Ordens
Josep Bailey
Fico olhando pelo retrovisor Ana Clara dormindo e resmungando ao mesmo tempo, como ela podia reclamar dormindo?
- Ela continua reclamando mesmo dormindo... – Jonathan fala o que eu estava pensando.
- Por isso nos damos tão bem, você falou o que eu estava pensando... – Digo vendo ele chegar no condomínio que fica no nosso matadouro.
Jonathan concorda e me faz a pergunta que lhe tirava um pouco da sua concentração.
- O que falou com Dante? Sei que falou algo quando eu sai com Ana Clara. – Acabo rindo porque eu tinha realmente falado algo, aliás, tinha lhe dado uma ordem.
- Eu não iria deixar aquele cara sair impune depois de ter colocado as mãos sujas em Ana Clara... – Jonathan não me olhava, mas ele sabia o que eu tinha ordenado.
- Mandou matar o cara? – Balanço a cabeça em negativa.
- Acha que eu mandaria matar ele? – Olho para o meu irmão ofendido.
- E não iria? Te conheço, Joseph! Por Deus, não queira que eu comece a listar o que já foi capaz de fazer nessa vida. – Ele tinha razão. – Te conheço irmão, sei do que é capaz, não gostou de ver Ana Clara exposta.
- E você gostou? – Pergunto com ironia.
– Eu somente quero saber se deu tal ordem para Dante. Conhecemos ele o suficiente para sabermos que ele sujaria as mãos por nós. – Jonathan fala sério. – Na verdade, eu preciso me preparar para o discurso melodramático do nosso pai. Você sabe que a vida de Joel Bailey é nos criticar por tudo. Sabe que ele não gosta quando agimos por impulso, com sangue quente. – Olho para ele de cara feia.
- Impulso? Você também ficou mordido quando viu o tipo de pessoa que a doidinha da Ana Clara estava envolvida, se não fosse por nós, quem saberia o que aconteceria com essa irresponsável. – Brado. – Ana Clara se coloca em risco a cada oportunidade que tem, e você sabe disso. – Digo puto.
- Não devemos nos meter com a Ana Clara! – Jonathan diz impaciente.
- Por que nosso pai não quer... – Digo como uma criança que odeia essa ordem. – Nunca obedecemos o nosso pai, mas quando se refere a Ana Clara, seguimos as ordens dele fielmente.
- Nosso pai nos fez jurar que nunca iriamos nos deitar com a Ana Clara Smith, ela é como uma irmã para nós dois. Ela é zona proibida... – Jonathan para o carro na nossa garagem privada que tinha mais carros que poderíamos usar.
- Porque ela é zona proibida? – Pergunto para o meu irmão.
Quando falamos de Ana Clara, era sempre essa mesma lenga, lenga, sinceramente estava farto disso.
Não podemos fazer isso, não podemos ter aquilo, e o mais importante, nunca devemos nos envolver amorosamente com Ana Clara Smith, NUNCA!
Jonathan sai do carro e eu vou atrás, nunca terminamos essa discussão bem.
- John, porque? - Pergunto segurando o seu braço.
- Por que ela somente tem a gente de família, Joseph. Você sabe disso, não podemos nos envolver, e depois descartar como fazemos com as outras. Pensei que isso estava explícito entre nós. Ana Clara é uma zona proibida, por que não é somente a gente que perde, ela vai perder muito mais. Ana Clara só tem títulos, ela não tem pai e mãe presentes em sua vida, vai querer acabar com isso por capricho? – John me pergunta sério. – Ela não vai olhar mais na nossa cara se por algum acaso tiver que escolher um de nós dois.
Ele vai até o lado em que estava Ana Clara e a pega no colo, subimos até o apartamento em silêncio.
Ana Clara era um sonho antigo, tanto meu, quanto de John ou Jonathan. Somente eu o chamava assim, era uma forma carinhosa, afeto que ninguém via entre nós dois. Somente Ana Clara e Júlia já nos viram com guarda baixa, mas depois do que aconteceu, elas nunca mais viram algo bom vindo da gente.
Olho para a mulher que tinha bochechas vermelhas, respiração serena e um corpo que eu amava na medida certa.
