Capítulo 1
Queria entender como que isso foi acontecer comigo, eu sou o homem mais precavido existente, penso calculadamente em cada detalhe da minha vida, a cada passo sempre estou um a frente de todos que estão contra mim. Mas hoje, parado na frente dessa lápide i****a com dois caixões vazios eu me sinto impotente e destruído, impossibilitado de dar qualquer passo para longe deles ou o que os representam, incapaz de me refazer e tendo a certeza que o inferno só começou. Tento incansavelmente achar uma solução pra essa dor no meu peito, rasgando e apertando constantemente, mas a única coisa que consigo pensar, é quanto desejo que meu nome esteja em uma dessa pedra i****a. Tudo começou no aniversário de um ano do meu filho, há dois anos atrás.
HÁ DOIS ANOS ATRÁS
A mansão esta cheia, as pessoas como sempre estão saciadas e empolgadas com o que oferecemos a elas: sexo e segredo. Talvez seja a fórmula para a felicidade. Pensando na felicidade verifico o meu relógio de pulso e percebo que estou um pouco atrasado para o aniversário de um ano do Enrico. Nunca imaginei que teria algo que me fizesse temer a minha própria vida, nunca passou pela minha cabeça que seria dependente de um ser humano tão pequeno.
- Felipe. - A voz é feminina e maliciosa, mas não é da minha mulher, que a propósito deve estar furiosa ligando para o meu celular.
- Cassandra. - Viro com um falso sorriso simpático.
Cassandra virou m****o após um ano que eu tomei controle da mansão, seu pai está no conselho e ela é uma das mais belas mulheres daqui. Loira, um metro e setenta e cinco, corpo escultural e olhos azuis penetrantes. Claramente eu e ela já tivemos muita aventuras juntos, porém há meses não a encontrava.
- Como estava Paris? - Perguntei educado e ela sorriu.
- Ótima, como sempre. Soube que mexeu uns pauzinhos no conselho, matou alguns dos membros daqui e agora é um homem comprometido.
- Pelo visto fez o dever de casa.
- Sempre faço, você sabe. Meu pai não está satisfeito com a mudança.
- Nenhum deles estão, tirei o poder de todos. Agora o conselho é apenas café com leite, não existe, mas fingimos que sim para que eles não chorem por ficar fora da brincadeira. - Explico e nitidamente a deixo irritada.
- Há boatos de que sua namorada está grávida. - Seu tom de voz soou ameaçador e minha respiração muda, consigo controlar e manter a conversa civilizada.
- Mulher. - Corrijo.
- Eu não tenho ciúmes. - Da um passo à frente, seu perfume doce trás recordações de um sexo violento e gostoso. - Inclusive somos bons juntos, sabemos guardar segredos como ninguém. - Passa o dedo indicador no meu pescoço, mordendo o lábio sensualmente - Podemos criar um segredinho agora, só nosso. - Tentado, desço os olhos para o seu decote cavado.
- Cassandra. - Seguro o seu dedo, afastando do meu peitoral - Você pode não ser ciumenta, mas a minha mulher é, e acredite, usa uma arma muito bem. Agora se puder me fazer um último favor, diga ao teu pai que nem a sua maravilhosa b****a trás o poder ao conselho de volta.
DIAS ATUAIS
- Felipe. - Kaue chama baixo e eu levanto da grama úmida o encarando. - Seus pais chegaram.
- Vamos. Acho que já ficamos tempo demais aqui. - Guardo as mãos nos bolsos da minha calça social e vamos caminhando juntos para o meu carro.
Para o nosso carro. Da minha família. Paro os passos assim que lembro do quanto aquilo me faz lembrar deles.
- Cara, eu vim com o meu. - Ele avisa, coloca a mão no meu ombro e eu n**o com a cabeça.
- O que eu fiz? - Pergunto e encaro os olhos vermelhos do Kaue. Ele era tão próximo deles quanto eu, talvez, foi até mais presente do que eu nesses últimos meses.
- Não foi culpa sua, não se condene por isso.
- Eu provoquei tudo isso. Eles estão mortos porque eu não conseguia manter o nariz fora da mansão. Porque mesmo tendo um filho de três anos, eu não era presente na minha própria casa.
- Ela entende...
- ENTENDIA! - Grito exausto, ele permanece quieto encarando os meus olhos encharcados. - Se eu tivesse chego mais cedo, não precisaria me referir a eles no passado.
