitrião, e aquilo não era visto de forma positiva pelos outros. Apenas uma pessoa sem honra atacava alguém que não se defendia.
— O senhor Valentine está bem. Ele perdeu muito sangue e, por isso, estava inconsciente, mas vai ficar bem — diz o médico, mais aliviado.
— Isso nos deixa mais tranquilos, doutor — diz Ricardo, suspirando aliviado.
— Lembre-se de que nada do que aconteceu aqui deve sair deste quarto, doutor. O nosso Don lidará com isso quando despertar — diz Kenai, com uma ameaça silenciosa nos olhos.
— Manterei a discrição, Kenai — diz o médico.
— Bom, você passará a noite aqui hoje para garantir que nada aconteça a ele — insiste Kenai. Ele estava muito preocupado com Max, e vê-lo ferido daquela forma foi algo que não esperava. Com o tempo, havia se apegado a ele e não queria perdê-lo.
— Não se preocupe, Kenai, cuidarei bem dele — diz o médico antes de sair.
— Sei que está chateado, Kenai, mas vamos conversar com o Max primeiro antes de tomar qualquer decisão — diz Ricardo, olhando para Kenai com seriedade.
— Eu não sei o que aconteceu, mas isso foi uma prova de que não podemos confiar em alguns por aqui. Abrimos as portas de nossa organização, o Don os recebeu como irmãos para que o tratassem desta forma — diz ele, olhando para cada um deles com olhos sombrios.
— Isso não tem a ver com as nossas organizações, Kenai. É algo pessoal do seu Don — insiste Ricardo.
— E por isso vocês poderão levar aquele traidor — diz Kenai, cuspindo no chão ao se referir a Vito. — Não importa as suas divergências, não se ataca um aliado em sua casa.
Ninguém tinha palavras para refutar Kenai. Sabiam que, em parte, ele estava certo, e o fato de Max não ter impedido Vito apenas mostrava que ele não desejava uma briga com ele. Teriam que esperar para ver o que iriam fazer.
— Não tem o que temer de nós, Kenai. Somos amigos e resolveremos isso como família — diz Yuri.
— c*****o, Ricardo, o seu sogro é terrível. Ainda bem que não sou você — diz Aurélio, rindo do que tinha acontecido.
— Fala sério, Aurélio, não é hora para isso — diz Hideo, chateado.
— Não tem hora para mim, j**a, eu apenas disse a verdade. Vocês pensaram que o velho Romano não estava vendo nada, mas ele estava, e olha o que aconteceu — diz ele, arqueando a sobrancelha.
— Isso não ajuda muito, Aurélio — diz Klaus.
— E onde ele está agora? — pergunta Xavier.
— Nerone está com ele no quarto. Achamos melhor garantir que ninguém tentaria matá-lo pelo que fez — diz Aurélio, dando de ombros.
— Então, só nos resta esperar que Max acorde e resolva tudo isso — diz Ricardo com um suspiro. Ele havia pensado que teriam uma festa tranquila de apresentação de Max, mas, em vez disso, ele tinha sido esfaqueado por seu futuro sogro.