CAPÍTULO 1

1838 Words
Se eu fosse fazer um resumo da minha vida nos últimos tempos, bem, vejamos bem o que vamos rever até aqui. Eu namorava um cara e estava noiva, quatro fodidos anos de relacionamento, prestes a casar, prestes a ter uma família. Mas descobri que ele me traia com a minha melhor amiga. Eu fiquei acabada, eu me dei pra relação acontecer, mas eu entendi que as vezes não é pra ser. Aceitei isso, mesmo com a dor e a cabeça a mil. Então conheci ele. O tipo de cara reservado é que não fala tanto de si mesmo, o tipo de cara que encara as coisas mais firme. O cara que evitou que eu caísse de uma baqueta de um bar no centro da cidade, pouco tempo depois da minha desilusão enorme. Que me levou pra casa e me ajudou, depois daquilo acho que foi muito rápido, a intensidade, o s**o gostoso e a forma que ele me ganhou em três encontros. Até parecia que eu vivi em um daqueles filmes de começo de tarde, literalmente. Scott era o cara mais incrível que eu havia conhecido como homem, ele era bom, bom demais na verdade. Mas a vida dele não era bem organizada. Ele tinha um filho e uma ex-mulher, uma que inferniza a vida dele e tentou infernizar a minha, tendo Scott que tomar uma decisão pro "bem de todos", terminado comigo e indo embora Aquilo também doeu, mas eu aceitei. Mas oito meses depois eu me vejo grávida de um filho dele, um que ele não sabia da existência até um tempo atrás, até me mandar um e-mail urgente e mostrando sua opinião sobre a minha postura e minha atitude. Scott era um i****a. Podia ser um pai maravilhoso. Mas entendem que ele preferiu terminar do que bater de frente com uma ex-mulher, que tinha a capacidade de usar o filho pra atingir ele e conseguir o que queria? Como alguém usa uma criança dentro de uma guerra? Agora ele sabia da gravidez. Eu estava agora andando de um lado para o outro, com a barriga grande, evidenciando o que preferi esconder dele, mas que ele agora sabe e eu não faço ideia de como vai ser. Scott tinha Theo, um garoto incrível. Em um momento eu até pensei em como ele iria gostar de ter um irmão ou irmã. O garoto não tinha culpa de onde ele havia nascido, pelo contrário, só havia alguém muito egoísta que queria mais do que podia e tinha caráter zero pra ir atrás disso. Scott tinha uma cicatriz que indicava o a***o, bem na face dele, talvez o nosso maior vilão, durante o tempo que ficamos juntos, foi isso, não foi nem a gente e nossos jeitos e personalidade. Foi uma mulher. Scott já havia sido traído, machucado e havia passado por coisas ruins durante a vida inteira até conseguir ser quem é, ele não é peixe pequeno. Eu também era uma Keller, não precisaria dele pra nada, mas Scott é paterno, a partir do momento que recebi a mensagem eu espero ele, espero ele aparecer com aquele jeito todo. - Você não pode se culpar, Ranya, você fez o que achava melhor. Balanço a cabeça. Olho para o telefone. Eu não mudei de endereço, então posso afirmar que a mensagem de: estou na cidade. Bem, era na verdade, um aviso que estava chegando, chegando aqui. Olho para o quarto do bebê. Branco e vermelho, tudo feito e organizado, com apenas alguns detalhes pra arrumar, olho até pra minha barriga e me lembro de cada coisinha até ali, acaricio e dou um sorriso. - Mamãe está feliz por você está aí dentro, se ele aparecer não fique agitada, vai dar tudo certo Ana, pode anotar isso - Olho para o berço. - Eu só quero ficar bem e criar você, você tem uma família já, uma que ama você como ninguém. Falo e escuto o barulho da porta, meu coração pula dentro do peito e eu fico parada, da pra ver a agitação passando por cada pedaço meu, da pra sentir. - Vamos Ranya, você já passou por coisas ruins, vai ter que encarar ele - Eu me mexo, coloco um casaco e me mexo, quando paro na porta vejo o barulho surgir, suspiro fundo e então abro. Meu mudo todinho para quando olho para ele. Oito meses sem ver ele, oitos fodidos meses que senti falta. O rosto bonito de capa de revista, com a cicatriz, uma linha da sobrancelha até a bochecha, de alguns centímetros visíveis. A boca carnuda, os cabelos negros bagunçado e os olhos tão marcante como a noite lá fora. Estava usando um sobretudo, mas dava pra ver o tamanho todo parado na minha frente. Scott me encarou nos olhos, no fundo deles, de uma forma que eu fiquei sem saber como reagir ou o que eu devia falar, ele ainda estava igual antes, não tinha mudado nada, nem a forma absurda de conseguir encarar uma pessoa tão firme. Céus, ainda era bonito como inferno. Eu devia estar com o rosto mais arredondado e com algum adicional de peso, com o tempo a gente se acostuma, mas sente falta do antigo você. - Ranya - Sinto um arrepio atravessar da ponta do meu pé até meu último fio de cabelo, os olhos dele deslizam pra baixo, bem na minha barriga redonda, coberta por o tecido de um vestido, um tipo de roupa que era mais