Você é o meu objeto de desejo, mas eu sou um pesadelo caminhando.
Ellowen
— Ellowen, chegou um pacote para você — Kalye, minha amiga de apartamento, avisa — é enorme, comprou alguma coisa?
— Não que eu me lembre — afirmo confusa — pode trazer para mim? — grito do alto da escada esperando minha amiga subir.
Quando Kalye e eu decidimos qual curso fazer, entramos em um acordo que dividir o mesmo apartamento seria mais vantajoso para ambas, já que nossos empregos não nos davam tanta opção de escolha no quesito casa. Não ganhávamos tantos para morar em um apartamento com mais de 4 cômodos, mas era o suficiente para não morrermos de fome até nos formar.
— Hum... Está pesado — constatou ela — abra logo, estou curiosa!
Pego a caixa sacudindo e nada se balança do lado de dentro. Franzo o cenho preocupada ao olhar na nota fiscal, sem remetente, só destinatário e apenas com o meu primeiro nome, o que já me deixou de certa forma paranoica.
— E se for uma bomba? — reclamo, com medo do que há dentro dessa caixa — devolva isso, não vou abrir.
— Não é uma bomba, se fosse já teria explodido pela forma que você chacoalhou essa caixa. Deixa de ser b***a e abra — resmunga com os braços cruzados — Além de que, não conseguiríamos devolver, não há remetente.
— Abra você então!
Entrego a caixa para ela que pega rapidamente ansiando saber o que tem dentro, com o pé atrás que sempre tive em coisas que chegam momentaneamente para mim, me afasto.
— Sabe que se fosse explodir, você morreria também, certo? — adverte — não adiantaria nada estar poucos metros longe de mim.
— Pelo menos o velório seria de caixão aberto, não ficaria tão destruída assim — brinquei, Kalye revirou os olhos com uma faca na mão pronta para estraçalha a fita adesiva em volta — o que tem dentro?
— Você não vai acreditar! — seu olhar surpresa fez o bile subir em minha garganta e eu quase vomitar — ca ra lho!
Me abaixo rapidamente quando meus olhos miram no objeto dentro, ainda embrulhado mas eu sei perfeitamente do que se trata.
— Nem fodendo! — aceno rapidamente — é uma phase one xt iq3. Meu Deus! Quem me enviou isso?
— Não é aquela câmera que vale alguns milhares de dólares, mas tiram fotos apenas em preto e branco?
— Sim! — afirmei ainda extasiada, retirando com cuidado a câmera de dentro da caixa, admiro o objeto tão valioso em minhas mãos, isso aqui quase pode valer minha própria vida — meu Deus, eu...
— Ficou sem palavras! — afirmou Kalye, sorridente demais — vai treinando enquanto eu busco nosso almoço no restaurante, e quando eu voltar, quero que tire algumas fotos minha.
Kalye não me dá tempo de responder que não posso a fotografar com essa câmera que custou muito e eu não sei quem me enviou. Talvez ocorreu algum erro e entregaram para Ellowen errada, e que daqui alguns minutos o carteiro voltará para pegar e entregar ao destinatário certo. Meus dedos trêmulos me permitem explorar ainda mais dentro do pacote, até eu encontrar uma rosa n***a, de verdade, juntamente com uma pequena carta.
"É o meu primeiro presente entre muitos que desejo te dar. Espero que consiga fotografar as noite que você tanto admira, e que eu consiga te admirar da mesma forma que você observa as estrelas.
Obs: Essa rosa n***a te representa, você é tão linda quanto ela.
Shadow."
Solto a rosa em minha mão e fico estática parada no mesmo lugar. Lembro perfeitamente de quando recebi uma mensagem com minhas fotos bem no centro de Nova York algumas semanas atrás. Era alguém que conseguia me ver perfeitamente, mas eu não o achei naquela noite. No entanto, foram apenas aquelas mensagens e ele nunca mais apareceu, mesmo que eu mantivesse o celular sempre ligado esperando por alguma resposta sua.
Como se pudesse ouvir meus pensamentos, pulo do sofá quando o som estridente atinge meus ouvido, corro até o quarto na tentativa falha de atende-lo antes de Kalye chegar e me encher de perguntas sobre o motivo de eu manter outro celular que eu não uso perto dela.
Número desconhecido novamente. Meu dedo vacila antes de atender, o corpo nervoso que sentia o suor escorrendo em minhas costas, minha boca seca como se eu tivesse corrido uma maratona no deserto ao meio dia. Encosto o celular no ouvido, ando até a sala novamente sem falar nada, apenas ouvindo a respiração cansada do outro lado da linha.
— Gostou do presente, diamante n***o? — a voz grave rouca ecoou do outro lado, e a saliva quase não desceu em minha garganta — quero te ver fotografar com ela hoje a noite.
— Kaynan, se for você... — minha voz falhou, uma tentativa de engolir a saliva quase seca fez eu sentir minha garganta arranhar — eu vou cortar seu p*u fora, seu merdinha, e fazê-lo engolir.
