Chorei a noite inteira. Aquele tipo de choro que arranha a garganta, deixa o travesseiro encharcado e o coração em farrapos. A discussão com Augusto, a cara de nojo da Dona Celia, a sensação de ser *menos*… tudo voltava como um filme maldito na minha cabeça. Minha mãe ficou do lado, passando a mão no meu cabelo, até eu adormecer de exaustão. — Filha, paz custa caro demais — ela disse, quando acordei de novo com os olhos inchados. — Não vale a pena vender a alma pra caber em mundo que não é seu. Eu sabia que ela tava certa. Mas o coração teimoso é pior que criança birrenta. * * * À noite, quando o morro já tava quieto e só se ouvia o latido do cachorro do Seu Zé, alguém bateu na porta. Eu tava de pantufa e pijama surrado, o cabelo armado num coque desleixado. Até pensei que fosse