frequente que nunca. Ele ficou parado por minutos até conseguir se mexer, conseguir deixar de encarar minha barriga e me encarar de volta, dava pra ver a nuvem formada de confusão e até uma desilusão da parte dele. Se eu pudesse eu não gostaria de ver isso, mas eu havia feito uma escolha oito meses atrás e por mim iria continuar, sem me arrepender, mesmo sentindo falta e ainda gostando dele como inferno, lembrado de cada encontro, cada noite, cada momento e cada transa com ele, sabendo que ele era bom. - Você não quer entrar? - Eu - Ele trava. - Primeiramente, eu espero que não brigue ou discuta comigo. Eu não quero isso, não agora. - Você acha que eu discutiria ou iria brigar com você? - Ele se mexe, balança a cabeça de forma negativa e até solta um sorriso irônico. - Do por ter escondido que você estava grávida de um filho meu? - Você está sendo irônico. - Soube da gravidez por terceiros, acho que se não tivessem falado comigo, eu nunca iria saber, não é? Não foi difícil entender o que aconteceu e pensar no que fez comigo. - A intensão não era mesmo falar - Sou sincera, de uma forma que eu até não entendo vindo de mim, mas é uma parte que eu sei que tem, uma magoa talvez. - Fala isso na maior naturalidade do mundo? Sabendo como sou e como fui com Theo, você mais que ninguém sabia, sabia o que eu sentia e como me sentia, sabia o que eu faria, mas você preferiu esconder de mim? - Você estava com problemas mais sérios pra resolver. Eu não queria você perto, aquilo significava ter sua ex-mulher perto, eu não quero aquela mulher perto de mim, me falando as coisas, fazendo pior, porque sim, quando terminou comigo Scott, eu soube que era pra me deixar em paz, por saber das atitudes dela. - Foi pra proteger você e meu filho, duas pessoas que são importante para mim, você não poderia entender as coisas dessa forma? - Não se afasta de quem se gosta pra proteger. Ele ergue a mão passa no rosto, vejo ele se agitar e se mexer, inquieto. - Se eu soubesse que estava grávida, eu não teria deixado você. - Se por mim não bastou pra ficar, por que com uma criança seria diferente? Nesse momento, acho que ele entende o que eu falo, acho que ele percebe o que estou querendo falar sobre a minha atitude, ainda mais ele me conhecendo. - Se você soubesse - Ele balança a cabeça de um lado para o outro. - Quer saber? Eu não vou conversar com você hoje - Antes que eu consiga prever os movimentos dele, ele dá dois passos e fica na minha frente, minha mão que segura a porta aperta a madeira, sinto o perfume bom dele, ele ergue as mãos e segura meu rosto entre elas, sinto meu estômago se revirar e seu que não é um enjoo do bebê. Ana nunca esteve tão bem e tão quieta. - O que está fazendo? - Eu só vi aqui pra ver você e saber se estava bem. Ranya - Sinto a carícia no meu rosto das pontas do dedo dele. - Eu não estou pronto pra conversar. Theo foi para o hotel direito e eu estou aqui, precisava ver você. Estou cansado. Estou exausto e estou chateado. Um lado de mim me trai, aceitando aquilo vindo dele e não me afastando, o outro lado apenas está confortável e satisfeito em ver ele ali, empolgado de alguma forma. A sensação é estranha. Uma luz meio escura bem na minha frente. - Scott - Ele encosta a testa na minha e sinto a respiração dele. - Se afasta, por favor. Ele me encara, nossos olhos centímetros de distância, da pra ver cada detalhe do rosto dele e até o brilho profundo dos olhos dele, da expressão chateada que ele tem naquela momento. - Por que não falou comigo, só preciso saber disso, eu não quero me sentir tão m*l assim. - Eu quis assim, as coisas entre nós acabaram de uma forma não legal. - Foi a forma que usou pra me castigar também? Aquilo me faz erguer as minhas mãos e afastá-lo, ele dá dois passos para trás e me encara agora de longe. - Não, eu não sou assim e você sabe. Só quis paz pra levar a gravidez e criar o bebê, não fiz isso pra castigar ninguém. - Me desculpa. Me desculpa mesmo - Ele olha para o relógio. - Eu preciso ir, eu só precisava ver você. - Você me viu - Minha voz está engasgada, a vontade de chorar vem com força e eu seguro. Não iria chorar. Tinha que se forte. - Eu posso votar depois, Ranya? - Pode Scott, você pode voltar. Ele apenas me olha por mais alguns segundos e se move, não fala mais nada, da as costas, de costas eu sinto a tensão dele, vejo os ombros tensos dele, a forma bagunçado dele, algo que me atravessa. - Uma menina - Falo alto e ele se vira devagar, meu coração se parte quando vejo o brilho nos olhos dele. - Vai se chamar Ana, não é? - Balanço a cabeça. Sinto quando uma lágrima desliza pelo meu rosto, uma só, ergo a mão e limpo, ele ainda dá um sorriso triste. - Eu acho lindo esse nome, Ranya. Ele se vira e vai, eu fico parada, com meu mundo todo agitado. Céus, ele havia voltado.
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