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3381 Words
— Ele está à sua espera — Mary Anne falou num tom baixo e con­tido, sentando-se na cama do quarto que pertencera à filha mais velha durante tantos anos. Maggie abaixou a cabeça, evitando enfrentar o olhar da mãe, procurando desesperadamente algo com o que se ocupar. Mas não havia nada a fazer. Já guardara os poucos pertences que trouxera. Também penteara os cabelos e retocara a leve maquiagem. —  E hora, Maggie. É hora de encontrar seu filho. —  Eu sei. Porém, não se sentia pronta. Não sabia se algum dia se sentiria pronta. Percebendo que a mãe a observava, obrigou-se a sorrir. Não tinha dúvidas do quanto Mary Anne estava ansiosa, entretanto não possuía condições de ofe­recer algum alívio à mãe, pois m*l conseguia controlar o próprio pavor. E se não reconhecesse o garoto? Ou, se o reconhecesse, o que aconteceria se simplesmente des­moronasse, incapaz de conter as emoções que mantivera sufocadas dentro do peito durante todos aqueles anos terríveis? Não, não podia permitir que isso acontecesse. Seria forte porque não lhe restava alternativa. — Estou pronta. Vamos descer. Mary Anne deu o braço à filha enquanto desciam a es­cadaria imponente que conduzia ao térreo. —  Erik está na praia — ela explicou, não pela pri­meira vez. — Passou quase a tarde inteira lá. Sua irmã lhe trouxe de presente um short e algumas ca­misetas, pois as roupas dele estão longe de ser ade­quadas para o verão da Flórida. —  Ele precisa de mais roupas, mãe? — Apesar da pergunta, Maggie pouco prestava atenção nas palavras da mãe. O coração batia com tanta força e tão depressa, que o sangue parecia pulsar em seus ouvidos, impedindo-a de escutar direito. —  Seu filho precisa de tudo. Será algo que nós duas poderemos fazer juntas. Compras... — Mary Anne desviou o olhar, empalidecendo. — Desculpe-me, eu... —  Não faça isso, mamãe. Por favor, não comece a relembrar o passado. Para o bem de todos nós. —  Não, não vou mais viver no passado. Quero olhar apenas para o futuro. — De fato as palavras de Mary Anne podiam ser interpretadas de várias maneiras. Até mes­mo uma alusão à situação crítica que enfrentava no casamento. Maggie havia chegado a Hurricane Beach meia hora atrás, pois o avião decolará com atraso por causa do mau tempo. Ainda não tivera oportunidade de conversar com a mãe sobre coisa alguma, exceto sobre Derek. Con­tudo, tão logo pusera os pés em Paraíso do Mar, perce­bera a atmosfera tensa. A casa de seus pais já não era aquele lugar feliz onde passara a infância. De repente, o lar aconchegante havia se transformado numa cons­trução fria e impessoal, em que não se ouviam os ecos da voz profunda de John Paul, ou da risada cristalina de Mary Anne. Os dois só se falavam agora quando estritamente necessário, num tom distante e indiferente. A crise con­jugal, começada alguns meses antes, dava a impressão de ter atingido níveis insuportáveis. — Pensei que talvez vocês dois pudessem conversar durante o almoço — Mary Anne continuou. — Provavel­mente teria sido mais fácil assim. Porém você demorou tanto a chegar aqui, que eu estava quase convencida de que Noah apareceria primeiro. John Paul as aguardava ao pé da escada. —  O garoto já voltou do passeio — ele anunciou sem preâmbulos. —  Quisera que nosso neto tivesse pedido a um de nós dois para acompanhá-lo, pois não está familiari­zado com a região — Mary Anne se lamentou. — Você se lembrou de avisá-lo para não ir até o velho cais? Aquele lugar, caindo aos pedaços, é uma verdadeira armadi­lha. Nós deveríamos tê-lo posto abaixo anos atrás. —  O menino foi e voltou em segurança. — O tom de John Paul soava apaziguador, embora a expressão do rosto continuasse severa. Em outra época, teria tomado a mão da esposa entre as suas, para tranqüilizá-la. Agora limitava-se a lhe oferecer o conforto das pala­vras, sem nenhum contato físico. Ao chegarem junto à porta envidraçada que