Quando era mais nova, mamãe adorava comprar roupas, era o tipo de programa que eu e ela encaixava perfeitamente, algo que fazia a gente passar um tempo junto. Agora ela está do meu lado, parece que sabe que não estou bem e fica o tempo todo comigo, não solta meu braço e talvez seja uma mãe cuidado de outra.
- Gostou desse? - Pergunto, falando de um par de sapatos pequenos.
- Muito colorido querida, acho que uma cor mais leve e saudável.
- Saudável?
- O bebê não se agita tanto, gosta, mas é mais tranquilo - Olho para o lado e vejo Melina, namorada de Roman-cuidadora da mamãe- parceira.
Bem, meu irmão havia achado a tampa da panela dele, logo ele que achava que era uma frigideira sem tampa.
Talvez esse papel seja meu.
Ainda não havia falado com Scott, depois que ele deu as costas eu sabia que ele levaria um tempo pra processar e eu sabia, no fundo eu sentia que ele iria voltar.
O que era assustador.
Ainda não sabia como me sentia exatamente, eu me sentia péssima e ao mesmo tempo havia uma chama quente dente do meu peito, não tinha um significado e nem algo coerente, apenas sentia, sentia demais, duas vezes mais pela gestação que deixava meus pobres hormônios uma binga.
- Eu estou bem mesmo com esse vestido? - Giro o olhar e encaro mamãe, que desvia atenção e gira.
- Eu achei incrível, mãe - Falo e ela volta para o provador e eu me aproximo de Melina.
- Mamãe adora fazer isso, sabia? Acho que puxei isso dela, mas confesso, no último mês tem sido difícil entrar em uma roupa de antes.
O que não era mentira, meu quadril havia aumentado e minha barriga parecia uma bola.
- Você tem tempo pra recuperar cada uma depois, não se preocupe.
Bem, eu esperava mesmo isso.
Eu estava aprendendo tanto com a gestação, que quando terminasse eu iria ser uma nova Ranya, uma versão que eu esperava ser melhor que a atual, que não sentisse tanto e não se sentisse sozinha.
- Mas as vezes me sinto tão sozinha e tão perdida, sabe? Agora o pai do bebê está mais próximo, mas me vejo tão fácil de ir até ele e dar uns pega nele.
Gargalho alto no meio da loja, não ligando pra numa das moças que olha a cena e ri.
- Pode ser hormônios - Dou um sorriso e coloco a mão na barriga.
Era mesmo por hormônio que eu sentia tanto ou por ainda gostar de Scott como inferno?
No fim eu sabia a reposta, quem eu queria enganar?
- Não, não é, eu gosto dele ainda Melina, gostei de ver ele parado na minha porta. O jeito que me trata e me entendeu quando me conheceu lá no começo de tudo. Eu acabei saído de rota faz tempo, agora vou ser mãe, não esperava não estar casada, acho que no fundo eu queria ter o pai perto sempre. Eu sempre tive o meu.
Me abro com ela, sendo totalmente sincera.
- O que ele acha disso?
- Nada, pra ele eu me afastei e pronto, ele também na época ajudou, não foi atrás e nem nada, ele tinha os motivos dele e eu os meus.
Explico.
- Não acha que talvez da pra resolver?
- Não sei, agora eu sou mãe e vou ter um bebê que vou ter que dividir com alguém que, quando eu vejo, meu coração falta sair pela boca.
Era uma boa coisa de se dizer, penso, vendo ela me olhar com graciosidade, calma e atenção. Tudo que uma grávida admira em alguém pra conversar.
- Com o tempo passa, eu gostei do pai do meu filho Ranya, em algum momento gostei mesmo, mas depois com as atitudes, deixe de sentir aquilo.
- Mas pensa, ele nunca fez nada pra me magoar e se pudesse voltar meses atrás, estaria comigo assim que descobri, isso ficou claro. Isso que bagunça a minha cabeça, o motivo é ao mesmo tempo a saída pra não dar certo, isso é perturbador. Parece que era pra ser e não foi.
