Mônica:
Escutando as palavras que Carolina proferia contra Júlia, senti uma vontade imensurável de entrar dentro daquele banheiro, e falar umas poucas e boas para aquela mulherzinha nojenta.
Entrando no mesmo, a mulher de pele morena, cabelos negros como a noite e olhos cor de mel, me olhou um pouco assustada, mais logo sorriu de lado e arrumou seu blazer.
Passando por mim, senti o cheiro de falsidade pairar no ar. Me aproximando da suposta cabine em que Júlia estava, dei três toques na porta.
— Me deixa em paz, por favor Mônica. — Mordendo meu lábio inferior, me neguei a deixar aquela menina ali, fragilizada emocionalmente sozinha.
— Não, eu não vou deixar você aqui sozinha. Você pode ficar ai dentro ser quiser, mais me recuso a lhe deixar aqui sozinha. — Respondo a mesma, não obtendo nenhuma resposta, me encostei na parede.
— Você foi embora? — Sorrindo de lado, arrumei meu cabelo atrás da orelha.
— Eu disse, não vou te deixar aqui sozinha. — Digo novamente. Júlia poderia ser essa garota chata, mimada e insuportável quando quer.
Mas quando quer, sabe ser divertida, engraçada e super amigável. É leal aos seus amigos, vejo o quanto ela ama os dois. O pouco que conheço dela, vejo que ela têm múltiplas personalidades, é só não mexer com a errada e está tudo resolvido.
— Eu ouvi o que ela disse para você Júlia, não liga para o que ela diz. Não deixe que essas palavras te firam, que te machuquem, não deixe ela te machucar desse jeito. — Digo sentindo meu coração falhar, eu e Júlia poderíamos ter nossas diferenças em algumas coisas, mais eu jamais permitiria que machucassem essa menina dessa forma.
— Ela está certa Professora, eu sou, sou.. Tudo séria tão mais fácil se eu gostasse de garotos como todas as outras garotas normais. — Sua voz rouca e baixinha denunciavam seu choro e aquilo fez com que meu coração se partisse ao meio.
— Júlia, me escuta por favor. Não diga isso, você é normal, normal do seu jeitinho. Só você sabe ser a Júlia chata e insuportável, aquela que me tira do sério, que me faz ter vontade de lhe dar uns tapas, ai só Deus sabe o quanto me seguro para não fazer isso. — Digo e escuto ela dar um breve risinho.
— Você acha que eu sou normal por gostar de garotas?
— Claro que você é normal Júlia. Isso não te torna menos humana do que qualquer outra pessoa, isso não te torna uma aberração ou seja lá o que aquela mulher lhe falou. — Suspiro mordendo meu lábio inferior. — Você é especial do seu jeitinho, nem se você fosse um peixinho fora d'água isso te tornaria menos pessoa do que eu, ou do que ela. Tudo bem que você seria um peixinho, mais ainda sim, seria a Júlia Medeiros.
— Mônica, ela têm razão. Eu beijei ela, eu não deveria ter feito, isso, não se deve fazer isso com mulher alguma, é errado, Deus abomina. — Respirando fundo, mordi meu lábio inferior.
— Sim, você realmente não deveria tê-la beijado, mas isso não quer dizer que ela deva lhe tratar assim, te julgar por você ser lésbica e dizer aqueles tipos de coisas para você. Se te serve de consolo, eu também gosto de mulheres, minha mãe surtou quando soube, ela quase arranco.. — Parando de falar para não dizer o que eu não diveria, Júlia deu um breve riso.
— Você ia falar bolas? — Perguntou a mesma parecendo querer rir do meu comentário, sorrindo me aproximei da porta encostando minha testa na madeira.
— Sim, eu iria falar isso mesmo. O que eu quero dizer é; A opinião dos outros não importa, a única opinião que você tem que se importar, são das pessoas que realmente te amam, que querem seu bem e que mesmo surtando, vai te aceitar do jeitinho que você é. Talvez algumas pessoas ao seu redor não aceitem no início, mais só o tempo dirá se eles realmente merecem ter você em suas vidas. — Digo. Sem obter resposta alguma da mesma, continuei ali. Só me afastei da porta quando escutei a mesma destrancando.
Olhando para aquele belo rostinho, Júlia estava com seu nariz e olhos vermelhos, sem contar que seus belos olhinho estavam inchados.
— Vem cá minha menina de cabelos de fogo. — Chamo a mesma, a qual sorri sem graça e vem até mim.
