Draco
Desde o momento em que Camille pôs os pés na Rocinha, algo nela me incomodava. Eu já tinha visto mulheres bonitas, charmosas, mulheres que faziam qualquer homem se perder em seus próprios desejos. Mas Camille... Camille era diferente. Não era só a aparência, embora fosse inegável que ela chamava atenção. Havia algo mais, algo que eu não conseguia definir, uma aura de mistério que a cercava e deixava tudo ao seu redor no mínimo desconfortável.
Ela aparecia nas vielas com uma facilidade que me incomodava. Não era normal alguém de fora entrar assim, ganhar a confiança das pessoas, ser notada e, ao mesmo tempo, evitar qualquer pergunta mais direta. Eu via como ela agia, sempre com um sorriso contido, nunca revelando demais, mas o suficiente para manter os outros interessados. A maioria dos homens na favela a olhava com desejo, mas eu via além disso. Eu via perigo.
A princípio, tentei ignorá-la. O que uma mulher como Camille poderia realmente significar no grande esquema das coisas? Eu tinha negócios para cuidar, cargas para distribuir, dinheiro para movimentar. Havia uma rede inteira que dependia de mim, e eu não podia me dar ao luxo de me distrair por causa de alguém que nem deveria estar ali. Mas, de alguma forma, eu não conseguia tirar os olhos dela. Sempre que ela estava por perto, minha atenção era atraída, como se ela fosse um ímã.
Eu não confiava nela. Camille estava jogando um jogo, isso era óbvio. E o que me irritava mais era o fato de eu não conseguir descobrir qual era o objetivo dela. Por que ela tinha vindo para cá? O que ela realmente queria? E, mais importante, quem estava por trás dela?
— Você tem visto a Camille? — perguntei a Damon uma noite, enquanto bebíamos em nosso escritório improvisado.
Ele deu de ombros, sua expressão fria e calculista como sempre.
— Ela é bonita, mas não sei se confio nela. Tem algo estranho.
Isso me deu um pouco de alívio. Damon não era alguém fácil de enganar, e se ele também desconfiava, talvez eu não estivesse ficando paranoico. Dante, por outro lado, parecia não ver o mesmo que nós.
— Ah, ela é só uma gata tentando viver — ele disse outro dia, quando estávamos organizando uma reunião com nossos distribuidores. — Vocês ficam complicando as coisas. Não podem deixar uma mulher mexer com a cabeça de vocês.
Dante era impulsivo, todo mundo sabia. Ele lidava com tudo de forma direta, com força bruta. Para ele, Camille era apenas mais uma mulher bonita, e nada além disso. Mas eu sabia que havia mais, e essa confiança cega de Dante me incomodava. Ele estava deixando Camille se aproximar demais, e isso poderia ser um problema.
Eu a observava de longe, prestando atenção em cada movimento. Camille parecia se encaixar onde quer que fosse. Ela falava com os moradores da favela, sempre com uma palavra gentil ou um sorriso que desarmava até os mais desconfiados. Quando ela se aproximava dos meus homens, eu via como eles se inclinavam um pouco mais perto, como se quisessem absorver tudo que ela dissesse. Era perigoso. E era frustrante, porque, no fundo, eu sabia que eu mesmo estava sendo atraído por aquele mesmo magnetismo.
Teve uma noite em particular que me marcou. Eu estava no alto de uma das vielas, observando a favela de cima, como eu costumava fazer. A noite estava quente, e a música subia das festas espalhadas pelos becos. Foi então que vi Camille passando, sozinha, caminhando com aquela confiança que me deixava desconfortável. Sem pensar muito, desci em sua direção.
— Camille — chamei, a voz saindo mais dura do que eu pretendia.
Ela parou e se virou, com aquele sorriso enigmático no rosto. Por um segundo, o tempo pareceu parar, como se apenas nós dois existíssemos ali.
— Draco — ela respondeu, calmamente, como se estivesse me esperando o tempo todo. — O que o traz até aqui?
Eu me aproximei, mantendo uma distância segura.
— O que você realmente quer aqui? — perguntei, sem rodeios.
Ela inclinou a cabeça de lado, como se estivesse ponderando a resposta.
— O que eu quero? — repetiu, com um tom de provocação na voz. — Estou apenas vivendo, como todo mundo.
— Não minta pra mim, Camille. Eu vejo o que você está fazendo, se aproximando dos meus homens, circulando por aí como se tudo isso aqui fosse seu playground.
Ela deu uma risada baixa, um som que me fez ranger os dentes de irritação.
— E o que você acha que eu estou fazendo, Draco? — ela perguntou, os olhos fixos nos meus, desafiadores.
Por um momento, fiquei sem resposta. A verdade era que eu não sabia exatamente o que ela estava fazendo, e era isso que me deixava furioso. Tudo nela era uma contradição. Ela parecia aberta, mas ao mesmo tempo, era como se estivesse escondendo algo. Eu não conseguia ler suas intenções, e isso me deixava louco.
— Eu não confio em você — eu disse finalmente, quebrando o silêncio.
Camille deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. Eu senti meu corpo ficar tenso, mas não recuei. Ela olhou diretamente nos meus olhos, o sorriso desaparecendo lentamente de seus lábios.
— Talvez seja você que tenha medo do que pode acontecer se começar a confiar em mim — ela sussurrou, sua voz suave, mas cheia de insinuações.
Por um segundo, o ar entre nós pareceu carregado de eletricidade. Eu não sabia se queria afastá-la ou puxá-la para mais perto. Havia algo nela, uma tensão invisível, uma energia que me puxava, mesmo quando minha mente gritava para eu manter distância.
Antes que eu pudesse responder, Camille deu um passo para trás, o sorriso voltando ao seu rosto.
— Boa noite, Draco — ela disse, antes de se virar e desaparecer na escuridão das vielas.
Fiquei parado ali por um tempo, tentando entender o que acabara de acontecer. Camille estava jogando comigo, mas eu não sabia as regras. E isso era perigoso. Eu não podia me dar ao luxo de ser manipulado, ainda mais por uma mulher que m*l conhecia. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia negar o fascínio que ela exercia sobre mim.
Nos dias seguintes, tentei me concentrar nos negócios. Mas Camille continuava se infiltrando nos meus pensamentos, como uma sombra que eu não conseguia afastar. Ela aparecia em lugares inesperados, sempre com aquele mesmo ar de mistério, sempre mantendo distância suficiente para me deixar intrigado, mas nunca longe o bastante para que eu pudesse esquecê-la.
E então, um dia, recebi a notícia que temia. Um dos meus homens, Marcos, foi visto com Camille em uma das festas. Disseram que ele estava falando demais, contando coisas que não devia, sob o efeito do álcool e, talvez, do charme dela. Aquilo era exatamente o que eu temia. Camille estava jogando, e agora estava começando a mexer com as peças do meu tabuleiro.
Eu sabia que teria que tomar uma decisão em breve. Camille estava se aproximando demais, e eu não podia permitir que ela continuasse a minar meu controle. Mas havia algo em mim que hesitava, algo que me fazia querer descobrir mais sobre ela antes de agir.
Eu precisava entender o que a motivava, o que ela realmente queria. Porque, de uma coisa eu tinha certeza: Camille não era uma mulher qualquer. Ela tinha seus próprios objetivos, e se eu não descobrisse o que eram a tempo, poderia acabar perdendo muito mais do que apenas o controle da Rocinha. Eu poderia perder a mim mesmo.