Fim de noite
Ana Clara Smith
Por causa da visão perturbadora dos irmãos Bailey na mesma boate em que eu estava, acabei me afogando na bebida para curar o ego ferido. Não sai do lado do bar até ficar leve e bem tranquila.
A questão que os irmãos Bailey sempre despertaram o melhor e o pior de mim. Lembranças que a maioria eu desejo esquecer de uma vez por todas.
Parece até besteira da minha parte, beber por causa daqueles idiotas, mas é melhor ficar alegre com a bebida, do que p**a com os olhares de recriminação de Jonathan ou a cara de deboche de Joseph.
Como eu não imaginei que eles estariam na inauguração?
Eles também são amigos do Dante, que droga, não era para estar tão mexida com a presença dos dois aqui.
Eu tinha uma relação complicada com eles, algo que beirava amor e ódio, mas ódio que amor no caso. Era um acordo implícito entre nós, ninguém nunca se meteu, mas era essa a nossa verdade, tínhamos prazer em nós matar. Pelos menos foi isso que eu entendi com as atitudes juvenis e i****a dos dois.
Nenhum dos dois gostava de mim, eles deixavam muito claro que eu era incômodo em suas vidas, uma preda em seus sapatos, um estorvo que lhes causava problemas. Nisso eu sou culpada, nunca iria ouvir calada e não dar dor de cabeça para eles.
Não conseguíamos conversamos decentemente, como seres normais e adultos sensatos que deveríamos ser. Sempre que há algum encontro entre nós três, a troca de ofensas é gratuita, intensa e nada amistosa.
Era como se eles me odiassem, não fizessem questão de esconder ou amenizar, era como se a minha existência os afetasse de alguma forma negativamente.
Sinceramente, me sentia a pior mulher do mundo, aquela que eles não ficariam nem se fosse a única a restar no planeta terra. Se tivéssemos em uma ilha, eles me afogariam para não olhar para a minha cara.
A mulher mais feia, chata e sem nenhum atrativo para os soberanos Bailey, os intocáveis, desejados e cruéis.
Aquela constatação me machucava profundamente, vamos lá, é horrível saber que você não desperta nada em dois crushes que você já teve na vida.
É louco falar isso, mas os gêmeos era o mais perto que eu chegava de um menino na minha adolescência, então ver eles toda hora acabou gerando alguns gatilhos de desejo, paixão e até algo mais profundo que fiz questão de esconder bem no fundo do meu ser.
Como eu falei, eles me odiavam gratuitamente, não seria eu que daria mais munição para ser hostilizada por duas crianças que esqueceram de crescer.
Memórias on
“- Garota magricela! Vai tomar conta da sua vida... – Josep gritava.
Eu tinha acabado de ouvir que ele e o irmão marcaram para fugir de casa quando a Dona Laura dormisse. A questão era que a tia contava com os dois amanhã logo cedo, eu fui comentar com eles, bom, não precisos dizer que eles ficaram umas feras comigo.
Joseph o mais explosivo começou a me xingar, aquelas palavras doeram, por que eu já tinha questões de insegurança com o meu corpo e como eu era sozinha na vida.
No entanto, Josep fazia questão de apertar na ferida até sangrar, até me ver chorar e implorar para que ele parasse.
- Para Joseph! – Jonathan tentou colocar juízo na cabeça do irmão.
Mas como Joseph era uma bomba sempre pronta para explodir, quando me dei conta, estava sendo na piscina da mansão Bailey.
- EU NÃO SEI NADAR! – Gritei em desespero antes de parar no fundo da piscina com o impacto.
- ELA NÃO SABE NADAR SEUS IDIOTAS! EU TENTEI, MAS A ANA TEM PAVOR DE ÁGUA! – Júlia gritava com os irmãos, enquanto eu lutava para boiar e me salvar.
Entretanto, logo tudo pareceu distante na minha cabeça.
O desespero foi imediato, a falta de oxigénio e a entrada de água nos pulmões me levaram a uma série de alterações fisiológicas graves, desde a dificuldade em respirar.
Eu tentava me manter na superfície, mas parecia que algo me puxava para baixo, eu somente via que aquele era o meu fim.
Um fim dramático de uma adolescente que não tinha começado a viver a vida direito.
Com dificuldades e confusão, devido à falta de oxigénio e à luta para respirar, eu não via nada ao meu redor, era como se estivesse eu e toda aquela água à minha volta.
Acabei perdendo a capacidade de flutuar e de manter-se na superfície, entrando em pânico e lutando com pouca eficácia contra a água.
Quando pensei que era o meu fim, senti mãos fortes me puxando para cima, eu somente me lembro de ter perdido a consciência e acorda com os dois em cima de mim tentando me reanimar.
- Que merda! Ana Clara... – Josep dizia desesperado. – Nunca quis te machucar... – Dava para sentir seu arrependimento.
Jonathan pelo contrário tentava me orientar, me acalmar e falar que estava tudo bem. Júlia gritava pela mãe a plenos pulmões.
Eu estava sem saber o que tinha acontecido para ter tal destino.
Na minha memória, tudo era uma grande confusão!
Júlia delatou os gêmeos, eles ficaram possessos e eu, bom, eu parei de ver eles como meninos malvados, naquele dia, eu vi que eles eram piores que isso.