Aquilo me dói e sinto os olhos molhados e depois uma lágrima que desce e eu limpo, ainda estava sensível com esse retorno de Scott.
- Com o tempo você supera isso, essa sensação. Em breve você vai ter a sensação mais incrível da sua vida, você vai lembrar dela para o resto da sua vida.
Devia concordar e escutar, ela era mãe de um garoto incrível.
- Não sabe o quanto já sinto isso - Falo e Melina se mexe.
- Me de um segundo? Acabei de ver minha irmã e gostaria de falar com ela.
- Claro, sem problemas - Eu falo e vejo ela sair da loja, observo meu reflexo no espelho quando perco ela de vista e espero mamãe sair do provador.
Pego o telefone e vejo a mensagem que Scott havia me mandado ontem a noite, querendo marcar alguma coisa, que ele estava na cidade e não pensava em sair tão cedo, nem ele é nem Theo, o filho dele.
Em breve ele estaria ainda mais próximo, mesmo não especificando as coisas, eu sabia que ele iria querer estar perto.
Esperava ficar mais que bem nesse tempo.
Mamãe saiu do provador e ergueu o vestido na minha direção.
- Adorei esse - Falou.
- Quer experimentar mais um?
- Não, não quero - Fala, então sei que ela não quer mesmo experimentar nada. Me mexo e quando me viro pra ir até o balcão, fico parada e uma sensação péssima se instala em mim quando vejo uma mulher loira e alta entrar na loja, do tipo que eu conhecia e me embrulha o estômago apenas de olhar.
Minha expressão devia ter mudado e ao encarar Catarina, a ex-mulher de Scott, me lembrei do motivo de ter me afastado dele, da sombra do m*l daquela mulher na vida dele e na do garoto.
Aquela mulher não era limpa e isso fazia ela jogar sujo em qualquer situação, mesmo que essa situação envolvesse uma criança pequena, como foi no nosso último encontro meses atrás.
Ela parou na minha frente e me encarou, cara a cara, até deslizar o olhar pra minha barriga, me fazendo fazer uma prece silenciosa pra afastar qualquer maldade de mim.
- Veja só o que temos aqui, a ex-namorada grávida, só pode ser algum tipo de piada.
- Catarina - Cumprimento e ela da uma risada na minha cara, arruma a bolsa e vejo o tipo burguesa s*******o, com toda banca soberba.
- Você ainda sabe meu nome, isso mostra que você se lembra da última vez que nos encontramos. Sabe, eu não gostei nem um pouco de saber que Scott voltou pra essa cidade de m***a com o "meu filho", ainda mais por sua culpa.
- Que tal você me deixar em paz e sumir daqui, não aparecer assim ou nem falar comigo?
Sugiro, querendo que ela saia, sentindo uma raiva enorme surgir dentro de mim e fazer meu sangue correr rápido e quente.
- Não se faça de boba, você acha que vai conseguir alguma coisa com Scott?
- Ranya? - Minha mãe me chama e eu ergo a mão e espero um segundo, encarando aquela vaca de perto.
- Escuta, não sei se você sabe, mas até poucos dias atrás eu não havia falado nada para ele e iria continuar assim, diferente de você, eu não preciso dele ou de homem pra nada, eu tenho meu dinheiro, minha família não é qualquer uma, não sou como você, nunca fui e nunca vou ser, você entendeu?
Falo aquilo em voz alta e sinto uma adrenalina enorme, como se pudesse ir pra cima dela e dar uma barrigada nela.
- Veja só você, como pode engravidar dele? Eu sempre soube que isso iria acontecer, precisou engravidar pra segurar ele?
- Se fosse você parava de falar ou dirigir a palavra até mim.
A minha voz agora sai alta, acompanhando meu humor que vai de r**m pra péssimo.
