Vito observava a sua filha com um misto de emoção. Ele não via mais a menina que havia chegado à sua casa, frágil e fraca, que olhava para tudo com olhos assustados. Ele via a mulher na qual ela tinha se transformado ao longo daqueles anos com ele e como parecia mais firme nas decisões que tomava.
Isabel não estava com medo, e Vito podia ver isso em seus lindos olhos azuis. Algo em sua filha tinha mudado desde a conversa que haviam tido. Ele percebia como ela estava firme ao seu lado, as suas mãos não tremiam e ela não transpirava. Os seus olhos carregavam a mesma sombra que havia nos dele quando desejava fazer algo, e aquilo fazia um arrepio percorrer a sua espinha.
Vito não sabia bem o que pensar sobre tudo o que estava acontecendo. O telefone de Cristiano, que Isabel tinha pego, havia se provado inútil, e aquilo o tinha frustrado bastante. Ele estava perto de descobrir o que eles realmente desejavam e garantiria que a sua filha tivesse a sua felicidade no processo. Ele devia isso a ela.
— Você não parece nervosa, querida — diz ele, segurando com força suas mãos delicadas, um contraste com as dele, que já estavam calejadas.
— E não estou, papai — diz ela e, então, se vira para ele. — Sabe por quê?
Isabel faz a pergunta com um sorriso no rosto enquanto observa o seu pai.
— Não, querida — responde Vito.
— Porque você disse que ficaria tudo bem, e eu confio em você, papai — responde ela com um sorriso no rosto.
As palavras de Isabel fazem um nó se formar na garganta de Vito. Ele estava recebendo algo que jamais pensou que teria depois do que havia feito, mas ali estava a sua pequena princesa lhe mostrando o contrário. Ele honraria a sua confiança com todas as suas forças.
— E vou cumprir, querida. Você é a luz da minha vida, e o meu dever como pai é garantir que você seja feliz, não importa o quanto eu deseje matar a pessoa que terá o seu coração.
— Papai! — diz ela, lhe dando um tapinha no braço. Isabel se inclina e lhe dá um beijo na bochecha, apoiando-se no peito do pai. — Te amo, Don Vito Romano. Não importa que ameace a pessoa que tenha o meu coração, você sempre terá o maior espaço dentro dele.
— Oh, querida! — diz ele, puxando-a mais para seus braços, tentando evitar que as lágrimas que se formavam nos seus olhos caíssem. — Também a amo, mais do que a mim mesmo. Você e a sua irmã são o melhor da minha vida.
Vito aproveita aquele tempo com a sua filha. Ele queria guardar em sua memória cada pequeno detalhe de Isabel, sua doçura e sensibilidade, e o carinho com que ela o tratava. Ele teria que aprender a dividir a sua filha depois daquele dia, o que seria difícil, mas ele tentaria a todo custo não matar o seu genro.
O carro cruzava a cidade de forma lenta até o salão de festas onde aconteceria o casamento. Vito tinha convidado poucas pessoas, já que aquela cerimônia não significava nada para ele e a sua filha. Os seus amigos estariam todos lá e, com eles, um grande número de soldados para garantir que Isabel deixasse aquele lugar em segurança.
Aquela era a decisão mais difícil da vida de Vito, e pensar nela fazia o seu coração doer, mas ele jamais se perdoaria se não a tomasse. Olhar para o rosto da sua filha, tão tranquilo, descansando no seu peito, apenas reforçava a decisão que estava tomando.
Isabel havia passado por muitas coisas, e ele queria que a sua filha tivesse tudo o que desejasse como uma forma de compensar por tudo. Ele ainda se preocupava que a sua doença pudesse retornar, apesar de o médico ter lhe garantido que isso não aconteceria. Ele era um pai cuidadoso e sempre a levava ao médico para exames periódicos e esperava que o seu marido fizesse o mesmo e mais por seu pequeno anjo.
Vito carregava em seu peito uma grande perda e culpa ao saber como haviam sido os últimos anos de vida da mãe de suas filhas. Nada jamais seria demais para ele quando se tratava delas, uma forma de fazer o seu verdadeiro amor descansar em paz, sabendo que ele estava cumprindo o seu papel de pai e cuidando das suas meninas.
Todos os dias, Vito se lamentava e rezava para que, onde quer que o seu verdadeiro amor estivesse, ela o perdoasse por sua covardia. Talvez aquele fosse o verdadeiro motivo para que ele nunca tivesse procurado um novo amor. No seu coração, ele não desejava destruir mais uma vida com as suas atitudes e havia decidido viver para suas filhas e netos, garantindo que ninguém jamais tocaria em seus presentes preciosos.
Quando o carro para em frente ao salão, ele suspira, olhando para sua filha tranquila em seus braços. Ele gostava de saber que ela confiava nele, que se sentia segura com a sua presença.
— Chegamos — diz ele com um suspiro. Isabel se afasta dele, ajeitando o seu vestido.
— Está na hora de começarmos com isso — diz ela em tom decidido, surpreendendo-o mais uma vez.
Assim que Vito sai, ele se surpreende com a quantidade de soldados à sua volta. Ele havia pedido reforços, mas não imaginava que os seus amigos trariam mais do que ele havia solicitado. Aquilo era bom; se tudo desse certo, eles realmente iriam precisar.
— Por que todos esses soldados, papai? — pergunta Isabel ao descer do carro.
— Segurança, querida. Te prometi que estaria segura e vou cumprir com a minha palavra — diz ele, apenas dando um tapinha em sua mão.
Vito toma um grande suspiro antes de pegar a sua filha e se posicionar na porta do salão. Ao longe, ele ouve a marcha nupcial tocar, anunciando a entrada da noiva, mas, para Vito, aquilo era apenas um prelúdio do que aconteceria em breve.