Não preciso dizer que os dois ficaram de castigo, dona Laura quase deu um troço ao saber do que os dois aprontaram comigo, que iria sair escondido e deixar ela na mão amanhã de manhã.
Depois desse dia, eles me odiavam ainda mais e me davam um apelido diferente a cada oportunidade.
O que eles não sabiam é que naquele dia, o encanto que eu nutria pelo jeito, forma e até as rebeldias... TUDO que eles representavam para mim, se acabou.”
Eu odiava me lembrar desse dia, mas eles não eram assim antes do acontecido. Eles ficaram tão cruéis, frios e distantes, algo mudou nessa época, não sei o que foi, até porque, eu me afastei.
Fiquei com medo, temi por mim mesma e a minha relação com a Júlia.
Memória on
“- Porque não responde mais as provocações de Joseph? – Jonathan me para na porta do quarto de Júlia.
Minha amiga já tinha decido para jantar, e eu vim pegar o meu celular.
- Porque não diz mais nada? Ficou com medo do meu irmão? – Não parecia que ele queria arrumar confusão, mas eu sempre tinha guarda alta com qualquer um deles.
- Ser jogada na piscina me mostrou que vocês não têm limites, não sirvo para saco de pancada... – Digo simples assim.
- Acha que bateríamos em você? – Jonathan pergunta magoado.
- Quem me garante que não? – Pergunto rindo sem humor. – Vocês vivem me xingando, não escondem o quanto me detesta. Me bater e me matar não seria nada para vocês. – Jonathan dá um passo para trás.
- Não queria que pensasse que seriamos capazes disso... o que sempre fazemos é... – Eu o corto.
- Vocês sempre me humilham, me destratam e me fazem sentir a pior mulher do mundo! Não precisam fazer isso, eu já me sinto péssima por nem a minha família me priorizar. Não preciso ser quebrada por vocês também. Pode ter certeza que eu já sou fodida por conta própria.
Jonathan me olha como se me visse pela primeira vez.
- Garota tola, se fazemos isso, é pelo seu próprio bem, Ana... – Ele faz um carinho na lateral do meu rosto. – Somos quebrados para desejar algo tão sagrado.
Fico sem entender, mas é tarde demais para pergunta, já que Júlia me chama para jantar e quando dou por mim, Jonathan está bem longe.”
Estávamos prestes a entrar para a vida adulta, pelo menos eu, eles já eram adultos e aprontavam bastante. Eram a dor de cabeça de Joel Bailey tanto na empresa, como na mídia.
Nessa época, eu já olhava com outros olhos para os dois. Era uma mistura de perigo e dor, porque eu sabia que eles não era o melhor para mim, que os dois iriam me quebrar além do que eu já era quebrada e remontada.
Então sim, Joseph e Jonathan eram as minhas paixões proibidas. Eles me assustavam e me envolviam de maneiras diferentes e únicas. Não sei explicar como.
É, não era só a minha amiga que tinha uma quedinha na adolescência, ao contrário dela, que sempre me falava todas as suas paixonites, sempre me contava o quanto queria ter atenção de um certo rapaz.
Eu me afogava em meus sentimentos, não queria abrir a boca para minha amiga, e dizer que eu tinha um crush pelos seus irmãos idiotas e gatos dela.
Ainda mais depois do que eu vi, porque falando sem nenhum tipo de julgamento, aquela cena de anos atrás me fez ver as coisas por um novo ângulo e perspectiva.
O prazer que eles podiam proporcionar que me fascinava, me dava curiosidade e vontade de ser aquela mulher deitada na mesa da cozinha.
Bom, sempre tinha que ver aquela imagem de adolescente na minha cabeça, por mais que eles me quebrassem e tentassem consertar o erro.
Volto a realidade da boate com um gosto amargo na boca, os gêmeos tinham o poder de me fazer sentir a mesma menina insegura de anos atrás. Não a advogada f**a e milionária que eu sou agora.
Depois de encher a cara com algumas bebidas, já que eu não queria nem chegar perto dos irmãos da minha amiga, tive que extravasar na pista de dança.
A música pulsava diferente na minha cabeça, era como se tudo estivesse em câmera lenta.
Sinto um par de mãos em minha cintura, o cheio diferente no ar, quando me viro para ver, era a minha f**a da noite.
Começo a dançar colocado ao seu corpo, eu tinha que esquecer a presença deles nessa boate, mas seria tarde demais para isso...
- Ei cara, ela está comigo! – Ouço a briga ao longe e um Joseph zangado me puxando para algum lugar.
- Quer que eu quebre as suas mãos por ter encostado nela? – Ele narra como um trovão querendo romper no céu uma noite de tempestade.
Sinto um cheiro diferente, mas tão familiar que outro que bradava para o meu alvo.
- Está bêbada? – Jonathan confirma o que eu já sabia. – Vou te levar para casa.
Não sei porque não discuti, não briguei ou disse que Dante cuidaria de mim. Ele sempre cuidava...
Sinto o mundo rodar, Jonathan me pega no colo e me leva para algum lugar, era isso.
- O mundo tá girandoooooooo! -É eu estava muito bêbada...
Obrigada pelos comentários e bilhetes lunares 🥰