03

2342 Words
Danna — Ele acha mesmo que eu vou querer sair com a amiguinha dele? — falou Becky de uma maneira áspera demais.  — O meu irmão só quer que as pessoas que ele gosta se deem bem. — disse Ana num tom mais calmo.  — Se dependesse de mim ela não seria uma pessoa que ele gosta.  Revirei os olhos ao ouvir aquilo. Becky sempre fez o estilo ciumenta infantil, dava para ver nos olhos dela a maneira como fuzilava qualquer garota que passava perto de Christopher. Não era só sobre eu ser a melhor amiga dele, era sobre eu estar perto e ser uma garota. Isso realmente me deixava enojada.  — Se eu fosse você, daria uma chance pra conhecer a Danna melhor, ela é uma garota bem legal.  — Parece que é de família gostar de gente sem graça. — Becky soltou uma risada sonora. — Bem... o Christopher gosta de você. — Ana retrucou e eu segurei a risada.  — Ele não gosta de mim, ele me ama. — falou irritada.  Não me recordo de Christopher ter falado se a amava ou não, creio que se esse sentimento fosse tão forte ele teria me contado, ou será que não teria?  — Muita diferença isso faz. — falou Ana em tom de deboche.  — Nossa, Ana! Parece até que não gosta de mim! — forçou uma voz de mágoa.  — Você é minha melhor amiga, é claro que eu gosto de você, mas às vezes você é tão complicada! Deve ser isso! O Christopher gosta de garotas complicadas.  — Que eu seja complicada então. — riu. — Mais complicado vai ser me fazer virar amiga daquela musicista destrambelhada.  Não aguentei ouvir aquilo e saí do box onde estava.  — Por que você não experimenta me chamar assim na minha cara? — perguntei irritada.  — Estava ouvindo a nossa conversa? — Becky perguntou me encarando com indignação.  — E se eu estivesse? O que você vai fazer? — cruzei os braços e a olhei de forma desafiadora.  — Além de sem graça ainda gosta de espionar a vida dos outros! Garota, você não serve pra nada mesmo!  — Meça as palavras com quem você não conhece! — dei um passo para a frente, me aproximando dela.  — Não conheço e nem tenho interesse em conhecer! — aproximou-se também, estufando o peito como um g**o de briga.  — Se você tem algum problema comigo, fala na minha cara porque eu não tenho nenhuma preocupação em falar o que eu acho de você na sua frente!  — E o que você acha de mim, fracassada? Nós ficamos um longo tempo nos encarando e a minha raiva só aumentava. Minha vontade era de agarrar seus cabelos e arrancar seu couro cabeludo, mas eu tinha que me conter. Bem, as palavras eu não precisava guardar.  — Você é uma v***a! — quase berrei de forma séria, porém sem baixar o nível de irritação.  O silêncio reinou naquele banheiro e eu pude ver de canto o olhar surpreso de Ana por ter me ouvido falar assim com uma pessoa. Raramente eu era grossa com alguém, tentava sempre ser gentil, mesmo com os piores tipos.  Continuamos a nos encarar por mais um tempo até que ela levantou a mão e depositou uma bofetada no meu rosto.  — O que é isso, Becky!? — Ana a puxou, afastando-a de mim. — Você enlouqueceu!?  — Isso é pra essa maldita aprender a me respeitar! — gritou com raiva, apontando o dedo na minha direção.  — Eu respeito quem me respeita! — respondi sem diminuir o tom de voz que usava antes.  — E não vai retrucar o tapa? — riu debochando de mim.  — Eu não vou me rebaixar ao seu nível! Existem muitas formas de eu mostrar que sou melhor que você e bater em você não é uma delas. Passar bem! — dei as costas e caminhei até a porta de saída.  Saí do banheiro e fui até o pátio do colégio em passos largos e apressados. Sentei em um dos bancos e fiquei refletindo sobre a discussão que havia acontecido entre mim e Becky.  Eu nunca tinha discutido com ela antes, por nada. O que me aliviava era saber que eu não briguei com ela pelo Christopher, mas sim por mim. Ela me desrespeitou e eu me defendi, não tinha que me sentir envergonhada pela minha atitude.  — Ei, Dan! — ouvi a voz de Christopher se aproximando.  — Ei. — sorri de lado.  Ele, que estava sorrindo, trocou seu semblante por uma testa franzida assim que virei meu rosto em sua direção.  — Por que seu rosto está vermelho?  Coloquei a mão sobre meu rosto e pensei o que responderia.  — E então? — perguntou impaciente.  — Eu... devo ter batido em algo. — foi a única coisa em que consegui pensar.  — Ou alguém deve ter batido em você. Estou vendo claramente o formato de dedos no seu rosto! Quem fez isso com você? — exaltou-se.  — Deixa isso pra lá... — suspirei.  — De jeito nenhum! Eu quero saber quem te fez isso, quero te defender.  — Eu sei me defender sozinha. — forcei um tom de ofendida.  — Ah, é? E quantos tapas você deu de volta?  Fiquei em silêncio.  — Viu só? Eu não quero ninguém te tratando assim. Vamos, me conte quem fez isso. — insistiu.  — Já passou, não vale a pena estender isso. — suspirei.  — Por favor, me conte!  No mesmo instante, vi Becky quase correr até nós como se estivesse preocupada e, de fato, ela estava. Com certeza queria garantir que eu não abriria a boca para contar que a namorada perfeita dele gostava de estapear as pessoas.  — Meu amor! — deu um beijo no rosto dele. — Oi, Danna! — sorriu da forma mais falsa possível.  — Oi. — respondi apenas, forçando um sorriso.  — Sobre o que estavam falando? — perguntou parecendo nervosa.  — Parece que a Danna andou brigando com alguém e não quer me contar o que aconteceu. — respondeu ele enquanto me encarava.  — Ah, meu amor, talvez ela só queira deixar isso de lado e não dar tanta importância pra uma briguinha qualquer. É tão terrível quando um assunto se estende, não é, Danna? — sorriu me encarando e eu vi ameaça naquele sorriso.  — Você acha? — perguntei com ironia. — Eu estava mesmo pensando que eu deveria dividir isso com o meu melhor amigo. — sorri com deboche.  — Claro que não! — respondeu rápida. — A melhor maneira de lidar com os problemas é ignorando eles. Quanto mais você der atenção, mais o problema vai crescer.  — Olha, meu amor, eu ainda acho que a Danna deveria me contar. Eu quero poder proteger ela. — disse ele tocando meu ombro de forma carinhosa.  Eu sorri de lado sentindo meu coração derreter ao ouvir aquelas palavras. Christopher realmente se preocupava comigo e tentava me defender sempre que podia.  — Ela pode se defender sozinha. — ela puxou a mão dele para que a afastasse de mim. — Danna parece tão forte, aposto que pode resolver tudo sozinha. Agora precisamos ir para os nossos clubes.  Ela saiu andando na frente enquanto o arrastava pela mão.  — Quando nós formos pra casa eu quero ter uma conversa com você. Esse assunto ainda não acabou. — Christopher disse antes de acompanhá-la.  Saí do pátio e fui até o clube de música do qual eu fazia parte. Afonso já estava por lá. Entrei, peguei meu violão e algumas partituras e tentei me distrair tocando alguma coisa.  — Tudo bem aí? Você sumiu depois da discussão com a Zora. — Afonso perguntou se aproximando de mim.  — Nada bem. — parei de tocar e dei um longo suspiro. — Por que seu rosto está vermelho?  — Não quero falar sobre isso.  — Danna, eu sei que você fala que o Christopher é seu melhor amigo, mas nós sabemos que você gosta dele e não dá pra alguém que você gosta ser seu melhor amigo. Logo, seu melhor amigo sou eu. Me conte o que aconteceu.  — Eu adoro como você cria teorias que fazem sentido assim. — sorri. — Enfim... eu fui até o banheiro e acabei ouvindo a Becky falando m*l de mim. Eu não gostei do que ouvi e a enfrentei. Ela me deu um tapa no rosto.  — Você revidou, não é?  — Na hora eu fiquei totalmente sem reação e acabei dizendo que não revidaria pois não iria descer ao nível dela. — senti meu rosto esquentar com vergonha de ter que admitir aquilo.  — O que te impediu de bater nela exatamente?  — Talvez medo.  — Medo dela? — franziu a testa.  — Não! Medo do que ela poderia inventar ao Christopher. Ele nunca acreditaria na minha palavra, ele ama ela.  — Ama? — franziu o cenho.  — Foi isso que ela disse.  — Pode não ser verdade.  — E daí? No que isso muda as coisas?  Ele ia dizer alguma coisa, mas desistiu.  As pessoas do clube começaram a chegar e depois dos ensaios eu fui até a entrada do colégio esperar Zora para que ela me desse uma carona. Eu ainda não havia falado com ela depois da discussão, mas eu definitivamente preferia encarar ela e não o Christopher.  