As manhãs em Las Vegas nunca eram silenciosas.
Mesmo com o sol filtrando pelas cortinas do quarto de hotel, o som das máquinas e dos passos apressados no corredor pareciam lembrar Lara que, ali, ninguém dormia — apenas esperava o próximo jogo.
Ela ainda sentia o peso da noite anterior.
A voz de Dante ecoava em sua mente como um sussurro impossível de ignorar.
“Bem-vinda ao inferno, Rainha de Copas.”
Ela se levantou, foi até a janela e olhou a cidade dourada que se estendia até o horizonte.
Parecia tão viva… mas tudo ali era falso, montado para distrair.
Assim como os sorrisos das pessoas que apostavam suas fortunas — e às vezes, suas almas.
No celular, uma mensagem piscava na tela:
“Parabéns, L. Martins. Você foi oficialmente convidada para o torneio principal.”
Lara franziu o cenho.
O convite só era enviado aos melhores jogadores da noite, e ela sequer havia completado a rodada classificatória.
Algo estava errado.
— Sofia, verifica isso pra mim — disse ela, ligando o fone discreto. — Alguém mexeu nos registros do torneio.
Do outro lado, Sofia respondeu, digitando rápido.
— Já estou vendo. Espere… o seu nome foi adicionado manualmente. Sem identificação do sistema.
— Alguém me colocou lá?
— Sim, e com prioridade máxima. Como se fosse… uma recomendação direta.
Lara se sentou à beira da cama, o coração acelerando.
— Quem tem esse tipo de acesso?
— Só a diretoria do cassino e… — Sofia hesitou — …Dante Moretti.
O nome dele fez algo dentro dela estremecer.
Lara ficou em silêncio por um instante.
— Ele não teria motivo pra isso.
— Você subestima o tipo de interesse que um homem como aquele pode ter — retrucou Sofia. — E, francamente, não acho que seja profissional.
Lara ignorou o comentário da sua melhor amiga
A noite anterior ainda estava fresca demais em sua mente.
O olhar dele, o sorriso torto, a forma como parecia entender cada movimento dela…
Era insuportável o quanto ele a desequilibrava.
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Horas depois, o salão principal do torneio estava lotado.
Os holofotes iluminavam as mesas enquanto o público vibrava com cada jogada.
Lara entrou dentro do salão com a cabeça erguida, os cabelos soltos caindo sobre os ombros, um vestido vinho marcando as curvas com elegância e poder, sempre segura de si.
Os olhares a seguiram a cada passo— inclusive o dele, que não via a hora dela chegar perto.
Dante Moretti estava de pé, encostado no bar, observando-a.
Um terno cinza escuro, o topete impecável, e aquele olhar…
Frio, intenso, perigoso.
Mas quando os olhos se encontraram, ele sorriu — lento, como se saboreasse o efeito que causava nela.
Lara se aproximou da mesa e sentou-se.
Dante não demorou para se juntar a ela, pegando o assento logo à frente.
— Recebeu o convite? — ele perguntou, a voz baixa, quase um desafio.
— Recebi. — Ela respondeu sem olhá-lo. — Engraçado, não pedi pra estar aqui.
— Algumas pessoas não pedem sorte. Ela apenas as escolhe.
Lara ergueu o olhar.
— Ou talvez alguém esteja tentando manipulá-la.
Dante se inclinou sobre a mesa, o rosto a centímetros do dela.
— Manipular? — Um sorriso perigoso curvou seus lábios. — Querida, neste jogo, ninguém manipula você… a menos que você permita.
A respiração dela falhou por um segundo pela sua aproximação repentina.
O dealer começou a distribuir as cartas para todos, quebrando a tensão.
Mas nada conseguiu apagar o que havia acontecido naquele instante:
Dante tinha conseguido o que queria — entrar sob a pele dela causando mais efeito sobre ele e tentando destabiliza-la.
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Horas mais tarde, Lara saiu do salão e foi até o terraço dos fundos, em busca de ar, pois lá se sentia sufocada dentro daquele ambiente onde só tinha rico e luxo.
A noite estava morna, e as luzes da cidade piscavam como promessas falsas.
Ela se encostou na grade, tentando colocar os pensamentos em ordem, quando uma voz soou atrás dela.
— Está jogando bem, Rainha de Copas.
Ela se virou — Dante.
Como sempre, parecia ter surgido do nada.
— Está me seguindo agora Sr misterioso?
— Observando. — Ele deu um passo à frente, os olhos presos nos dela. — Há uma diferença.
— Por quê? — ela perguntou, com a voz firme, mesmo sentindo o corpo inteiro reagir à presença dele, como isso é possível. — Por que tanto interesse em mim?
Ele a fitou por um longo momento, o vento bagunçando os cabelos dela.
— Porque você não joga como os outros.
— Como assim?
— Você não joga pra ganhar dinheiro. — Ele se aproximou ainda mais. — Joga pra provar algo. Pra alguém. Ou pra si mesma. Isso é intrigante.
O silêncio entre eles era elétrico.
Dante levantou a mão, quase tocando o rosto dela — mas parou antes que seus dedos a encostassem.
— Isso é perigoso, você sabia? — ele murmurou. — Quanto mais você aposta, mais o jogo começa a apostar em você.
Lara sustentou o olhar, firme, mesmo com o coração disparado.
— E você? O que aposta, Dante Moretti?
Ele sorriu, misterioso como sempre.
— Eu aposto tudo… até perder o que não deveria.
E antes que ela pudesse responder, ele se afastou, desaparecendo entre as sombras.
Deixando Lara com a sensação de que o verdadeiro jogo acabara de começar — e que a cada carta virada, seu coração estava cada vez mais em risco.