— Ellowen... — sua voz saiu como um rosnado de um animal feroz, autoritário — eu não faço a mínima de quem seja Kaynan. Mas me pergunto se essa pessoa seria capaz de te dar algo tão caro. Aliás, Kaynan é homem ou mulher?
— Quem é você, Shadow?
— Responda minha pergunta, e quem sabe essa noite você não me conheça — eu tenho um perseguidor, então é isso? — hum? O gato comeu a sua língua, ratinha?
— Kaynan é um amigo — meu Deus, estou me explicando para alguém que eu sequer conheço — e você, Shadow. Quem é você e por que me comprou algo tão caro?
— Eu posso ser seu maior desejo ou o seu pior pesadelo, a escolha é totalmente sua, Ellowen — afirmou em um tom sútil mas que fez minha pele se arrepiar — posso perguntar por que você alisou nosso cabelo?
— Nosso cabelo? — perguntei confusa.
— Você é linda de qualquer forma, mas eu ainda sim prefiro você com ele cheio, volumoso e eu posso ter quase a certeza de que ele cheira a baunilha. Estou certo? — pego uma mexa do meu próprio cabelo cheirando-o feito uma louca — conferiu para ver se realmente cheira a baunilha?
— O que? — me levanto num impulso jogando o cabelo alisado para trás e olho ao redor — espera, você consegue me ver? Consegue ver o que estou fazendo agora?
— Consigo monitorar cada batida que seu coração da!
— Co... Como? — minha voz falha, nervosa e com medo ao mesmo tempo.
— Neste momento, estou te admirando através da mira do meu rifle — arregalo os olhos quando percebo que estou sentada de frente para a janela aberta, corro até ela fechando as cortinas e ouço sua risada me atingir feito um tiro — ainda consigo te ver, Ellowen.
— Pare com isso, está me deixando asssustada — o nó se formando em minha garganta anuncia que estou prestes a chorar — o que quer comigo?
— Nada que você não queira futuramente. Pode consertar nosso cabelo? — mudou de assunto repentinamente, quando meu outro celular notificou algo e eu abri vendo uma transação do banco no valor de 100 mil dólares — é o suficiente para conseguir fazer isso?
— Meu Deus, você... é algum tipo de doido que tem fetiche em mandar dinheiro para os outros? Eu vou devolver agora.
Aperto na notificação afim de fazer o estorno do dinheiro, mas não há nenhuma informação sobre quem mandou, qual banco. Nada. É uma transação vazia apenas com o valor.
— Você é a p***a de um hacker ou coisa assim? Está brincando comigo, não é?
— Eu só sou um homem com muito dinheiro e sem tempo suficiente para gastá-lo — afirmou — no centro de Nova York, as 20 horas e eu estarei lá para te admirar enquanto você fotografa o céu mais uma vez.
— Você tem um rifle, e... não vai me matar, né? Quero dizer, está com ele apontado para mim. Por que? Você é um soldado? Policial?
— Não sou um soldado, nem um militar...
— Então como você tem um rifle? É um gângster então. Certo? — novamente a risada que me arrepiou minutos atrás, volta invadir meu ouvido apurado.
— Sou um atirador de elite. Quantos você já conheceu em sua vida?
— Nenhum, acho que você é o primeiro — afirmei.
— Espero ser o último, Ellowen — o tom autoritário faz gelar minha espinha — eu te observo faz muito tempo, sabia? Conheço toda sua rotina, até mesmo quando você a quebra. Não sei por quanto tempo mais conseguirei me manter longe, somente te admirando. Mas antes de eu me revelar para você, continuarei te ajudando em que precisar.
— Você não pode achar que controla a vida de alguém só por ter dinheiro — falo com raiva — não pode invadir minha privacidade e ficar me vigiando, isso é crime e se chama perseguição, sabia?
— É engraçado a forma que você acha que está no controle de alguma coisa — engulo a saliva com dificuldade ainda tentando manter a sanidade que resta dentro de mim antes de surtar — não está, pequeno diamante n***o. Você quem não pode achar que pode controlar algo que me pertence.
— Está falando da câmera e do dinheiro? Pegue os de volta, eu não me lembro de ter te pedido por isso.
— Amor... — o sotaque arrastado me faz perceber que ele não é americano — tenho dinheiro suficiente para te comprar quantas câmeras você quiser e ainda sobraria. Não se trata disso...
— Então o que? — perguntei, com medo do que viria logo a seguir.
— Você, Ellowen — afirmou, rouco — você é minha. E o filho da p**a que ousar encostar em um só fio de cabelo desse corpo que me pertence, terá a sorte de talvez conhecer o céu ou inferno cedo demais. Tudo seu, é meu. Cada respiração, cada batida do seu coração e que cada lágrima que você derramar de hoje em diante. Não corra, não tente se esconder, isso só irá aguçar ainda mais meu instinto de caçador, e nesse jogo de gato e rato, você é minha presa, chornaya roza.