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681 Words
Milena (narrando) — Solta ela, p***a! — gritou o policial, com a arma em punho. — Anda, c*****o! Senti o peso do Marcos sair de cima de mim. Ele foi puxado brutalmente, jogado no chão e algemado ali mesmo, sem chance de reação. Minha respiração ainda vinha entrecortada, o coração disparado como se fosse pular pra fora do peito. — Você tá bem? — um dos policiais perguntou, mas eu nem consegui responder. Tentava, em vão, recuperar meus sentidos, como se minha alma tivesse saído por alguns segundos do corpo. E então ouvi a voz que me fez levantar como um raio. — Mamãe! — Gabi. Chorando. Desesperada. Corri até a sacada, subi como pude e abracei ela com força. Ela se agarrou em mim como se o mundo estivesse desmoronando — e de certa forma, estava mesmo. — Tá tudo bem, meu amor… — falei, sentindo ela tremer nos meus braços. — Ninguém vai te fazer m*l agora. Eu prometo. Ela soluçava no meu peito. Eu só pensava em protegê-la, em tirar a gente dali o mais rápido possível. — Seu filho da p**a, você vai mofar na cadeia! — outro policial gritou, empurrando Marcos com raiva. — Eu não vou ficar muito tempo… — ele respondeu, rindo, como se nada daquilo fosse sério. — Tá drogado — murmurou o policial. — Se não tivesse drogado e bêbado, talvez não estivesse indo preso agora. — O papai… — Gabi disse baixinho. — Calma, filha — falei, tentando manter a calma que eu já não tinha. — O papai tava te machucando… — ela continuou — Ele ia te matar, mamãe. Ele apontou a arma pra você… As palavras dela cortaram meu coração. Engoli o choro. — A gente vai embora daqui hoje mesmo, meu amor. Eu prometo. A gente vai sair disso. Mas aí a voz dele ecoou lá de baixo, cortante, doentia: — Você só sai morta daqui, Milena. Se você sair do morro, eu vou encontrar vocês duas… e vou matar vocês. — Cala a boca, seu filho da p**a! — retrucou um dos policiais, dando um chute nele. Mas ele continuava rindo. Um riso frio, cínico, que me dava náusea. — Essa mulher é minha. Ela nunca vai ficar longe de mim. A gente vai morrer junto. — Levem ele! — gritou o policial, sem paciência. Enquanto o arrastavam, ele ainda virou o rosto na minha direção. — Se você sair daqui, eu te encontro… e te mato — ele falou com os olhos cravados nos meus. O tapa que levou do policial veio forte, junto de um empurrão que o fez sumir do meu campo de visão. Gabi chorava sem parar, agarrada no meu pescoço. — Vamos pegar nossas coisas, tá? — falei baixo pra ela, indo pro quarto dela com ela no colo. — Gabi, pega só um brinquedo, só um, tá bom? Eu não ia esperar. Não pensei se tinha mais polícia lá fora ou não. Sabia que enquanto eles estivessem lá, ninguém ia ter coragem de me impedir. Eu precisava aproveitar. — Aqui, mamãe… essa boneca — disse ela, me mostrando uma das duas que segurava. — Mas eu gosto das duas… — choramingou. — A mamãe compra outra pra você, tá? — prometi, e ela assentiu, se contentando. Com ela no colo, agarrou sua bonequinha preferida. Peguei sua mochilinha, coloquei umas roupas e, ao passar pelo quarto do Marcos, abri a gaveta rápido. Dois bolos de dinheiro. Nem pensei. Joguei dentro da mochila também. Eu não sabia pra onde ia, mas sabia que ia precisar daquilo. Quando saí no corredor, um policial me viu. — Aonde você vai? — ele perguntou, me olhando com desconfiança. — Pensando em fugir enquanto a gente procura coisa aqui dentro? Por quê? Ele cruzou os braços, me encarando. Gabi me olhou assustada, como se não entendesse o que tava acontecendo. E ali, com minha filha no colo e o coração prestes a explodir, eu sustentei o olhar do policial. — Eu só quero sair viva daqui com minha filha. E não olhar pra trás nunca mais.
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