dava para o deque, Maggie parou de súbito. Além do vidro, as águas azuis do Golfo se estendiam além do hori­zonte. Sempre amara o oceano. Até que Derek lhe fora roubado. Então começara a temer o mar. Vivia ater­rorizada, certa de que as ondas acabariam jogando na praia o corpo da criança assassinada. Num movimento instintivo, Maggie deu um passo atrás. Mas Mary Anne a segurou pelo braço, impedindo-a de se afastar. —  Vá em frente, querida. Vá ao encontro de seu filho. —  Venha comigo, mamãe. Mary Anne sorriu, compreensiva, e a tocou de leve no rosto. — Não, filha. Vocês dois devem ficar sós, nesse pri­meiro encontro. Vá. Uma figura alta e esguia, usando camiseta branca e short azul-marinho, estava parada junto à água, as costas voltadas para o deque. —  Como é ele, mamãe? —  Vá ver por si mesma, querida. Aquela fora uma das coisas mais difíceis que Maggie já fizera. Deixar o refúgio da sala e se aventurar sob o sol escaldante da Flórida. O calor e a umidade a atingiram como se fosse um punho cerrado, roubando-lhe a respiração. No mesmo instante ela tirou os óculos escuros do bolso e os colocou. Além de protegê-la da claridade excessiva, funcionavam como uma espécie de escudo, capaz de ajudá-la a esconder as emoções. O barulho das ondas abafou seus passos. Ofegante, Maggie parou a poucos metros daquele que se dizia seu filho. De certa maneira, sempre imaginara que estariam de frente um para o outro quando se reen­contrassem. Entretanto, o destino a tinha colocado diante das costas largas de um rapaz. Ele havia se abaixado agora, parecendo estudar al­guma coisa na areia. Ao pegar o que estivera obser­vando, Maggie percebeu tratar-se de uma concha. Derek sempre fora fascinado por conchas, de todos os tipos e tamanhos. Tomada pela emoção, ela sufocou um soluço, a vista escurecendo subitamente. Com di­ficuldade, recuperou o controle. —Derek? — Nenhuma resposta. — Derek? — tornou a repetir, desta vez mais alto e mais firme. Ele ficou tenso e deixou cair a concha. Então levantou-se e virou-se devagar para fitá-la, os olhos semi-cerrados por causa da claridade excessiva. Oh, Deus, aquele rapazinho de mais de um metro e setenta, que caminhava na sua direção com aparente tranqüilidade, os cabelos castanhos é compridos esvoaçando ao vento seria mesmo seu filho? Maggie tinha a impressão de que seus pés haviam criado raízes na areia. Não podia se mover, ou emitir som algum. Gostaria de correr e tomar o menino nos braços, como sonhara tantas vezes. Entretanto apenas o fitava, sem saber como agir. De repente uma onda mais afoita molhou os pés de Derek, chamando sua atenção para as pernas do filho, já cobertas por uma sedosa camada de pêlos escuros. Pernas de homem. As pernas de seu filhinho tinham sido rosadas, re­chonchudas e macias como cetim. Como poderia saber, com certeza, que esse rapaz era mesmo o filho perdido? Como poderia acreditar sem reservas? Ignorando as dúvidas que a assaltavam, Maggie sorriu. —  Olá, Derek — ela falou baixinho, a voz estran­gulada de emoção. —  Não me chame assim. Meu nome é Erik. —  Eu... Desculpe-me. Ele cerrou os punhos, como a mãe havia feito mo­mentos antes. —  Sinto muito. Eu... eu não tive intenção de assus­tá-la. É que... não estou mais acostumado a que me chamem assim. —  Sim... claro. — Maggie enterrou as unhas nas palmas das mãos com força. — Minha mãe havia me avisado. Peço-lhe desculpas novamente. Tentarei cha­má-lo de... Erik. Afinal, não são nomes tão diferentes. Ele abaixou o olhar por um breve instante e então tornou a fitá-la com aqueles olhos cinzentos e profundos. Os olhos de seu filho eram cinzentos quando criança, mas não tão escuros, como nuvens anunciando tempestade. —  Obrigado pela gentileza. E como devo chamá-la? —  Sou Maggie — ela murmurou trêmula. — Sua mãe. — Foi o que imaginei. Imaginei. A palavra a atingiu fundo, como ferro em brasa. Ele não se lembrava da própria mãe. —Você não tem que me chamar