SÓ AGORA PECEBI QUE SEM QUERER CONFUNDI COM O OUTRO LIVRO, É TH GENTE E NÃO MARCOS
Milena narrando
— Não, eu não estou fugindo de vocês — digo, encarando ele. — Olha pra mim, eu tô toda machucada... eu não tô aqui porque eu quero.
— Tá aqui por quê, então? — ele pergunta, me olhando nos olhos.
— Eu tô aqui porque ele me obrigava. Me trancava dentro desse morro, me ameaçava... e toda vez que tentei fugir, ele me encontrava. E era pior. — respiro fundo, tentando controlar a voz — Eu tenho uma filha de quatro anos que vê tudo. Toda vez que ele me bate. O senhor viu. — Ele olha pra Gabi. — Se eu não sair agora, eu não saio mais. E o inferno vai continuar. O senhor sabe que, em dias, ele foge da cadeia.
— Quantos anos você tem? — ele pergunta pra Gabi.
— Quatro — ela responde, sem hesitar.
— Você estuda?
— Meu pai não deixa — ela fala, com a voz firme. — Eu vivo aqui o dia todo — diz, meio embolada.
Gabi era cheia de personalidade. Falava muito. Não importava com quem fosse.
— Por favor, tira a gente daqui — peço, quase num sussurro.
— Como você se chama? — ele pergunta, pegando o celular.
— Milena Batista — respondo.
— Quantos anos você tem?
— Vinte e três.
— E ela é filha dele?
— É, sim — respondo, vendo ele me encarar e depois olhar pra Gabi.
— Meu nome é Capitão Lorenzo Miranda — ele diz, sério. — Tô no comando dessa operação. Você já pegou tudo que precisa?
— Só preciso de uma muda de roupa.
— Eu vou tirar você daqui. E vou te levar pra um lugar seguro, junto com sua filha — ele diz, olhando direto nos meus olhos.
— Chamou, Capitão? — um policial aparece, vindo rápido.
— Sim. Policial Souza, leva as duas mochilas dela — ele diz, e estende a mão. Eu lembro do dinheiro escondido. Fico tensa. — Por favor, Milena.
Eu entrego. Ele sabia. Planejou tudo.
— Você vai sair daqui como detida, pros olhos de todos — completa.
— Obrigada — murmuro, pegando Gabi no colo.
— Faz uma viatura subir até aqui pra gente sair em segurança — ele ordena ao policial, que assente com a cabeça.
— Pra onde a gente vai? — pergunto, ainda desconfiada.
— Eu já disse. Pra um lugar seguro — ele responde firme. — Agradeça que tô tirando você daqui... por causa da sua filha.
Só assinto. Minutos depois, a viatura chega. Entro com Gabi no colo, cabeça baixa, tentando proteger ela do que vem depois. Ela se encolhe contra mim, assustada.
A gente andou tanto… quando percebo, já estamos longe de São Paulo. Paramos em frente a uma delegacia.
— Pode descer, por favor — ele diz.
Desço, com Gabi ainda nos braços.
— Que lugar é esse? Onde a gente tá?
— Aqui tem um alojamento. Você vai poder ficar com sua filha — ele diz. — Você tem alguém pra ligar?
— Tenho...
— Então vamos entrar.
Entramos. Ele nos leva até o alojamento — um quarto grande, simples, mas com tudo que a gente precisava. Roupas, banheiro, uma cama de casal. Um pouco de paz.
— Eu preciso das minhas coisas — digo, olhando pra ele.
Ele me encara.
— Você vai ter tudo. Suas coisas, seu celular, até o dinheiro da mochila — ele diz calmo, mas firme. — Mas antes... você vai ter que me contar tudo o que sabe sobre o Thiago. E sobre o morro.
Fico ali parada. Sem reação. Então era isso. Ele me ajudou... mas com tudo já planejado.