Vito estava mais calmo do que antes. Agora, conseguia ver que quase tinha cometido um erro, movido pela raiva que sentia. Ele amava as suas filhas, e ouvir as palavras de Max havia desencadeado o seu pior lado. Mas, mesmo assim, precisava admitir que ele estava certo. Amava a mãe das suas filhas, mas havia ficado preso a velhas leis da máfia e a deixado definhar até morrer. Por causa disso, quase perdeu as suas filhas.
Aquilo doía, e muito. Saber que as palavras de Max eram verdadeiras e que aquilo sempre martelava na sua mente o desestabilizou, quase custando a vida de um dos seus amigos. Estar arrependido do que fez não significava que havia perdoado Max por sua insolência. Aquilo não seria esquecido facilmente, mas precisava admitir que o homem tinha coragem. Ele o enfrentou sem medo das consequências.
Vito suspirou, massageando os olhos. Não adiantava ficar remoendo aquela história. O que estava feito, estava feito, e não havia como voltar atrás.
— Não precisa me vigiar, garoto. Não vou fugir — disse Vito a Nerone sem olhar para ele, mas podia sentir o olhar do menino sobre si.
— Não estou te vigiando, estou cuidando da sua segurança — respondeu Nerone com a voz tranquila.
Vito olhou para Nerone e encontrou o seu rosto sereno. Ele se mantinha atento, no seu lugar, como se nada de mais tivesse acontecido — e, para ele, realmente não tinha. Vito sabia que nada assustava o menino à sua frente. Nerone era um sobrevivente, e o que havia acontecido para ele era apenas rotina.
— Deve pensar que sou louco — disse Vito após um longo silêncio.
— Não, apenas acho que agiu de forma precipitada. Mas não o julgo. Não sei dizer se não faria o mesmo ou pior, caso fosse minha filha.
Aquelas palavras chamaram a atenção de Vito, que encarou os olhos azuis de Nerone com interesse. Mas, como sempre, a expressão dele não deixava nada transparecer.
— Só desejo o que é melhor para ela — disse ele com um suspiro. — Não quero que tenha o mesmo destino da mãe e não suportaria se alguém a maltratasse.
Vito tinha muitos medos enraizados no coração, e o maior deles era ver a suas filhas sofrerem. Ele estava bem com o casamento de Estela e Ricardo, pois sabia que o líder da Fênix fazia de tudo para fazê-la feliz. Mesmo assim, ainda ficava sempre por perto, verificando se ela estava bem. Mas Isabel era diferente. A sua filha nunca havia demonstrado interesse em outros homens, e ele não desejava vê-la infeliz em um casamento arranjado dentro da máfia.
— Nunca saberá se não a deixar tentar. Vivi a maior parte da minha vida preso, sem ter escolhas ou opções, mas sei o que quero e desejo. Tenho certeza de que a sua filha também. Não a subestime apenas porque nunca falou com você sobre isso. Se tem algo que aprendi com a minha cunhada, é que o coração das mulheres é imprevisível.
As palavras de Nerone deixaram Vito surpreso, e ele olhou para o menino com intensidade. Nerone faria vinte anos em breve, mas a forma como evoluiu desde que foi resgatado era surpreendente. Ele não esperava ouvir conselhos de um garoto.
— Quem é você, garoto? E o que fez com o Nerone? — perguntou Vito, brincando.
Nerone não respondeu. Apenas desviou o olhar. Não gostava de falar sobre a sua vida e só havia dito aquilo porque percebeu que Vito precisava ouvir. O mudo de Nerone era escuro e os seus poucos pensamentos raramente eram externado, mas ao ver Vito tão aflito ele sentiu a necessidade de abrir a sua mente para i que estava a sua frente e ele não via, ele podia negar, mas Nerone já tinha visto várias vezes os olhares entre Max e Isabel, apenas ele não desejava enxergar.
O silêncio encheu o quarto novamente, e Vito apenas se permitiu pensar nas palavras de Nerone. Ele realmente nunca tinha tido aquele tipo de conversa com a sua filha, e agora a incerteza o tomava ao perceber que não sabia verdadeiramente o que ela sentia pelo homem no quarto ao lado. Nas vezes em que observava Max, nunca tinha se atentado à sua filha, e agora se arrependia disso.
Alguns minutos depois, a porta do quarto se abriu e Ricardo e os outros entraram.
— Nossa, galera, que cara de velório — disse Aurélio, se jogando na cama sem cerimônia.
— Você não tem jeito, Aurélio — disse Hideo, sentando-se ao lado dele.
— Como ele está? — perguntou Vito.
— Vai viver, Vito. O ferimento dele foi profundo e ele perdeu bastante sangue, mas vai ficar bem — respondeu Ricardo.
Vito apenas assentiu, sem querer se aprofundar naquele assunto.
— Pode nos dizer o que deu em você, Vito? Vimos quando saiu para conversar com ele. Se soubéssemos que terminaria assim, não teríamos permitido.
— Apenas conversamos — respondeu ele.
— Se essa é sua conversa, me lembre de ficar longe de você — disse Aurélio, rindo.
— Não vou falar sobre isso — disse Vito. Ele não queria relembrar as palavras cruéis que havia ouvido. Ainda não estava pronto para aquilo.
— Tudo bem, Vito, mas seja o que for, vocês precisam resolver isso. As coisas estão tensas — disse Ricardo. Ele queria evitar uma possível guerra, ainda mais porque gostava tanto de Vito quanto de Max. Se eles entrassem em uma disputa, não tomaria partido entre os dois.
— Farei isso — respondeu Vito.
— Sei que quer proteger Isabel, Vito, mas precisa deixá-la fazer as suas escolhas. Você sempre será o pai dela, e ela sempre te amará. Não faça coisas das quais pode se arrepender depois — disse Xavier com tranquilidade.
— Ela é minha filha. Sei o que é melhor para ela.
— Será que sabe mesmo? Isabel é uma mulher adulta. Precisa respeitar as escolhas dela — disse Yuri.
— O que houve com vocês? Por que estão me dizendo essas coisas? — perguntou Vito, frustrado.
— Porque nós sabemos. Sabemos que Max ama a sua filha há anos — disse Klaus, deixando Vito surpreso.