Amor... uma palavra que eu não compreendia o significado totalmente. Me lembro de amar uma única coisa, e a mesma foi me tirada a duras custas.
Amar no caso doí, é quase que insuportável viver, e não pode ter o que tanto deseja.
Clarinha sempre pensou que nunca percebemos, que nunca observamos a curiosidade de brilhar em seus olhos. Desde que ela começou a entrar na fase de pré-adolescência. A menina começa a se interessar pelo outro e desenvolver sentimentos amorosos, geralmente na pré-adolescência, por volta dos 10 aos 13 anos. É nesta fase que surgem as mudanças hormonais e o desenvolvimento físico, o que leva a um interesse mais aparente por outras pessoas.
Ana Clara começou a nos olhar de forma diferente com quinze anos, eu sei por que eu sou um bom observador. Sabia quando a minha irmã se apaixonou por um i****a e sabia que Ana Clara olhava demais tanto para mim, quanto para o meu irmão.
Era nessa fase que ela tinha fascino em nos ver na piscina, fazendo esportes e até vendo filme. Fomos criados juntos, claro que eu e John sendo os mais velhos, tivemos limites que nos foram organizados assim que as meninas começaram a desabrochar.
Nos pais sempre foram muito certeiros nessas questões, acho que por isso somos tão liberais.
Laura Bailey sempre conversou, falou abertamente, e mesmo morrendo de vergonha, ela sempre dizia que se apaixonar, amar e ter relações não era um bicho de sete cabeça. Podíamos fazer isso, mas tínhamos que ter juízo e cuidados.
Já o nosso pai sempre falou sobre cuidado, não se iludiu e foi claro. Podíamos fazer tudo, menos envergonhar a nossa família. O nosso sobrenome tinha um peso, ele representava várias gerações de perfeição.
Confesso que essa parte não cumprimos como deveríamos, mas ainda assim, nosso pai nunca foi capaz de controlar a nossa vida s****l.
Somente tínhamos que respeitar as meninas da casa, mesmo quando Ana Clara sempre procurava algo que não deveria achar.
Memória on
“– Mando nos chamar papai? – Jonathan iria completar vinte anos e no final do ano, eu faria dezenove.
- Sim, meus filhos... – Ele nos mostrou as cadeiras em frente a sua mesa. – Queria que vocês dois começassem a cuidar da sua irmã. Júlia está fazendo quinze anos e daqui a pouco vai querer namorar, descobrir “coisas” que ainda não são para focar a sua atenção. – Eu e John nos olhamos.
- Sim, pai, podemos assustar alguns namoradinhos que queiram brincar com a nossa irmãzinha. – John sempre acatava as ordens do nosso pai por ser tecnicamente o mais velho entre nós dois.
- Não esperava menos de vocês dois... Ah, tem que cuidar da Ana Clara também... – Nós acabamos nos remexendo na cadeira.
- Porque a Ana Clara? Ela não é a nossa responsabilidade. – Digo confuso.
- Ela anda com a sua irmã o tempo todo, é uma boa garota e posso dizer mais, a considero como a minha filha também. Ana Clara adotou essa família como a dela, não quero que a menina seja machucada. Não quando quem era para cuidar dela, a deixa à própria sorte. Júlia vai ficar muito feliz sabendo que os irmãos dela também têm cuidado com a sua amiga.- Sabíamos que o casal Smith era estranho.
- Ela... – tento argumentar.
- Ela é como uma irmã para vocês dois, então hajam como tais e não me façam mandar ambos para um lugar bem longe. – Me pai diz com firmeza.
Ele se levanta e sai da sala com a ordem ecoando em nossa cabeça, Ana Clara era a nossa irmã.
Não podíamos fazer nada com ela, além de proteger ela até de nós mesmos.”
Então a protegemos da nossa maneira, deixávamos Ana Clara o mais distante possível de nós dois.
Não éramos a melhor opção na vida da Ana Clara, e depois essa decisão se auto afirmou ainda mais quando sofremos o que sofremos.
Ana Clara estava melhor sem nos ter em sua vida.
Obrigada pelos comentários e bilhetes lunares 🥰