Rd narrando
Tô na boca, tragando meu baseado, quando o celular vibra de novo. É a Ana, enchendo o saco. Desde que a gente ficou, ela parece achar que virou minha fiel, me cobrando atenção como se eu tivesse tempo pra isso.
Respondo seco, só pra ela parar de insistir, e mando mensagem pro Perigo perguntando da carga que combinamos mais cedo. Estranho… nada de resposta. Perigo vivia com o celular colado na mão, até no banheiro.
— Fala, Rd. — Fernanda surge na porta.
— Entra aí. — respondo, já percebendo que ela tá com uma cara estranha.
— Invadiram o morro do Perigo. A polícia pacificou lá.
— p***a… — me levanto num pulo. — Que merda é essa que tu tá falando?
— É isso mesmo. Eles entraram com tudo. Quem não foi preso, morreu.
Corro pra ligar a TV. A notícia já tá passando.
— Já tão sabendo — diz Ph entrando apressado. — Me avisaram agora. Perigo e mais um monte foram presos.
O repórter aparece na tela, com a legenda gritando: "Operação prende chefe do tráfico no Santa Marta".
— Miguel, conhecido como traficante Perigo, foi preso junto com mais 25 integrantes da facção — diz a jornalista. — Estamos aqui com o sargento Tiago Lopes, que comandou a ação.
O policial fala com aquele ar de vitória:
— A pacificação do Santa Marta foi um sucesso. Prendemos quase todos os envolvidos.
A repórter pergunta:
— E faltou alguém?
— Estamos procurando Maria Luiza Fernandez, conhecida como Malu, fiel do Perigo. Temos mandado de prisão pra ela, mas não foi encontrada. Acreditamos que tenha fugido.
A repórter pede pra colocar o rosto dela na tela.
— Cadê essa garota? — murmuro.
— Tão rastreando — Ph responde. — O celular dela vai entregar.
— Essa filha da p**a sabe demais. A polícia aperta e ela abre o bico.
Fernanda cruza os braços:
— Eu não duvido. Perigo fazia a vida dela um inferno. Ela vai cantar tudo só pra ferrar ele.
— Eu avisei, p***a. — digo com raiva. — Nunca se coloca a fiel dentro da casa, vendo tudo. Agora ela pode destruir nossos negócios.
— Localizamos — Ph avisa. — Tá na rodoviária.
— Vamos buscar.
— Você mesmo vai? — Fernanda pergunta.
— Vou trazer essa desgraçada pessoalmente. Toma conta de tudo aqui.
Entramos no carro. Ph rastreia as câmeras da rodoviária, buscando destino do ônibus. Meu sangue ferve. Não acredito que Perigo vacilou desse jeito.
— Esse filho da p**a devia tá comendo alguma v***a quando a polícia entrou — falo, socando o volante.
— Ele vai ter que se explicar — Ph comenta. — Isso prejudica geral.
— Aqui. — Ph aponta no GPS. — Ela tá nesse ônibus.
Piso fundo. A estrada passa rápido pelos faróis, até alcançarmos o veículo. Fecho ele pela frente, obrigando o motorista a parar. No outro carro, dois vapores se preparam.
Subo no degrau com o fuzil nas costas.
— Abre a porta ou eu estouro sua cabeça — ordeno.
O motorista obedece.
— Calados e ninguém morre — Ph avisa.
Entro no corredor, olhando de banco em banco. — Não quero machucar ninguém. Só quero uma passageira: Maria Luiza Fernandez. Se não aparecer, eu mato cada um de vocês.
O silêncio toma conta. Até que a vejo, encolhida no último banco.
— Por favor… não — ela implora.
— Achou que ia fugir pra onde, sua v***a? — encaro ela.
— Me deixa em paz. Eu não vou com você.
— Vai sim, ou eu mato você e todo mundo aqui.
Ela olha pros lados, desesperada, e n**a com a cabeça. Puxo ela pelos cabelos.
— Me solta! — ela grita.
— Aqui quem manda sou eu, sua desgraçada. Vai me obedecer. — arrasto ela pelo corredor.
— Uma boa viagem a todos — Ph debocha, descendo.
Jogo ela contra o carro, o fuzil quase encostando na testa dela.
— Abre essa boca de novo e eu esqueço que o Perigo quer você viva.
Ph abre o porta-malas.
— Entra — ordeno, pressionando o cano na cabeça dela.
Ela hesita. — Eu só quero ir embora em paz…
— Você só sai do morro morta. Já devia saber disso.
Agarro o braço dela e a empurro lá dentro. A tampa fecha com força, abafando os gritos.
Malu narrando
Eu cochilava quando o ônibus freou bruscamente. O corpo foi jogado pra frente. Gritos. Vidros tremendo. Olho pela janela, mas tá escuro demais pra ver.
Então escuto uma voz que me congela:
— Não queremos machucar ninguém… — É o Rd, primo do Perigo. — Só quero uma passageira: Maria Luiza Fernandez. Se não aparecer, mato todo mundo.
Meu coração dispara. Me encolho atrás do banco. Eu sabia quem ele era, conhecia as histórias. Nunca tinha falado com ele, mas já tinha visto demais no morro pra saber do que era capaz.
Ele anda pelo corredor, o peso dos passos ecoando como marteladas. O fuzil aponta pra mim.
— Por favor… não.
— Achou que ia fugir pra onde, sua v***a?
— Me deixa em paz. Eu não vou com você.
— Vai sim. Ou morre.
A negação sai automática. Tento recuar, mas ele agarra meu cabelo e me puxa com força.
— Me solta!
— Cala a boca! — ele rosna. — Vai me obedecer.
Sou arrastada pelo corredor. Olhares assustados me seguem. Lá fora, o vento frio me acerta, mas não dura. Ele me empurra contra o carro, o fuzil apontado pra minha testa.
— Fala mais uma vez e eu te apago aqui mesmo.
O amigo dele abre o porta-malas.
— Entra.
— Eu não vou falar nada… só me deixa ir embora.
— Você só sai do morro morta.
O braço dele me aperta, me jogando dentro. A tampa desce e o mundo escurece.
O cheiro de combustível, o calor sufocante, o metal frio contra minhas costas. Tento chutar, empurrar… nada. Só me resta ouvir o som do carro arrancando e o desespero crescendo dentro de mim.