Pensei na minha misteriosa penitente o dia todo. Pensei nela enquanto preparava a homilia da missa de domingo. Pensei nela enquanto dirigia o estudo bíblico para homens e enquanto fazia minhas orações noturnas. Pensei naquele vislumbre de cabelo escuro, naquela voz rouca. Algo sobre ela... o que era? Não é como se eu tivesse sido um cadáver desde que peguei o manto, eu ainda era um homem. Um homem que gostava muito de fo*der antes de ouvir o chamado.
E eu ainda notava as mulheres, certamente, mas me tornei bastante hábil em desviar meus pensamentos do s*x*ual. O celibato tornou-se um aspecto controverso do sacerdócio nos últimos anos, mas ainda o seguia cuidadosamente. Especialmente à luz do que aconteceu com a minha irmã. E o que aconteceu com esta paróquia antes de eu chegar.
Era fundamental que eu fosse o ápice da contenção. Que eu seja o tipo de sacerdote que inspira confiança. E isso envolveu que eu fosse incrivelmente cauteloso, tanto pública quanto privadamente, quando se tratava de s*x,ualidade.
Assim, embora sua risada rouca ecoasse em meus ouvidos pelo resto do dia, reprimi firme e deliberadamente a lembrança da sua voz e continuei com meus deveres, com a única exceção de ter rezado um ou dois rosários extras por aquela mulher. Pensando no seu apelo.
Preciso saber que tudo ficará bem.
Eu esperava que onde quer que ela estivesse, Deus estivesse com ela, confortando-a, assim como ele me consolou tantas vezes.
Adormeci com as contas do rosário cerradas na mão, como se fossem um amuleto para afastar pensamentos indesejados.
......
Na minha pequena e envelhecida paróquia, geralmente há um ou dois funerais por mês, quatro ou cinco casamentos por ano, missas quase todos os dias e mais de uma vez aos domingos. Três dias por semana, dirijo estudos bíblicos, uma noite por semana ajudo o grupo de jovens e todos os dias, exceto quinta-feira, reservo horário de expediente para visitação dos paroquianos. Também corro vários quilômetros todas as manhãs e me forço a ler cinquenta páginas de algo não relacionado à igreja ou religião de qualquer espécie.
Ah, e eu passo muito tempo vendo The Walking Dead . Muito tempo. Ontem à noite fiquei acordado até as duas da manhã discutindo com um barbudo sobre se era possível ou não matar um zumbi com a coluna vertebral de outro zumbi.
O que não é possível, obviamente, dada a taxa de deterioração óssea entre os caminhantes.
A questão é que, por ser um homem santo em uma pacata cidade, estou bastante ocupado, então posso ser perdoado por ter ficado surpreso na próxima semana, quando a mulher voltou ao meu confessionário.
Rowan tinha acabado de sair e eu também estava me preparando para me levantar e sair quando ouvi a outra porta se abrir e alguém entrar na cabine. Pensei que talvez fosse Rowan de novo. Não teria sido a primeira vez que ele voltou porque se lembrou de algum novo pecado servil sobre o qual se esqueceu de me contar.
Mas não. Foi aquela voz rouca e conhecedora, a voz que inspirou meus rosários extras na semana passada.
— Sou eu de novo. Disse a mulher, com uma risada nervosa. — Hum, a não-católica?
As minhas palavras saíram mais profundas do que eu pretendia, mais curtas. Um tom que eu não usava com uma mulher há muito tempo. — Eu lembro de você.
— Ah! Ela disse. Ela pareceu um pouco surpresa, como se não esperasse que eu me lembrasse dela. — Isso é bom. Eu acho.
Ela se mexeu um pouco e, através da tela, vi indícios da mulher atrás dela: cabelo escuro, pele branca, batom vermelho.
Eu mudei um pouco também, inconscientemente, meu corpo de repente consciente de tudo. A calça sob medida (presente dos meus irmãos empresários), a madeira dura do banco, a gola que de repente ficou apertada demais.
— Você é o padre Bell, certo? Ela perguntou.
— Esse sou eu.
— Eu vi sua foto no site. Depois da semana passada, pensei que talvez fosse mais fácil se eu soubesse qual era o seu nome e como você era. Você sabe, era mais como se eu estivesse falando com uma pessoa e não com uma parede.
— E é mais fácil?
Ela hesitou. — Na verdade, não.
Mas ela não deu mais detalhes e eu não pressionei, principalmente porque estava tentando me afastar da série de desejos implausíveis que lotavam minha mente.
Não, você não pode perguntar o nome dela.
Não, você não pode abrir a porta para ver como ela é.
Não, você não pode solicitar que ela apenas lhe conte sobre os seus pecados carnais.
— Você está pronta para começar? Perguntei, tentando redirecionar meus pensamentos de volta ao assunto em questão, a confissão.
Siga o roteiro, Anselmo.
— Sim. ela sussurrou. — Sim estou pronta.