Fim de semana totalmente desastroso

1149 Words
        E então, no silêncio assustador do meu apartamento, eu liguei para Spence. Não conversamos muito, não falei sobre ter encontrado com Murray e não chorei, o que era positivo, assim como o fato de que eu fui dormir em minha cama, ao menos na primeira noite do meu fim de semana totalmente desastroso:  entre crises de segurança e determinação onde eu lia os textos base das aulas da minha primeira semana, ataques de insegurança e pânico onde eu chorava sentada pelos cantos do apartamento vazio em posição fetal e ainda, em crises de autopiedade, onde eu reconhecia que estava tudo bem toda aquela confusão e respeitava aquilo, em paz, bebendo feito louca e dizendo para mim mesma que eu ficaria bem, que era somente uma questão de tempo.         No fim do domingo, uma chuva pesada e insistente me manteve em casa. Eu encarava pelas janelas aquela paisagem cinzenta e fria e meu coração apertava, pensando nas coisas que Spencer gostava de fazer em dias como aquele. Minha mente cheia de flashes de tardes de chuva com s**o, filmes e chocolate quente, ou outras onde apenas ficávamos deitados juntos na varanda, vendo a chuva cair na casa de praia... Ele não havia ligado depois das quatro da tarde, comentou que iria jogar com um colega e que iriam para uma festa, e eu estava tentando cumprir o meu papel de garota segura, que sabe o que quer e não ficar chorando ou reclamando sobre isso. O interfone tocou, o porteiro do meu prédio, Sr. Howard, um homem alto, esguio e muito sorridente, deu uma breve descrição do sujeito na portaria, que eu sabia que só podia ser Murray e então questionou se eu queria receber aquela visita. Aceitei.         Eu estava na fase dois: da insegurança e pânico, e quando Michael chegou, tudo o que eu pude fazer foi correr para abrir a porta, e assim que ele apareceu, cair em seus braços chorando como uma criança. Murray apenas apertou o abraço por um tempo, e beijou minha testa dizendo várias vezes que eu ficaria bem, e depois, quando eu por fim me acalmei e o soltei, ele conseguiu dizer: - Trouxe jantar – e erguendo uma sacola de papel sorriu – mamãe deixou um estoque de molhos caseiros, então, resolvi dividir um com você nesse dia h******l – ele tinha aquela expressão de bondade no olhar, aquela que eu adorava ver – vamos, vai ficar tudo bem... Olha só, eu trouxe um vinho também...             E em pouco tempo, nós dois está vamos dividindo um vinho e um macarrão com molho de tomates caseiro, queijo parmesão fresco, manjericões da minha horta e camarões salteados com mini cebolas, sentados no chão, próximos à mesa de centro, porque as banquetas da cozinha ainda não haviam chegado. - E então – ele me encarou sério – tá tão difícil assim? - Às vezes mais, às vezes menos, sabe, eu nunca fiquei tão longe de casa – suspirei – nem por tanto tempo, é complicado quando a gente fica por conta própria... -... e você ficou muito acostumada com alguém tomando conta de você – ele riu. - Mentira – respondi um pouco irritada. - Verdade – ele sorriu – e está tudo bem... - Eu sei tomar conta de mim sozinha... – dessa vez eu provavelmente gritei. - Eu não falei o contrário, só lembrei que “Spencer faz o café, carrega a mochila, leva o carro na oficina...” – ele revirou os olhos – e eu sei que você adora ser mimada, mas infelizmente – ele sorriu irônico – não acontece sempre, e por mais que eu queira, acho uma péssima ideia. - Eu não quero parecer grosseira – estava furiosa – mas você que apareceu aqui... Eu não pedi para ser mimada, nem mesmo pedi companhia. - E eu sei disso – ele pegou minha mão, segurando firme – nem sei poque eu disse isso, mas eu quase desisti quando cheguei na porta do prédio, pensando ser uma má ideia, mas já estava aqui e eu queria ver se você estava bem... – ele tinha os olhos marejados – mas eu não devia ter vindo. - Tudo bem – me recompus – olha... Se é porque atendi a porta chorando, eu não estava esperando visitas... Eu não estava esperando por nada. - Mariah, não é por isso – ele suspirou – você está fragilizada, está triste, e eu vir aqui, estar muito perto, pode deixar as coisas confusas, entende? - Entendo sim – dei um longo gole na taça de vinho – tem razão. - E o Spencer não vai gostar disso, eu sei... – ele completou. - Com certeza – agora havia me ocorrido que ele detestaria.             Conversamos mais alguns minutos, sobre o erro de Michael e sobre o meu, e sobre como tudo parecia complicado para todos nos últimos tempos. Falamos de Mia e Peter, e da pequena Amelie, e era muito fácil conversar com ele, e estar com ele, porque eu me sentia segura demais. Nos despedimos perto das onze horas, a chuva havia diminuído e agradeci – apesar de reconhecer o erro – a visita e o jantar, mas assim que Michael saiu, lá estava eu, chorando em posição fetal atrás da porta até ouvir o celular tocar: - Oi – minha voz denunciava o choro. - O que aconteceu? – Murray estava do outro lado da linha. - Michael? – perguntei respirando fundo. - Queria ver se estava tudo bem... - ele diz.  - Sim – respondi mentindo. - Não – ele disse no mesmo momento. - Esquece isso – disse rapidamente. - Ah, para – ele ficou nervoso – você tá chorando. - Não – menti novamente – é rinite. - Rinite, Martinez? – ele riu – O que aconteceu? - Não aconteceu nada – respondi – já falei, eu só estou com uma crise alérgica... - Ei, eu conheço você - ele disse.  - Tudo bem - eu abaixo a guarda - acho que eu estou achando tudo muito difícil, muito mais do que eu imaginei. - Certo – ele suspirou – falou com o Spencer? - Não... – e ele não atenderia, eu sabia, estava em uma festa. - Então, liga para ele e vê se você se acalma... Eu te ligo de novo daqui a pouco - ele diz.              Não tive tempo de dizer nada, Murray desligou. Eu tentei falar com Spencer, várias vezes, e ele simplesmente não atendeu. Meu coração apertou... Eu tentei e tentei, liguei incontáveis vezes, enviei mensagens e nada, absolutamente nada. Murray enviou mensagens e eu acabei dizendo que havia falar com Spence e que estava tudo bem, só para não deixa-lo preocupado, ou para não expor que eu era tão frágil quando estava demonstrando sei. Acabei adormecendo enrolada em um cobertor no sofá da sala, até ser acordada pelo celular tocando, olhei a hora 05:25 da manhã. 
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