de mãe. — Jamais poderia saber de onde tirara forças para dizer isso ao filho, pois cada palavra lhe dilacerava a alma. — Pode me chamar de Maggie, se preferir. — Ela estendeu ambas as mãos. — Bem-vindo ao lar, Erik. Durante longos e intermináveis segundos, o rapaz não esboçou a menor reação. Então abraçou-se à mãe, embora a rigidez do corpo revelasse o alto grau de tensão interior. Hesitante, Maggie o tocou de leve no rosto, mas Erik logo se afastou. — Vamos nos sentar sob o deque — ela sugeriu, a voz abafada por causa das lágrimas que teimava em sufocar. — Está mais fresco lá, onde a brisa é constante. Você poderá me contar como conseguiu nos encontrar. Durante os anos de sofrimento atroz, Maggie não se permitira sonhar com aquele momento. Decidira não alimentar expectativas para se proteger da dor. Assim, não estava decepcionada com o comportamento reti­cente do filho. Entretanto imaginara que o reconhe­ceria como sendo seu no momento em que o tocasse. Contudo, não fora exatamente o que acontecera. Após aqueles primeiros minutos, continuavam sendo, um para o outro, apenas dois perfeitos estranhos. Em silêncio, Erik a acompanhou até as cadeiras agru­padas sob o deque, porém não se sentou. Uma brisa suave soprava sem parar, tornando o calor do fim da tarde suportável. Durante o curto trajeto, Maggie sentira os olhos dos pais os acompanhando de longe, carregados de ansiedade. Não havia dúvidas de que Erik também percebera a ansiedade dos avós, pois o vira lançar um olhar na direção da janela envidraçada. —  Está bom aqui? Você gostaria que eu lhe buscasse algo para beber? Chá gelado? Um refrigerante? —  Não, senhora. Obrigado. —  Não acha que seria capaz de me chamar de Maggie? —  Certo... Maggie. —  Você tem sido Erik desde... desde que o perdemos? —  Sim. —  E o sobrenome? —  Apenas Erik. — Ele cerrou os lábios com força. Oh Deus, exatamente da maneira como Noah costu­mava fazer quando se sentia pressionado a dar infor­mações sobre o trabalho que considerava confidenciais. —  Onde você esteve durante todos esses anos? —  Em muitos lugares. —  Quem... quem o levou? —  Um homem. —  Quem, Erik? —  Não quero falar sobre isso. — O garoto desviou o olhar. —  Está bem. — Apesar de aparentar calma, Maggie sentia o coração sangrar. O filho recusava-se a revelar quem o havia seqüestrado. Preferia proteger o monstro que o roubara da própria mãe. — Então não falaremos sobre o assunto até que você queira. Por favor, sente-se. Não se vá ainda. —  Certo. — Erik atendeu ao pedido de Maggie, em­bora parecesse muito pouco à vontade. —  As... as pessoas com quem você esteve o trataram bem? — Por um instante ela achou que essa pergunta também ficaria sem resposta. —  Eles eram bons. —  Você freqüentou alguma escola? —  Minha mã... Aprendi a ler em casa. —  Quando morava em Michigan? —  Sim. —  Nunca, estive em Michigan. —  É um Estado grande. Você poderia tirar os óculos escuros? — ele perguntou de repente, surpreendendo-a. — Eu tinha me esquecido de que os estava usando. As mãos de Maggie tremiam ao tirar os óculos e guardá-los no bolso do vestido. Lentamente, ergueu os olhos para o filho, que a observava com atenção. —  Isso ajuda? — perguntou num murmúrio. — Você se lembra de mim? —  Seus cabelos. Lembro-me de que eram bem claros, como se banhados pelo luar. Mas um pouquinho mais curtos e encaracolados, acho. —  Eu costumava usá-los mais curtos sim. —  Seus olhos são esverdeados. Pensei... pensei que fossem cinzentos como os meus. —  Os seus são da cor exata dos de seu pai. —  Não me lembro claramente das feições de meu pai. —  Do que você se lembra, Erik? — Será que algum dia se acostumaria a chamá-lo assim, sem hesitações? —  Do mar e da areia. Branca como a neve. E do sol iluminando tudo, brilhante e quente. Desta casa. Eu sabia que a casa era grande e pintada de uma cor clara. Quando eu chamava por você, ou minha avó, havia eco. —  Continue. —  E do endereço. Eu