Mesmo relutante e com a insistência do Kaue, eu entrei no meu carro, no nosso carro. O carro dele liga e eu vou conduzindo e seguindo. Precisaria seguir, mesmo sabendo perfeitamente o caminho, jamais conseguiria chegar a lugar algum no estado vegetativo que eu estou. O pensamento de bater o carro no poste e se matar é constante e doloroso. Não conseguia achar um jeito dessa dor amenizar, imaginava que ela jamais sairia de mim, faria morada no meu dia a dia, eu sinceramente, quero morrer.Sinto a falta deles, e mesmo sendo extremamente e inexplicavelmente doloroso, eu necessito lembrar da nossa última discussão.
DOIS DIA ATRÁS
Foi mais um dos dias movimentado da mansão, o relógio marcava seis da manhã e eu estava entrando na nossa casa, gostava dessa nova, arejada, decorada pela minha mulher e pelos brinquedos do meu filho, que na minha opinião era a melhor.Subo as escadas sorrateiramente, não quero acordar Enrico e nem morrer por ter o despertado, da última vez, Rafaela surtou, o que estava frequente ultimamente, a forma como a cada dia ela odiava a mansão e o que eu fazia estava dificultando a nossa relação, e qualquer coisa era motivo de briga.Abro a porta do nosso quarto e vejo seu corpo relaxado na nossa cama, cabelos curtos até os ombros, virada de barriga pra baixo, mergulhada em um sono profundo.Sento ao pé da cama e a observo, noto sua respiração, e quero decorar cada detalhe teu.
- Ei.- Sussurro, eu estava com saudade dela. Hoje completa três dias do qual não nos falamos, após uma discussão matinal do quanto ela estava insatisfeita com a vida que eu levava.
- Está cheirando pólvora.- Reclama virando para o outro lado.
- Óbvio que estou. Eu ando armado. - Retruco irritado, mas me arrependo assim que ela se senta na cama nervosa. Eu dei a brecha que ela queria.
- Nossa! Que coisa natural, não é mesmo?- Indaga, profundamente aborrecida.
- Você me conheceu desse jeito. Qual o problema agora?
- Naquela época eu não tinha uma criança de três anos que pergunta porque a roupa do papai tem sangue! - Aumenta o tom de voz. - Naquela época, a criança de três anos não existia para perguntar porque não vê o papai.
- Eu o vejo, Rafaela. Não o coloque no meio dos nossos problemas. - Levanto caminhando até à lareira, concentro para não sentir raiva dela.
- Nossos problemas? Ele está incluído indiretamente nos nossos problemas.
- O que você quer que eu faça? - Grito e ela anda rapidamente na minha direção, com os olhos em chamas.
- Não grite! - Avisa entredentes apontando o dedo no meu rosto. Tão próximo que minha respiração bate na ponta dele. - Se acordar ele aos berros de novo, eu mato você!
- Faça o que quiser. Se acha que eu não sou um bom pai, marido, ou seja lá que merda você quer que eu seja, faça o que acha melhor.
Não quero dizer essas palavras, não quero iniciar uma briga, mas ela é incansável. Estou exausto, essas brigas vem se arrastando há meses. O problema nunca foi mulher, até porque desde que estamos juntos eu jamais senti desejo ou necessidade de ter outra. Ela sabe disso. Seus olhos ficam molhados e meus ombros pesam em culpa, não não não, não quero isso. Não quero magoá-la.
- Talvez seja isso que eu queira. - Engole o choro orgulhosa e vai caminhando até a cama.
- Não quis dizer isso, você sabe.- Coço a testa preocupado, mas ela não responde. - Rafaela, me diz, o que você quer que eu faça?
- Volte vivo, Felipe. - Fala virada de costas. - É o que eu peço toda noite.
- Rafa. - Resmungo andando até ela, seguro os seus ombros e percebo que ela está chorando. - Eles não vão me matar. Você sabe, não é bem assim que funciona.
- Felipe.- Vira com o rosto vermelho, quero beija-la e dizer o quanto a amo, nesse exato momento quero esquecer a mansão, mas não posso. - Eu parei de ir quando a barriga começou a crescer, porque se soubessem eles usariam eu e o Enrico contra você, que tipo de lugar é esse você dá prioridade?
- Queria que fosse fácil assim.- Falo sincero.
- Felipe, eu quero me separar de você.- Recua os lábios e suas lágrimas escorrem rápidas pelo rosto. Céus, quero apagar as palavras que acabaram de sair da sua boca, quero que seja mentira ou que isso não passe de um pesadelo.
PROXIMO CAPÍTULO: 1 DE NOVEMBRO. SIGA A HISTÓRIA PARA NÃO PERDER