Tirando todo relaxamento que havia conseguido com minha mãe e Melina.
- Você e esse bastardo vão ficar longe de Scott e do meu filho, eu fui clara?
Ameaça e aquilo me faz lembrar o motivo de ter feito a minha escolha meses atrás de não contar, de não me aproximar, por conta dessa maluca de m***a.
- Eu não sei se você percebeu, mas eu não tenho medo de você, Catarina. Eu nem sei porque ainda perde seu tempo vindo atrás de mim.
- Não se faça de boba, olha só pra isso, se soubesse que traria um bastardo, eu mesmo não teria deixado você perto dele, o que você queria? Acha que ele vai ficar com alguma mulher assim? Me deixar de lado?
Como existia mulheres assim?
Céus, era perturbador.
Meu rosto queima e sinto um arrepio que me atravessa, não sei se é de raiva, mas não uma sensação boa.
- Espero que você fique longe de mim - Falo e minha mãe puxa meu braço, nesse momento ergo o olhar e vejo o rosto assinado dela e aquilo me apavora. - Já estamos indo, mãe. Não precisa ficar nervosa, está tudo bem.
Falo tão baixinho que espero que só ela escute, os olhos dela ficam mais assustados.
Ergo o olhar e vejo Melina perto e peço ajuda apenas com um olhar, tentando falar que aquela mulher não é legal.
- Boa filha? Isso é sério? Você é patética - Eu me viro pra ela com raiva, mas então sinto quando a mulher me empurra.
- Você ficou maluca? - Minha voz se altera por completo e quase grito, mas sai alta pra fazer cada pessoa olhar na nossa direção. Nesse momento, algumas das funcionárias da loja se aproxima e eu fico parada, pensando se vou pra cima dela também. Ainda não acredito no que ela acaba de fazer, mas fico na minha. Não vou me rebaixar a brigar com ninguém, meu bebê não precisa disso e eu também não. - Eu só não parto pra cima de você, porque eu estou grávida e não vou fazer isso com meu bebê.
Sinto algo estranho, uma pontada no pé da minha barriga e aquilo me faz colocar a mão sobre a minha barriga e me apoiar na minha mãe, não sei o que acontece, mas a sensação é r**m.
Ergo o olhar e vejo Catarina dando passos na minha direção, quero afastar, mas minhas pernas estão ruins.
Entro em pânico.
Antes que ela consiga chegar até mim, a mão de Melina alcança ela e faz ela parar.
Agradeço ela tanto na minha cabeça, que eu apenas encaro a cena e a expressão mortal que ela faz na direção da loira.
- Ela está grávida, mas eu não estou.
A frase sai alta e ela empurra a mulher para longe, ela cai no chão, se levanta e depois as coisas ficam piores, Melina vai pra cima dela, assim como ela vai pra cima de Melina, se afundando em uma briga que se forma na minha frente, enquanto eu não consigo dar um passo.
Fico paralisada, tentando falar ou saber o que acontece comigo.
- Quem é você?
- Se chegar perto de Ranya as coisas podem ficar complicadas - Melina bate na mulher e eu observo tudo assustada.
Eu consigo dar um passo para trás e minha mãe me ajuda, mesmo perdida, quando consigo me sentar, minha cabeça gira e eu abaixo, sinto a presença de duas moça da liga e fico parada, o barulho da briga invade meus ouvidos e minha pressão termina de cair por completo, mesmo agradecendo a surra que aquela mulher precisava.
Melina se aproxima um tempo depois, ela para na minha frente e se abaixa.
- Melina - Falo e tento erguer o olhar.
- Ela não está bem - A voz da minha mãe é tensa, nervosa e ansiosa.
- Vamos fazer ficar, dona Amélia.
Abaixo o olhar e vejo o short molhado e por algum tempo penso que é água, alguma coisa do tipo, mas na ponta dos meus dedos aparece o vermelho vivo, que me apavora e faz meu coração bater com força.