Amigas
Ana Clara Smith
Estava concentrada na vista que tinha da minha sala para a cidade. O sol já tingia o céu com suas cores alaranjadas, um prelúdio para a noite que iria ser estrelada.
Era sexta-feira feira, o último dia da semana depois de muito trabalho e dor de cabeça.
Fecho o meu laptop e somente quero saber de trabalho às oito da manhã de segunda feira...
- Hoje é dia de diversão... – Júlia entra na minha sala animada demais.
- Diversão para minha pessoa, certo? Porque você é casada com um i****a! – Júlia remexe a cara se sentando na minha frente com seus grandes olhos analíticos.
Essa mulher me conhecia melhor que a minha própria família.
- Sabe que sou casada, m*l casada, mas ainda assim, tenho um maldito anel no dedo que afasta qualquer homem de perto de mim. – Reviro os olhos.
- Não gatinha, você tem um símbolo que te prende a um casamento falido, sem marido e com muita dor de cabeça. – Júlia suspira profundamente.
- Porque estamos falando do meu casamento de merda? – Me questiona, aparentemente cansada pelo dia cheio.
- Por que se você não fosse casada com aquele babaca! – Falo um dos meus milhões de insultos que tenho guardado para Timothy Santorini. – Estaríamos saindo daqui direto para uma boa diversão. Pense nisso, Júlia. Bebidas, música alta, muitos gatinhos... Duas mulheres poderosas curtindo a noite juntas em uma nova balada que irá abrir hoje.
- Sabe que a banda não toca assim, não posso me dar ao prazer de meter um chifre naquele i****a. Não quero que meu pai pense que não sei cuidar de mim, da minha vida e do meu casamento que aos olhos dele é uma maravilha. – Suspiro.
Odiava essa situação da minha amiga, são quatro anos em que Júlia vivia um casamento de merda ao lado de um s*******o!
Timothy era um cafajeste de marca maior, vivia fora de casa, viajando, trabalhando como louco e não era um bom marido para a minha amiga.
Júlia tentou fazer o casamento deles dar certo, mas o filho de chocadeira era um perfeito canalha. Timothy sabia como deixar a minha amiga frustrada, ele não era nem de longe o marido que os pais de Júlia acreditavam.
Minha melhor amiga não queria passar por mais essa vergonha, deixar que todos vissem o quanto o seu casamento era uma droga.
- Pena que você não consegue meter um chifre bem grande e bem dado naquele desgraçado... – Falo olhando para ela. Nunca me passa a oportunidade de tentar livrar a minha amiga dessa vida. – Tinha que perder o lacre original e se jogar no mundo! – Júlia me olha assustada. - Timothy pode estar tendo um caso e você nem sonha com isso, minha amiga, nunca vi se casarem e não consumar o casamento.
Júlia me olha com aquele olhar que me causa medo, minha amiga era infeliz no casamento, mas a mulher era f**a em sua vida profissional. Ela sabia que cada passo do marido podia ser infeliz, mas a morte para Júlia é ser traída.
- Sabe que se ele me trair, se ele pensar em fazer isso comigo... – Ela ri como se fosse uma bruxa muito malvada. - Ele amanhece com formigas de fogo na boca! Posso ter desistido de tentar ter um relacionamento com ele, mas não sou feita para ser traída. Sabe que eu coloco fogo no mundo se ele fizer isso, não sabe? – Ela me olha com uma expressão que já pensou em tudo.
Cada ato da sua vingança caso Timothy pise feito na bola com ela.
Às vezes eu sentia medo dela, Júlia era intensa, terrivelmente honesta e perspicaz. Nada passava pelo radar daquela mulher, é pior, ela tinha o seu jeito de cobrar as coisas.
- Não sei como ainda não deu um pé na b***a do energúmeno. – Digo brava. – Você é bonita, inteligente, milionária, dona da sua própria empresa de tecnologia... Deus! – Olho para o céu. – Me dá uma forcinha para abrir os olhos da amiga? – Olho para ela. – Você não tem que passar por isso, Júlia. Não a mulher f**a que você é! – digo exaltada.
- Amiga... – Júlia vai me dizer várias coisas que eu não dou a mínima.
Eu sei que ela tem que manter as aparências pela sua imagem de princesinha da família Bailey.
Que ela tem uma família a qual ela ama muito, e não quer se envergonhar por suas atitudes, mas precisa ficar nessa situação a vida toda?
- Júlia, eu juro que tento te entender sobre essa sua preocupação em respeitar a imagem da sua família como se fosse algo inabalável. Esse temor que sente ao mostrar a sua verdadeira essência para ele, mas amiga, não adianta construir um império e temer o rei que não é do seu reino. – Digo querendo que ela entenda que não precisa ficar nessa corda bamba com o pai dela.
- Não sei te explicar também por que sou assim...
– Tenho o mesmo respeito pelos seus pais, sinto o mesmo respeito não tendo uma gota de sangue deles, mas respeito não é o mesmo que controle cego. – Digo sendo sincera. – Não gosto de ver você se afundando nesse casamento que existe além de duas assinaturas em um papel, uma vontade do seu pai que já foi cumprida com êxito. Um contrato moldado para manter a sua família e Timothy ricos. Chega disso, pensa em você, por favor... – Ela sorri triste.
- Juro que vou pensar nisso... – Ela olha para a vista da minha sala. – Vou começar a cogitar pedir a separação. – Eu não consigo esconder a alegria por suas palavras.
- Amar por vocês dois doí demais, Júlia. Chega de amar sozinha minha amiga, se permita viver algo novo. – Ela concorda.
Me levanto decidida a ir para o meu destino dessa noite. Precisava extravasar meu estresse na nova boate de um amigo de longa data. Ele me mandou um convite pessoalmente, e não aceitou uma recusa da minha parte, estava convocada a ir nesse lugar que era um mistério para mim.
- Vai na festa da sua mãe? – Júlia diz assim, do nada e sem preparo.
Minha mãe, a mulher que tentava me ligar de vez enquanto para saber como eu estava. A digníssima Ava Smith, a mulher que estava completando sessenta anos de idade na próxima semana e tinha convidado meio mundo para a sua festa no maior clube que temos na cidade.
Ela queria ostentar, dizer que podia fazer uma grande festa regada a luxo e tudo que ela tinha direito, garantindo pelo dinheiro do meu pai.
Eu não a condeno, ela era a esposa, tinha que ganhar tudo que desejava mesmo. Mas me incomoda que ela me queria nessa merda. Ela fazia questão de fazer várias festas como essa para jogar na cara dos outros como era rica.
Ava Simth queria ser a imagem de família perfeita para todos os seus “amigos”, uma família sem qualquer vestígio de dúvidas.
- Sabe que ela vai me empurrar um marido, não sabe? - Júlia Bailey Santorini sabia disso. - Eu odeio esse circo montado, ela vai me fazer cumprimentar trinta mil pessoas, vai me empurrar longe demais e vai querer me apresentar alguém que possa agregar poder e riqueza a família. Não sou mulher para casar, Júlia. Não quando eu sei como é bom ter a liberdade que eu tenho. - Júlia ri.
- Eu te aconselho a seguir seu caminho, não vá a festa. Se quiser ir... - Ela abre os braços. - Eu vou estar com você. - Júlia se levanta. - Não seja como eu, Ana Clara, não se prendam a leis que não foram criadas para nós. - Concordo.
- Boa festa amiga, transe e aproveite a sua noite. - Júlia vai embora sem falar mais nada sobre a minha mãe.
Tudo que a família da Júlia tinha de preocupação, a minha tinha de ser distante.