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884 Words
Milena narrando — Por que você não me deixa ir embora com a Gabi? — minha voz saiu firme, mas meu coração tava disparado. — Você não se aproxima dela, você só me machuca… Ele me olhou com aquele olhar vazio, cheio de raiva, como se o mundo fosse culpado por tudo que ele era. — Você não vai a lugar nenhum — ele disse, e sua voz gelada me arrepiou a espinha. Dei um passo pra trás. Ele tava bêbado, drogado, e a qualquer momento podia fazer uma besteira ainda maior. — Você tá fora de si… devia ouvir o Pedro, fazer o que ele diz. Vai dormir. Dorme, é o melhor que você faz agora. Eu sabia que provocar ele era perigoso, mas eu também tava cansada. Esmagada. Cheia de tudo. — Você quer mandar em mim? — ele perguntou se aproximando, olhos fixos em mim, a boca tremendo. — Você acha que pode mandar em mim, c*****o?! — e gritou antes de disparar um tiro pro alto. O barulho foi ensurdecedor. Meu corpo tremeu. Eu levei a mão ao peito, pensando na Gabi. — Você vai acordar a Gabi! — gritei, sentindo a voz embargar — Ela vai acordar assustada, por favor… — Que se dane — ele respondeu com desdém, se aproximando mais ainda, o cheiro de álcool e maconha me enojando. A raiva subiu como fogo dentro de mim. Eu tava cansada de ter medo, cansada de me calar. — Eu não sei por que eu fui me envolver com você — soltei, com nojo — A única coisa boa que saiu de nós dois é a Gabi. — Você se envolveu comigo porque não tinha onde cair morta e queria a vida boa que eu te dei! — ele cuspiu as palavras — Mas eu entendi… você é só uma vagabunda interesseira! — Você nunca me deu nada! — retruquei, sentindo a voz falhar de tanta revolta — Deixa a gente passando necessidade enquanto enche a cara e joga dinheiro fora! — Cala a boca! — ele gritou, e de repente a arma estava apontada pra minha cabeça. Meu coração disparou. — Eu vou te matar, juro por Deus que vou! — Sai de perto de mim — recuei, com as pernas tremendo. — Por favor, pensa na Gabi! Ele nem hesitou. Veio com tudo e me deu um tapa no rosto tão forte que senti o gosto de sangue na boca. Meu mundo girou por um segundo. Eu vi tudo vermelho. Sem pensar, agi na fúria. Peguei o copo em cima da pia e quebrei com força na cabeça dele. — SUA FILHA DA p**a! — ele berrou, cambaleando. Corri em direção à sala, tentando fugir, mas ele me alcançou rápido e me jogou no chão com brutalidade. — EU TÔ CANSADO DE VOCÊ, p***a! — ele gritava, descontrolado — SUA X9! FILHA DA p**a! Ele delirava. Não era mais ele ali. Era um animal sem alma, perdido no próprio veneno. — Me larga! — gritei, batendo nele, tentando empurrar seu peso de cima de mim. — Me larga, desgraçado! Do lado de fora, começaram os tiros. Os estampidos eram altos, se aproximando. A sirene do morro tocava, o aviso de que algo sério tava vindo. Mas ele nem reagia. O rádio de Pedro tava jogado no sofá, alguém gritava do outro lado, mas Thiago parecia surdo. Tava cego, suado, drogado, alucinado. — EU VOU TE MATAR! — ele berrou, e de repente começou a apertar meu pescoço com força. — Me solta! — implorei, me debatendo, tentando afastar as mãos dele. — Sua v***a… — ele rosnava, o rosto contorcido de ódio. Eu tentava alcançar a arma caída perto da gente, mas minha visão já tava ficando turva. Meus pulmões gritavam por ar. — Você vai me matar… — murmurei, sentindo as lágrimas misturarem com o suor e o desespero. — Mamãe? A voz da Gabi soou suave, fraca… e ainda assim foi como uma bomba explodindo dentro de mim. Ela tava no pé da escada. Me viu. Viu tudo. O mundo parou. Meu coração explodiu. — Gabi, não! — quis gritar, mas não tinha ar. Os tiros lá fora agora estavam mais altos, mais próximos. Ela não podia ver aquilo. Não podia! — MAMÃE! — ela gritou, com a voz fina e trêmula. — PARA, PAPAI! SOLTA ELA! O som da voz dela me deu forças. Eu tentava empurrar ele, arrancar aquelas mãos do meu pescoço, mas parecia impossível. Ele já não era mais um homem — era uma fera. — ME SOLTA! — gritei com o resto de ar que tinha. Os olhos dele estavam pretos. Vazios. Não havia mais nada de humano ali. Eu tava perdendo os sentidos… ia apagar… Foi quando ouvi um estrondo. Alto. Seco. E então uma luz vermelha forte iluminou o rosto de Thiago. — VOCÊ ESTÁ PRESO! — uma voz grossa, de um homem fardado e com o rosto coberto, preencheu a sala. Thiago ainda apertava meu pescoço, mas agora olhava ao redor com ódio, como um animal encurralado. — MAMÃE! — Gabi gritou lá de cima, o som da voz dela me puxando de volta pra realidade. Eu virei o rosto, olhei pra ela… e só conseguia pensar que a gente tinha sobrevivido. Pelo menos por hoje.
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