Cabelos de fogo, porque Júlia é ruiva. Seus cabelos são tão vermelhos quanto o mesmo e sua pele tão branca quanta as nuvens..Talvez eu não tenha mencionado esses pequenos detalhes antes, porque eu não tenha reparado tanto na mesma.
Seu rosto havia algumas sardas espalhadas pelo o mesmo, seus olhos verdes, me lembrava o pingete de Esmeralda do colar que eu lhe dei.
— Professora, você gosta de mim mesmo? — Olhando para aquele rosto angelical, suspirei dando um sorriso de lado.
— Sim, eu gosto de você. Apesar de você ser realmente insuportável. — Comento e a mesma revira os olhos, rindo de seu ato Júlia foi lavar seu rosto.
— Júlia, não ligue para essas pessoas que só querem te machucar. Sempre que você se sentir mau e precisar de alguém para conversar, eu estarei de braços abertos para receber você junto de seus problemas. Seja ele qual for, estarei de braços abertos para receber você.
Mônica:
A conversa que eu tive hoje mais cedo com Júlia, não saía de minha cabeça. Ouvir ela me dizer que gostava de Carolina, que era apaixonada por essa mulher desde seus 13 anos, me deixou um pouco incomodada.
Não sei explicar, mais algo dentro de mim, me deixou incomodada em saber disso. Sem contar que Carolina já me irritava por si só, com aquele seu jeito de mulher certinha, de quem nunca pecou em sua vida.
— A Senhora vai se casar com essa moça? — Júlia perguntava olhando a foto ainda no papel de parede em meu celular, a qual eu estava com Amanda na casa de verão que ganhei de meus pais ainda quando eu tinha 18 anos.
— Sim, ela se chama Amanda, conheci ela em uma das trilhas de corridas que estava fazendo com meus amigos e estamos juntas já têm um 5 anos, me mudei para cá quando pedi ela em casamento. — Digo e Júlia sorri me devolvendo meu celular.
— Ela é bonita, parece ser legal, cuidadosa, carinhosa e muito amável com você. — Comenta a mesma e eu sorrio de lado. Realmente Amanda era tudo isso e um pouco mais, as vezes ela conseguia ser mais insuportável que Júlia.
— Sim, verdade, ela realmente é muito amorosa e carinhosa comigo. — Respondo guardando meu celular, Júlia parecia querer me perguntar algo, mas apenas me deu um sorriso pequeno e ficou em silêncio.
Se me perguntassem se eu amo minha noiva, eu diria que sim. Eu amo demais ela, só que acreditem, eu não sinto aquele amor que me incendeia, que faz meu corpo vibrar, meu coração bater de alegria ao vê-la, não fico pensando nela 24horas por dia, não conto as horas para vê-la novamente.
Nem sei se o que realmente sinto por ela é amor, até porque em todos esses anos de minha vida. Só tive ficantes de noites em que saia para encher a cara e assim como Júlia já tive minhas paixões. A primeira mulher por que me apaixonei, foi minha professora da faculdade.
Loira, baixinha, toda delicada, engraçada, amorosa e super carinhosa. No começo foram apenas trocas de sorrisos, olhares. No dia da formatura, após toda aquela festança toda, a mesma veio até mim ao fim daquela noite.
Eu sempre fui uma mulher digamos que, mesmo que cuidasse de minha beleza. Nunca cheguei a ser totalmente feminina, sempre usando calças largas, camisas com estampa de bandas de rock e tênis surrados, mais cuidava da pele, dos cabelos e das unhas. Seja sapatão macho, mais vaidosa.
Aquela noite Rita estava linda, usava um vestido branco super justo em seu corpo, usava salto alto prateado todo aberto. Seus cabelos loiros que antes eram compridos, estavam cortados em um corte estilo chanel.
19 anos atrás
— Olá garotas — Sorrindo ao vê-la em minha frente, Rita me puxou para um abraço e deixou um beijo na bochecha de minha amiga.
— Como estão? Fico tão feliz que vocês se formaram juntas. — Angela sorriu e se virou para pegar mais bebida.
— Sim, estamos feliz com isso também, amiga eu vou atrás da Michelle, fiquei de levar ela para casa. — Concordando com minha amiga, a mesma saiu após me dar um abraço. Rita se colocou ao meu lado e pegou um copo o enchendo de bebida.
— Michelle é namorada dela?
— Não, é amiga da família, moram perto uma outra e Angela prometeu aos pais da Michelle que levaria ela para casa 0:00 sã em salva. — Comento e a mesma sorri, ficamos ali uma do lado da outra, sem trocar se quer uma palavra, apenas aproveitando uma a companhia da outra.