Vi ele se aproximar vestindo o uniforme do time da escola e virei de costas torcendo para que ele não me visse.  — Aí está você!  "Droga" pensei.  — E aí! Nossa, você está todo suado! Deveria tomar um banho no vestuário antes de ir embora. — tentei desconversar.  — Eu não queria te dar a chance de fugir da nossa conversa. — foi direto ao ponto.  — Por que eu fugiria? — sorri nervosa.  — É, Dan, por que fugiria? — cerrou os olhos com desconfiança.  Vi Zora saindo do colégio e vi minha chance de ir embora.  — Infelizmente eu tenho que ir. Zora vai me dar carona hoje. — tentei sair andando, mas ele segurou meu braço.  — Eu posso muito bem te dar carona. É até mais fácil já que somos vizinhos. — disse o óbvio.  — É que... bem... eu não vou pra casa. Marquei de ir pra casa da Zora.  — Te levo lá sem problemas.  — É mais fácil ir com ela, já que ela mora lá. — dei risada.  — Tudo bem aqui? — Zora se aproximou.  — Então, amiga, estou tentando explicar ao Christopher que eu vou para a sua casa com você, mas ele quer me levar de qualquer jeito. Ela franziu a testa parecendo não compreender onde eu queria chegar.  — Por que seu rosto está marcado?  Eu fechei os olhos e respirei fundo.  — É isso que eu estou tentando entender, mas a sua amiga está tentando fugir da conversa! — Christopher disse.  — Quem te bateu? — Zora perguntou segurando meu braço como se quisesse impedir que eu fugisse.  Eu implorei com os olhos para que ela fizesse algo que me favorecesse.  — Amiga, se você está querendo fugir de dar explicações ao Christopher, é porque algo sério aconteceu. Fala agora. — cruzou os braços. — Ok, vamos tornar isso mais fácil. Foi na hora do intervalo? — eu assenti. — Hm... banheiro? — assenti novamente. — Quem foi ao banheiro feminino no intervalo? — perguntou olhando para Christopher.  — Ana! — falou após ver ela se aproximar.  — E aí, tudo certo? — falou Ana. — Pergunta pra Danna. — Christopher respondeu.  — Ah sim! Está tudo bem, Danna? Ela nem pediu desculpas, eu fiquei incrédula com a ação dela.  Coloquei a mão sobre a testa ao ver tudo desmoronar ao meu redor.  — Então sabe quem bateu na Danna? — perguntou Zora.  — Você não contou? — Ana perguntou olhando para mim.  — Tá, vocês venceram! Eu ouvi a Becky falando muito m*l de mim no banheiro e a enfrentei. Ela não aguentou a discussão e me bateu, mas eu não revidei. — Espera, o que? — Christopher pareceu surpreso. — Ela não faria isso.  — Era por isso que eu não queria te contar. Tinha medo que não acreditasse em mim. — eu disse com uma postura derrotada.  — É que não parece coisa da Becky. Não estou dizendo que não acredito. — tentou se explicar.  — Tá... será que a gente pode ir agora, Zora? — olhei para a minha melhor amiga.  — Danna, espera. A gente precisa resolver isso. Eu não quero que vocês duas fiquem assim. Isso precisa ser esclarecido. — Christopher insistiu.  — Eu já disse claramente o que aconteceu. Se tem dúvidas, pergunte à sua irmã. E se ainda assim ficar com dúvidas, eu não posso fazer nada. — dei de ombros.  Ele se manteve sério e em silêncio. Eu dei as costas e comecei a andar com Zora em direção ao seu carro. Durante o caminho, começamos a conversar. — Já me perdoou pelo que eu disse no refeitório? — ela perguntou.  — Acho que você tem razão. — suspirei.  — Você não é i*****l, ele que é por não notar quem realmente o ama.  — Você acha que ele a ama?  — Não sei, por quê?  — Por nada...  — Olha, da próxima vez que ela te machucar e você não fizer nada, eu te dou uma surra. — me ameaçou e eu dei risada.  — Pode deixar.  Fomos até sua casa e eu fiquei lá até tarde da noite, depois ela me levou até em casa. Subi para o meu quarto, tomei banho, vesti um pijama e fui até a janela para fecha-la.  Assim que me aproximei vi Christopher em seu quarto com a Becky. Eles pareciam conversar seriamente e eu me aliviei em ver que ele não tinha beneficiado ela nessa história. Mas o meu alívio passou quando eles se abraçaram e se envolveram em um beijo quente até demais.  Fechei as janelas, me deitei na cama e senti as lágrimas chegarem, rápidas, pesadas e dolorosas. Naquela noite, chorei até dormir.
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