Capítulo 2

911 Words
As manhãs em Las Vegas nunca eram silenciosas. Mesmo com o sol filtrando pelas cortinas do quarto de hotel, o som das máquinas e dos passos apressados no corredor pareciam lembrar Lara que, ali, ninguém dormia — apenas esperava o próximo jogo. Ela ainda sentia o peso da noite anterior. A voz de Dante ecoava em sua mente como um sussurro impossível de ignorar. “Bem-vinda ao inferno, Rainha de Copas.” Ela se levantou, foi até a janela e olhou a cidade dourada que se estendia até o horizonte. Parecia tão viva… mas tudo ali era falso, montado para distrair. Assim como os sorrisos das pessoas que apostavam suas fortunas — e às vezes, suas almas. No celular, uma mensagem piscava na tela: “Parabéns, L. Martins. Você foi oficialmente convidada para o torneio principal.” Lara franziu o cenho. O convite só era enviado aos melhores jogadores da noite, e ela sequer havia completado a rodada classificatória. Algo estava errado. — Sofia, verifica isso pra mim — disse ela, ligando o fone discreto. — Alguém mexeu nos registros do torneio. Do outro lado, Sofia respondeu, digitando rápido. — Já estou vendo. Espere… o seu nome foi adicionado manualmente. Sem identificação do sistema. — Alguém me colocou lá? — Sim, e com prioridade máxima. Como se fosse… uma recomendação direta. Lara se sentou à beira da cama, o coração acelerando. — Quem tem esse tipo de acesso? — Só a diretoria do cassino e… — Sofia hesitou — …Dante Moretti. O nome dele fez algo dentro dela estremecer. Lara ficou em silêncio por um instante. — Ele não teria motivo pra isso. — Você subestima o tipo de interesse que um homem como aquele pode ter — retrucou Sofia. — E, francamente, não acho que seja profissional. Lara ignorou o comentário da sua melhor amiga A noite anterior ainda estava fresca demais em sua mente. O olhar dele, o sorriso torto, a forma como parecia entender cada movimento dela… Era insuportável o quanto ele a desequilibrava. -------------- Horas depois, o salão principal do torneio estava lotado. Os holofotes iluminavam as mesas enquanto o público vibrava com cada jogada. Lara entrou dentro do salão com a cabeça erguida, os cabelos soltos caindo sobre os ombros, um vestido vinho marcando as curvas com elegância e poder, sempre segura de si. Os olhares a seguiram a cada passo— inclusive o dele, que não via a hora dela chegar perto. Dante Moretti estava de pé, encostado no bar, observando-a. Um terno cinza escuro, o topete impecável, e aquele olhar… Frio, intenso, perigoso. Mas quando os olhos se encontraram, ele sorriu — lento, como se saboreasse o efeito que causava nela. Lara se aproximou da mesa e sentou-se. Dante não demorou para se juntar a ela, pegando o assento logo à frente. — Recebeu o convite? — ele perguntou, a voz baixa, quase um desafio. — Recebi. — Ela respondeu sem olhá-lo. — Engraçado, não pedi pra estar aqui. — Algumas pessoas não pedem sorte. Ela apenas as escolhe. Lara ergueu o olhar. — Ou talvez alguém esteja tentando manipulá-la. Dante se inclinou sobre a mesa, o rosto a centímetros do dela. — Manipular? — Um sorriso perigoso curvou seus lábios. — Querida, neste jogo, ninguém manipula você… a menos que você permita. A respiração dela falhou por um segundo pela sua aproximação repentina. O dealer começou a distribuir as cartas para todos, quebrando a tensão. Mas nada conseguiu apagar o que havia acontecido naquele instante: Dante tinha conseguido o que queria — entrar sob a pele dela causando mais efeito sobre ele e tentando destabiliza-la. ---------- Horas mais tarde, Lara saiu do salão e foi até o terraço dos fundos, em busca de ar, pois lá se sentia sufocada dentro daquele ambiente onde só tinha rico e luxo. A noite estava morna, e as luzes da cidade piscavam como promessas falsas. Ela se encostou na grade, tentando colocar os pensamentos em ordem, quando uma voz soou atrás dela. — Está jogando bem, Rainha de Copas. Ela se virou — Dante. Como sempre, parecia ter surgido do nada. — Está me seguindo agora Sr misterioso? — Observando. — Ele deu um passo à frente, os olhos presos nos dela. — Há uma diferença. — Por quê? — ela perguntou, com a voz firme, mesmo sentindo o corpo inteiro reagir à presença dele, como isso é possível. — Por que tanto interesse em mim? Ele a fitou por um longo momento, o vento bagunçando os cabelos dela. — Porque você não joga como os outros. — Como assim? — Você não joga pra ganhar dinheiro. — Ele se aproximou ainda mais. — Joga pra provar algo. Pra alguém. Ou pra si mesma. Isso é intrigante. O silêncio entre eles era elétrico. Dante levantou a mão, quase tocando o rosto dela — mas parou antes que seus dedos a encostassem. — Isso é perigoso, você sabia? — ele murmurou. — Quanto mais você aposta, mais o jogo começa a apostar em você. Lara sustentou o olhar, firme, mesmo com o coração disparado. — E você? O que aposta, Dante Moretti? Ele sorriu, misterioso como sempre. — Eu aposto tudo… até perder o que não deveria. E antes que ela pudesse responder, ele se afastou, desaparecendo entre as sombras. Deixando Lara com a sensação de que o verdadeiro jogo acabara de começar — e que a cada carta virada, seu coração estava cada vez mais em risco.
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