sempre o repetia várias vezes à noite, antes de dormir. — E foi isso que o trouxe de volta para nós. — Maggie já não era capaz de controlar as lágrimas, que escorriam silenciosas pelo rosto pálido. — Ninguém jamais tornará a afastá-lo de nós outra vez, Erik. Eu lhe prometo. Se ao menos você me dissesse quem são essas pessoas. Onde o mantiveram prisioneiro... Ele se levantou da cadeira imediatamente. — Não! Não quero falar sobre isso. Não sei nem sequer se quero ficar em Hurricane Beach. Aqui não é onde você vive. Vovó me disse que você mora em Nebraska. —   É verdade. — O mais distante do mar quanto possível. —   E meu pai? Vovó falou que meu pai está na Califórnia. —   Sim. Porém já tomou o avião para a Flórida. Deve chegar a qualquer momento. —  Pensei... pensei que nós iríamos viver num desses dois lugares. —  Eu... Nós iremos. Tirei licença do meu trabalho por algumas semanas. Sou enfermeira, além de admi­nistrar um lar para idosos. Pensei que talvez pudés­semos ficar em Hurricane Beach durante algum tempo, aprendermos a nos conhecer melhor... Erik tornou a sentar-se, as mãos fechadas em punho. — Sim. Claro. Está bem. Acho que é uma boa idéia. Maggie concordou com um aceno. O reflexo do sol na areia e na água, o calor e a umidade aliada ao esforço de manter as emoções sob controle estavam lhe dando uma terrível dor de cabeça. Erik tampouco parecia confortável. —  Você e meu pai são divorciados? — ele perguntou de súbito. —  Não. Não somos divorciados. Estamos separados. —  Vocês se separaram por minha causa? Porque fui seqüestrado? —  Não — Maggie assegurou, embora estivesse di­zendo apenas parte da verdade. — Nós nos separamos depois de você ter sido seqüestrado. Mas a razão prin­cipal era que seu pai se ausentava muito. Por acaso sua avó mencionou que seu pai é um SEAL? —  SEAL? — Sim. m****o da força-tarefa especial. Um comando. — Sei sobre o que você está falando. Já li a respeito. — Seu pai é comandante agora. Não é mais escalado para missões. Pelo menos acho que não. Eu... eu não o tenho visto há muito tempo. — Vocês procuraram por mim? — Apesar da ex­pressão distante do rosto, as palavras deixavam en­trever a emoção interior. — Claro que sim, Erik. Nós o procuramos em todos os lugares. Durante anos. Espalhamos milhares de cartazes. Seu avô contratou detetives particulares. Mandamos fotos suas para os arquivos de Crianças Desaparecidas. — O que é isso? — E uma instituição dedicada a ajudar os pais na localização de filhos seqüestrados. — Quer dizer então que minha foto ilustrou aquelas caixas de leite? — Sim. Duas vezes. — Maggie sorriu. — Uma quan­do você tinha seis anos e a outra quando completou doze. Eles utilizaram um computador para atualizar suas fotos, na esperança de que alguém o reconhecesse nos traços de uma criança mais velha. — E a foto ficou parecida comigo? Maggie estudou o rosto bonito, marcado por olhos grandes e queixo quadrado, um bigode quase imper­ceptível sobre o lábio superior. Esse rapaz, seu bebê, já podia se barbear. Tanto tempo havia sido perdido, tantos anos de convívio roubados. — Sim — ela falou afinal. — Acho que sim. Qualquer dia desses posso lhe mostrar as fotos, se você quiser. — Certo. — Erik, você se lembra de alguma coisa sobre o que aconteceu naquele dia, no shopping center? —  Não. Não me lembro. —  Por que se recusa a me falar sobre as pessoas que o levaram embora? Eles deviam ser punidos. —  Não quero que isso aconteça. —  Por favor, não os proteja. Eles o roubaram de mim. — Embora soubesse estar pressionando o filho, já não podia conter-se. —  Por que você não me vigiou melhor? —  Eu... eu apenas o perdi de vista por um instante. Apenas um instante. — Maggie mordeu o lábio inferior para não gritar toda sua dor. —  É. Provavelmente foi apenas um instante. Mas me pareceu uma eternidade, quando não consegui en­contrá-la. Tudo de que me lembro é que alguém me pegou no colo e me segurou com tanta