— Eu vou para casa também, estou cansada, espero que se divirta o resto da noite Mônica — Tendo Rita beijar minha bochecha, senti seu doce cheiro de flores impregnar meu olfato.
— Ah não, que isso, logo logo eu também vou embora, até porque Angela não irá mais voltar. — Digo me afastando da bela mulher a minha frente, a qual estava segurando em minha cintura.
— Se quiser ir agora, eu te dou uma carona. — Mordendo meu lábio inferior tomo um grande gole daquela bebida de cor rosa, colocando o copo sobre a mesa atrás de mim.
— Não precisa, eu vim de carro, então não precisa se preocupar com esse pequeno detalhe. — Digo colocando as mãos nos bolsos de minha calça.
Seus belos olhos azuis, tomaram uma cor sem brilho algum. Rita sorriu de lado se afastando de mim.
— Bom, tudo bem. Então eu vou indo se cuida espero vê-la algum dia novamente. — Vendo-a se afastar de mim, respirei profundamente.
Eu nunca mais veria ela novamente, e mesmo que minha paixão fosse platônica, eu não acho que seria ético me relacionar com minha ex-professora, quando acabo de me formar em uma. Mas no momento quem se importa com isso? Saindo do local em que estava rolando a festa, encontrei a mesma já parada ao lado de seu carro no estacionamento.
Vendo-a sorrir para mim, me aproximei da mesma lhe puxando para um beijo ardente e cheio de desejo.
— Vamos para minha casa?
Dias atuais
Talvez Júlia perceba que nunca sentiu realmente algo tão verdadeiro por Carolina, quando conhecer outra pessoa.
Mônica:
— Mônica, quero dizer Professora, eu comprei isso para Senhora. — Olhando para Júlia, a mesma carregava em suas mãos uma pulseira delicada com alguns pingentes envolta de esportes.
Havia muitas bolas de basquete, poucos de futebol, algumas de handebol, boliche, golf e até mesmo livros e quatro pingentes do Impala 77 de cores diferentes.
— Que lindo Júlia — Digo pegando a pulseira de sua mão, olhando cada um daqueles pingentes, olhei para a mesma, a qual tinha um sorriso lindo em seus lábios.
— Você não existe garota — Puxo a mesma para um abraço apertado. Júlia apenas reclama baixinho e eu lhe solto sem pressa alguma.
— Comprei isso aqui também — Vendo ela me entregar uma caixinha pequena na cor preta, peguei de suas mãos e abri vendo uma correntinha delicada prata com um pingente de bola de basquete na mesma.
— Júlia, desse jeito você vai me mimar muito. — Digo colocando a corrente em meu pescoço, a mesma sorriu e desviou seu olhar dos meus.
— Não me importo com isso, o importante é que tenha gostado. Quando vi este colar pensei de imediato na Senhora, e os pingentes da pulseira são removíveis, essa pulseira era minha, tirei os que tinham nela e coloquei esses que comprei, não deixei os outros, porque não faz seu estilo. — Comenta a mesma fazendo careta, eu apenas sorri de lado e revirei meus olhos.
— Grande coisa, obrigado pela pulseira, apesar de não usar muito essas coisas, amei ela. — Digo. Júlia sorriu e saiu andando, e como sempre a mesma sendo legal comigo e saindo andando.
Júlia é uma garota muito difícil de demonstrar seus sentimentos, e quando demonstra logo se fecha.
Acho que com quem ela mais se abriu, foi com minha amiga Angela. E um pouco comigo naquela dia do seu aniversário, desde então temos conversando diariamente, sem contar as vezes que brigamos por coisas infantis como sempre.
Júlia:
Mônica estava linda como sempre, usando suas famosas legging preta, camisa regata e tênis para esporte. Seus cabelos compridos e ondulados, ela havia cortado chanel, o que deixou ela bem mais bonita e realçou demais sua beleza.
Não que eu tenha reparado demais nela esses últimos dois meses, só que ela têm um corpo bem másculo, ela têm pouca cintura, sua barriga é deveras definida, suas coxas super bem trabalhadas na academia, corridas e caminhada ao ar livre que ela faz. Seus braços não mudam muito, são fortes, e os músculos mesmo que não sejam tão exagerados. Não me julguem, só as poucas vezes que ela me abraçou, eu quase faleci em seus braços.
