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939 Words
Coringa... Uma semana limpo parecia pouco tempo, mas para mim era como se fosse um ano e uma grande vitória. Já conseguia dormir, comer e me sentir melhor. A situação que eu passei, não desejo nem para o meu pior inimigo. Quando eu era moleque, meu pai era usuário também, e muita das vezes presenciei ele agredir minha mãe e até mesmo a mim. Vendia as coisas de casa pra sustentar o vício, perdeu o emprego e quem colocava comida na mesa era minha coroa que fazia faxina na casa dos playboy no asfalto. Eu era só um moleque po, batia de frente com ele pra defender minha mãe, por que ele sempre agredia ela brutalmente a ponta de deixá-la desmaia. Eu sempre entrava em desespero e se fecho os olhos, o filme inteiro da minha vida passa diante deles. Era domingo a tarde, eu estava chegando em casa depois de jogar um futebol no caminho com os moleques, minha sempre fazia bolo de fubá aos domingo, e eu me amarrava. Já tinha chegado na fome, mas não vi ninguém em casa e um silêncio absoluto. Havia marcas de sangue pra todos os lados, corri no quarto dela e me deparei com a cena que tento esquecer até hoje. O corpo da minha mãe em cima da cama com diversos cortes de faca, incluindo rosto e pescoço, ela sempre lutava com meu pai, só que ele era mil vezes mais forte, e no efeito da d***a, parecia ser possuído por uma força sobrenatural. O lençol de branco, se tornou um mar de sangue, e mais a gente no chão, ele caído com uma arma na mão e um buraco de bala na lateral da cabeça. Ele matou minha mãe e em seguida se matou, mas quis se certificar de que ela sofreria antes, o rosto dela estava irreconhecível, a dor de lembrar ao imaginar o quanto ela sofreu e eu não estava ali pra defender, sempre me corroeu por dentro. Ele podia simplesmente meter uma bala na cabeça dela e acabar com tudo. Mas ele matou a facada, lento e c***l como a pessoal h******l que ele era. Eu morria de medo dele, só a voz me fazia espremer. E eu me sentia sempre incapaz de proteger mesmo sendo só a p***a de uma criança. Sentia inveja dos moleques da minha idade, sempre saindo com a família seja pra lanchonete ou igreja, e isso nunca acontecia comigo. Era só brigas, agressões, a única que sempre esteve por mim, foi minha mãe. A família se afastou dela por não aprovar o relacionamento que ela levava com o cara que eu tinha pra chamar de pai. Com a morte dos dois, eu fui parar no orfanato por ninguém da minha família querer ficar comigo. Fiquei dos 7 as 14 anos, quando juntou um bonde pra fugir e vim pro morro, por que até lá, a gente sofria pra c*****o na mão das pessoas, e minhas esperanças de ser adotado, já tinha ido pra casa do c*****o. Só adotavam as crianças mais novas, e as mais velhas como eu, eram deixadas pra trás. E cada ano que se passava lá dentro, a esperança de ter uma família de novo, ia junto. Quando eu vim para o morro, a primeira pessoa que eu bati de frente foi o Falcão, me acolheu como se eu fosse seu filho, me ensinou vários bagulhos e temia que eu entrasse na vida do crime, sempre dizia que aquilo não era vida pra um moleque feito eu. Fiquei morando com o coroa dele e a madrasta por um tempo, e depois quando comecei como vapor, fui morar sozinho e fiquei sonho desde então. Quando conheci a Mari, vi mudança no jeito que Falcão era, e achava lindo a relação dos dois e ainda sonhava com uma mulher que me fizesse mudar assim. Sol ainda era criança, e sempre foi uma menina cativante, andava comigo pelo morro grudada em mim, feito carrapato. Nunca olhei ela com maldade, era mais pra sobrinha mesmo. O carinho que eu tinha por ela, era inexplicável. f**a foi que ela cresceu, tinhosa pra c*****o e já não queria mais respeitar o tio coringa aqui. Meus sentimentos por ela mudou muito facilmente, e eu até tinha receio disso. Quando ela entrou na minha como mulher, tudo mudou pra melhor. Fraquejei em pensar que eu poderia virar o pai que eu tive, tive medo de ser o que os não mereciam. Tive que enfrentar meus anjos e demonios numa luta constante em minha mente, me dizendo que eu não iria conseguir e falhar, e por outro lado uma outra voz dizendo que tudo se resolveria, só bastava eu ter força de vontade. Não sou vítima disso, e tô longe de ser, fiz o que fiz por ser fraco e agora tenho que lidar com isso e a angústia de ver meu filho crescer e minha família longe. Sol foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos, e eu sou egoísta demais pra deixar ela ir embora assim, mesmo sabendo que ela merece um cara melhor que eu. E mesmo que não déssemos certos juntos, ficaríamos errados mesmo. O destino jogou ela no meu colo como quem recebe um prêmio da loteria, a euforia de ter um bem tão valioso quanto, me causava arrepios só de imaginar ela em outros braços que não fossem os meus. Tive que passar pelo processo da dor e solidão sozinho, pra entender que um homem sem uma família não é ninguém. E eu tô correndo atrás de ter a minha de volta. Só Noah, eu e minha eterna bonequinha.
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