O que compensava todo o estresse de ficar o dia inteiro em uma mesa no canto da sala de Chase, era o bom salário que ela iria receber no fim do mês. Enquanto ela marcava horários e lia fichas criminais dos próximos casos que Chase iria assumir, ele possuía em mãos um caderno de couro e anotava com com concentração algo nas páginas em branco. Parecia estressante o que ele fazia e o cenho franzido e ombros tensos eram prova disso.
Com um suspiro cansado, Chase deixou a caneta de lado e abriu a gaveta com cuidado para não fazer barulho, tirando de lá uma caixa de veludo e segurou uma arma dourada, brilhante como ouro, possivelmente era ouro, e alisou ela com fascinação. Amelia observava ele em silêncio de seu canto da sala, então quando Chase percebeu a olhou. Sem fazer movimentos bruscos, Amelia voltou o olhar para a sua mesa rapidamente e disfarçou.
Chase manteu o olhar por mais alguns segundos. Ela era diferente das outras só pelo olhar, ele sabia. Enquanto as outras mantinham um olhar de pavor, Amelia exibia um olhar calmo e curioso, o que atraia dúvidas para Chase. Ela não tinha medo dele.
— Estou faminto — ele anunciou, quebrando o silêncio da sala.
Amelia finalmente ergueu os olhos e olhou para ele, tentando não focar na arma em suas mãos.
— Eu posso ir comprar alguma coisa para você — ela sugeriu. — Na verdade, eu queria mesmo alongar as pernas.
Chase guardou a arma na caixa de veludo novamente e se levantou, puxando o terno de cima da cadeira.
— Nada disso, eu odeio comidas resfriadas — ele falou. — Venha, vamos a um restaurante aqui do lado.
Amelia pegou suas coisas e foi com ele, fechando a porta atrás de si. O lugar em que o grande escritório Albretch era localizado era um dos melhores da cidade, com vários comércios e pontos de referência. Eles nem precisaram andar muito e entraram em um restaurante, sentando em uma mesa dos fundos.
— Eu quero um filé mignon m*l passado e uma garrafa de vinho tinto — ele disse para o garçom, então olhou para Amelia e esperou.
Ela olhou para o cardápio e franziu o cenho, deixando-o sobre a mesa e se voltando para o garçom com um sorriso:
— Eu quero um hambúrguer — ela respondeu simplesmente.
— Hambúrguer? — Chase ergueu as sobrancelhas com espanto.
— O que tem? — Ela parou de sorrir.
— Estamos em um restaurante chique e hambúrguer é comida de adolescente.
— Não tem hambúrguer aqui? — Ela perguntou ao garçom.
— Temos, mas nunca são pedidos — ele respondeu.
— Então, eu quero um hambúrguer, obrigado.
Assim que o garçom saiu, Chase a olhou como se ela fosse uma criatura de duas cabeças. Amelia cruzou os braços e exigiu uma resposta com o olhar.
— Nada. — Ele deu de ombros. — Só estou surpreso que com 22 anos ainda coma esse tipo de coisa.
— Como assim? É a melhor comida do mundo, todo mundo come hambúrguer.
— Eu não. — Ele negou com o nariz franzido. — Não como carboidratos e gordura saturada há anos.
— É por isso que está desse jeito — ela disse com voz baixa, para si mesma.
— O quê?
— Nada.
— Você disse algo.
— Eu só quis dizer que vive estressado porque não aproveita as coisas boas da vida.
— Eu aproveito, sim.
— Não mesmo.
— Então me diga uma coisa boa a se fazer.
— Eu não sei, você é rico, tem o mundo aos seus pés. Você pode fazer uma tatuagem, uma viagem, comer carboidratos ou só passar o dia em uma casa de praia e ver o pôr do sol.
Chase ficou em silêncio e pensou naquelas coisas.
— Eu tenho uma tatuagem — ele revelou. — É uma rosa, no peito.
— Por que uma rosa? Você faz o tipo que tatua caveiras.
— Há dois anos eu levei um tiro — explicou. — A polícia disse que era uma bala perdida, mas eu sabia que ela tinha dono.
— Eu lembro, passou em todos os noticiários. Você ficou entre a vida e a morte, não é?
— É, ainda há fragmentos da bala perto do coração. A rosa serviu para tampar a cicatriz e também significa vida, ela floresceu.
— Nossa. — Amelia soltou o ar com surpresa. — Eu não imaginava, isso é lindo.
Chase não respondeu, apenas concordou com a cabeca. Aquilo era algo que ele nunca havia contado a ninguém e não sabia porquê já havia contado a Amelia.
Os pratos chegaram minutos depois e os dois ficaram em completo silêncio enquanto comiam, com receio para falar qualquer coisa depois da curta conversa que tiveram.
Chase olhava para o prato de Amelia e resistia a tentação de roubar uma batatinha frita.
— Quer uma, né? — Ela questionou, olhando para ele.
— Não.
— Você quer, está quase babando.
— Só uma.
Amelia estendeu o prato para ele e Chase pegou uma batatinha, fechando os olhos ao mastigar. Ele nem lembrava qual era o gosto.
— Um pedaço do hambúrguer? — Ela sugeriu.
— Não, já deu.
— Você parece louco por isso.
Chase não queria, mas Amelia insistia com um sorriso e ele teve que morder o hambúrguer que ela segurava. Se ele já havia falado m*l de hambúrguer alguma vez, não lembrava.
— Retira o que disse — ela falou com uma risada ao ver a cara dele.
— Eu retiro. — Ele soltou uma risada. — Eu até tinha esquecido o gosto.
— É o que eu digo — ela falou —, nós vamos morrer algum dia, pode ser a qualquer momento, é ridículo deixar de comer o que gosta por medo de engordar ou deixar de fazer as coisas por medo do que vão pensar.
— Tem razão — ele concordou. — Não deveria ser advogada e sim coach motivacional?
— Aí, eu sei. Me formei em psicologia com a vida, trabalho nessa área também.
— Vou precisar de algumas sessões.
— Para você, eu cobro caro, já aviso.
— De jeito nenhum! — Soltou uma risada. — Por quê?
— Você é rico, pode pagar.
— Vou correr atrás dos meus direitos de cidadão.
— Você é o melhor advogado da cidade, tente me vencer.
Chase soltou uma risada e Amelia acompanhou ele, balançando a cabeça negativamente.