força que não consegui emitir nenhum som. Então o homem começou a andar depressa. Ele andou, correu e dirigiu um carro velho durante muito, muito tempo. Ainda sonho com isso às vezes. —  Oh, Erik, eu sinto tan... —  Vou para meu quarto agora — ele falou de re­pente. Então, talvez notando quanto soara ríspido, con­tinuou menos áspero: — Estou exausto. Vou me deitar um pouco. — O som de passos na parte superior do deque chamou-lhe a atenção. — Tem alguém aqui. Há alguma chance de eu subir a escada sem ser visto? —  Não. A menos que a porta da garagem esteja destrancada. — Percebendo a ansiedade do filho, ela tentou tranqüilizá-lo. — Ouça, provavelmente é apenas sua tia Amy. Ela entenderá se você estiver cansado demais para conversar. —  Parecem passos de um homem. Maggie ouviu a voz do homem e estremeceu, apesar do calor intenso. — Está tudo bem, Erik. Não há nada aqui de que precise ter medo. Suas palavras eram mais para assegurar a si mesma e só não estendeu a mão para tocá-lo porque não podia suportar a idéia de ser rejeitada. Assim, levantou-se e começou a caminhar para a escada de madeira, que conduzia à parte superior do deque, sem insistir para que o filho a seguisse. Tão logo subiu os primeiros degraus, suas suspeitas foram confirmadas. Uma figura alta e atlética estava parada, no topo da escada, ao lado de Mary Anne e John Paul. —  Maggie, estávamos tencionando descer para en­contrá-la — Mary Anne falou, retorcendo as mãos no auge do nervosismo. —  Olá, Maggie. —  Olá, Noah — ela respondeu, fitando-o. O marido quase não havia mudado nos últimos oito anos. O rosto continuava bonito como sempre, os olhos cinzentos e penetrantes parecendo enxergá-la pelo avesso. Ombros largos, porte elegante, cabelos negros sem nem sequer um fio branco. Noah era alto, com mais de um metro e noventa, o corpo musculoso perfeitamente proporcionado. Ela lan­çou um olhar rápido para o peito do marido, notando a fileira de medalhas e condecorações. Na carreira mi­litar, um homem usava seu currículo exposto no peito e o de Noah impressionava. Sobre o brilho das meda­lhas, sobressaía-se a águia e o tridente, símbolos das Forças Especiais. Ele deu um passo atrás, para não bloquear o caminho, com a graça felina de alguém à vontade com o próprio corpo. Maggie julgara haver se preparado para esse encon­tro. Pensara ser capaz de ver-se frente a frente com o marido, depois de oito anos, e manter a compostura. Mas se enganara. Amara Noah Trevor apaixonada­mente e então estivera perto de odiá-lo quase com a mesma intensidade quando a dor da perda do filho acabou por separá-los. Agora não tinha dúvidas de que nunca, nunca, poderia ser indiferente ao marido. O olhar dele envolveu-a por inteiro, nenhum detalhe lhe passando despercebido. Maggie não engordara nem um grama desde que haviam se separado, porém es­tava usando os cabelos mais compridos do que há oito anos. Parecia também que desistira de tentar encara­colar os fios com permanente, deixando-os lisos e soltos. —  Seus cabelos estão mais compridos. Gostei muito. —  O... obrigado — ela murmurou, o cumprimento inesperado surpreendendo-a. Esperara que Noah no­tasse o novo corte de cabelos, mas não que fizesse algum comentário. —  É bom vê-la, Maggie. —  É bom vê-lo também, Noah. —  Onde está ele? Maggie olhou por sobre os ombros. Erik a tinha se­guido, entretanto parara logo nos primeiros degraus da escada, longe do alcance da vista do pai. Erguendo a mão, fez sinal para que o rapazinho se aproximasse. — Noah — ela falou, concentrando-se em não permitir que os tremores de seu corpo se revelassem na voz. — Esse é... Erik. Nosso filho. Assombrado, Erik fitou a figura imponente do pai por um longo instante. Então, com um gemido estran­gulado de emoção, atirou-se nos braços de Noah, mur­murando uma única palavra enquanto procurava con­forto junto ao peito forte. — Papai!    
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