Descobri uma tatuagem quase perto de sua virilha, uma abaixo de seus s***s, e outra na sua lombar. Eu ainda iria descobrir outras, mas por agora, acho que estas estão de bom tamanho.
Um dia desses perguntei a ela o que ela acharia se eu fizesse uma tatuagem, ela quase me arranca os órgãos viva mesmo.
— Júlia — Olhando para trás, dei de cara com Carolina, o que me deixou super desconfortável em estar diante da mesma.
— Oi Professora, precisa de algo? — Perguntei para a mesma, a qual mordeu seu lábio inferior.
— Eu.. Eu queria saber se você está bem? — Desfazendo minha cara de simpática e lhe olhando com tédio, a mesma que pareceu ficar desconfortável agora.
— Porque não vai ver se eu estou ali na esquina em? E me deixa em paz. — Perguntei para a mesma, a qual bufou e se aproximou de mim.
— Você está com ela? Não está? Só foi eu te dispensar e você correu direto para os braços dela. — Revirando meus olhos, senti meu corpo encostar na parede gelada do corredor a cada passo que ela andava em minha direção.
— Ela quem? — Me pergunto em voz alta, até porque eu não fazia a mínima ideia do que ela estava falando.
— Não se faça de ingênua Júlia, porque eu sei que você não é. Eu estou falando daquela ridícula da Mônica, acha que eu não tenho reparado em vocês duas e essa proximidade toda? — Revirando meus olhos, fitei aquelas orbes cor de mel.
— Por que isso agora? Por que não me deixa em paz? — Perguntei para a mesma, a qual parou apenas alguns centímetros de distância de meu corpo.
— Não me peça isso Júlia, eu só precisava colocar minha cabeça em ordem. Pensa nisso tudo com mais calma, você me pegou desprevenida, eu não soube como reagir naquela hora. — Sentindo seu hálito quente bater contra meu rosto, não desviei meu olhar de seus olhos um minuto se quer.
— Por que você disse aquelas coisas para mim?
— Eu estava assustada, não soube como reagir, e acabei descontando daquela forma em você. — Seus dedos finos e de unhas grandes pintadas de vermelho, acariciava meu rosto.
— Eu gosto de você Júlia, gosto muito, você não saí da minha cabeça. Desde que me beijou, eu não tenho parado de pensar nisso. — Sentindo seus lábios roçarem os meus, algumas lágrimas rolaram livres e soltas por minha face.
— Não, você está mentindo. Você não gosta de mim Professora, se você gostasse, você não teria falado aquelas coisas para mim. E dois meses? Serio que veio me dizer isso, após dois meses? — Perguntei limpando meu rosto, a mesma ficou me encarando.
— Olha, a Senhora é linda, encantadora, uma mulher belíssima. Quando lhe vi pela primeira vez, achei que a Senhora merecia muito mais do que apenas este cargo de Professora. Quando eu desenhava minha modelos para roupas nos meus desenhos, eu lhe imaginava no lugar delas. — Comento sorrindo feito uma i****a ao lembrar disso, todos os desenhos que tenho colado no mural do meu quarto, todas são elas.
— Eu sempre quis te dar um mundo, a galáxia e o universo inteiro. Sempre achei que a Senhora merecia tudo, tudo que eu pudesse alcançar, e que se fosse possível, eu lhe daria, as estrelas, a lua e até mesmo o sol se fosse possível. — Sorrio para a mesma, a qual estava parada como estátua apenas me olhando sem dizer nada.
— A Senhora é linda, qualquer aluno deve ter o mesmo pensamento que os meus. E eu não estou sentindo nada pela Mônica, ela é uma mulher bonita sim, mas não despertou interesse algum em mim, como você havia despertado quando pisou seus pés pela primeira vez dentro daquela sala, quando eu tinha apenas 13 anos. — Vendo Carolina se aproximar, dei alguns passos para trás e a mesma parou.
— Me desculpa Júlia, eu não queria lhe machucar deste jeito. Sei que errei, mais por favor me dê uma segunda chance, nós duas eramos tão boas amigas. — Revirando meus olhos, limpo as poucas lágrimas que teimavam em sair.
— Falou certo Professora, eramos. Não sei consigo conviver com alguém como você, eu te perdôo, porque assim como seu bom Deus, eu tenho um bom coração. Não te desejo nenhum m*l, só te desejo tudo de bom, que você seja feliz e que quem saiba seja promovida a Diretora da escola, eu sempre achei que este cargo seria digno a você. — Sorrindo para a mesma, me afastei dela aos poucos para só então lhe dar as costas.