Andréia
Não acreditava no que meus olhos estavam vendo. Ele trabalhava aqui?
— Eu devo ter feito algo de muito errado para merecer isso… — resmunguei, meio incrédula.
Ele sorriu, confiante.
— Ou algo certo. Afinal, você trouxe o carro para cá. Isso quer dizer que sou o melhor.
— E muito convencido… — revirei os olhos.
Ele se aproximou do meu carro, fingindo analisar algo.
— Como alguém consegue fazer um estrago desses?
— Batendo em idiotas que aparecem no meu retrovisor — retruquei, cruzando os braços.
Ele sorriu, sem perder a confiança.
— Então, ruivinha dos olhos verdes, seu carro ficará pronto em dois dias. Acompanhe-me até meu escritório. — Pegou a chave do meu carro e entregou a um funcionário. — Alemão, o CELTINHA da ruivinha é prioridade. Mas a pintura deixo para mim.
— Pode deixar, chefia!
Enquanto caminhava em direção a uma porta, observei o jeito seguro e confiante dele… e confesso, aquilo tinha algo de atraente. Entrou no escritório e começou a preencher alguns papéis.
Coloquei a mão sobre o formulário, inclinando-me um pouco.
— Calma aí, gracinha! Eu nem autorizei nada, nem sei quanto vai custar.
— Não preciso da sua autorização. Já disse que pagarei pelos danos. Mas se quiser retribuir… um bom jantar seria ótimo — disse, com um sorriso leve.
Quase soltei um suspiro, mas respirei fundo e revirei os olhos, tentando disfarçar o abalo que sentia.
— Há! Vai sonhando…
— Você mudará de ideia quando conhecer melhor meu trabalho com carros.
— O que??? — arqueei as sobrancelhas, confusa.
— Calma! Estou falando do carro… por enquanto! — resmungou, sorrindo. — Poderia me mostrar seus documentos?
Entreguei minha habilitação, o documento do carro e o comprovante de residência.
— Andréia — disse ele, falando meu nome devagar, como se quisesse decorá-lo. — Agora, preciso do seu telefone e saber quais lugares você costuma frequentar.
Revirei os olhos, recusando-me a dar qualquer vantagem. Entrei no clima de saída rápida.
— Até mais! Ligue-me apenas sobre o carro. Em dois dias, eu volto para buscá-lo.
Segui em direção à porta, mas ele tomou minha frente, batendo a porta e ficando muito próximo. Aff! Aquela sensação estranha… ele realmente me deixava inquieta.
— Como vai para casa?
— Com o transporte mais moderno do mundo… minhas pernas.
Arrepiei-me. Ele olhou para minhas pernas com aquela expressão descarada.
— Concordo que é um belo transporte. Mas acho que consigo te oferecer algo mais rápido. Venha comigo!
— Para onde? — perguntei, surpresa.
— Vou te levar ao paraíso… — arregalei os olhos. — Relaxa, só vou te emprestar um carro.
Ele me conduziu até o elevador, segurando minha mão e quase me fazendo tropeçar. Paramos por um instante, e por um segundo o mundo pareceu parar. Tudo parecia concentrado naquele pequeno espaço. Meus olhos o estudavam, e a atração era inegável… até que ele quebrou o silêncio com seu sorriso confiante.
— A senhorita precisa me dar licença para apertar o botão do elevador.
— Ah, sim… claro! — afastei-me sem jeito.
Ele apertou o botão do segundo andar, mantendo aquele sorriso satisfeito no rosto. d***a! O que acabou de acontecer? Senti a adrenalina percorrer minhas veias, como se tivesse corrido uma maratona. E eu detestava correr!
Quando chegamos ao segundo andar, fiquei boquiaberta. Para entrar, precisava usar um reconhecimento de íris. Sério? Estava na CIA? FBI? Ou ele era o próprio 007?
A porta se abriu, e diante de mim estava um enorme salão, com paredes de vidro, piso de mármore e vários carros expostos. Ferrari, Camaro, Lamborghini, carros antigos dos anos 50, 60, 70… e, pasme, vários Fuscas. Sério? Fuscas?
— Ai, meu Deus! Você tem razão… isso é um paraíso dos carros!
Ele pareceu surpreso com minha empolgação.
— Você gosta de carros antigos?
— Você está brincando? São clássicos! Não entendo muito, mas olha isso… — apontei para um Jaguar antigo. — Um Jaguar dos anos 60, se não me engano.
— Anos 50 — corrigiu.
Fiquei fascinada. Pelo menos, os castigos e lições que meu pai me dava valiam alguma coisa: eu sabia reconhecer alguns modelos e ainda aprender mais rápido sobre eles. Ele começou a me contar histórias sobre alguns carros.
— Esses carros são itens de colecionador, valem milhões. — Uau! Então, os donos devem ser muito ricos. — Enquanto seu carro estiver sendo consertado, você pode escolher qualquer um desses para usar nesses dois dias.
Me virei, surpresa. Não esperava aquela proposta.
— Isso é padrão para todas as suas clientes? — perguntei, provocativa.
Ele deu uma piscadinha, e meu coração disparou.
— Não… só para as especiais.
Afastei-me, nervosa, e fui em direção ao Fusca branco. Se eu ia escolher um carro, que fosse algo seguro. Adoraria dirigir aquela Ferrari vermelha, mas, considerando meu histórico, escolhi o mais discreto…
— Os donos não vão se importar?
— Pode escolher qualquer um. O dono não vai se importar.
— Ah é? Como sabe?
— Está olhando para ele — respondeu, sorrindo.
Uau! Fiquei sem jeito, meio abobada, e falei atropelando as palavras:
— Eu vou ficar com o Fusca.
Edson arqueou uma sobrancelha, mas não comentou nada. Ele abriu a porta do passageiro, me deixando entrar, deu a volta no carro e entrou no lugar do motorista. Depois seguimos pela rampa que dava acesso a uma rua deserta atrás da oficina.
Ele desceu, abriu a porta do passageiro e me entregou as chaves. Apesar de todo seu jeito arrogante, era um cavalheiro.
— Tente me devolver inteiro, hein.
— Qual é? É só um Fusca, não é minha Ferrari! — tentei brincar.
Ele me olhou sério e fechou a porta do motorista. Liguei o carro, e Edson bateu no vidro, fazendo sinal para eu abaixar. Suspirei e rolei a manivela.
— Olhos verdes, dessa vez lembre-se de dar a seta… — resmungou.
Idiota! Até parecia que ele queria me ensinar a dirigir. Dei a partida e acelerei, sentindo uma mistura de adrenalina e divertimento.