Capítulo 1
Jogo a bolsa no sofá ao mesmo tempo que solto o cabelo do coque bem arrumado. Meus sapatos eu já chutei para longe assim que passei pela porta do apartamento. Me sento com alívio na superfície macia e respiro fundo, desabotoando a camisa.
Mas não consigo parar de sorrir. Consegui.
Quando acordei de manhã, parecia que havia um caroço entalado na minha garganta, o que me impediu de comer qualquer coisa antes de sair. Então caminho até a cozinha e começo a aquecer um congelado enquanto repasso o meu momento de triunfo.
— Senhorita Bridget, admito que fiquei bastante surpreso ao ler seu currículo e sua carta de recomendação. Não é sempre que vejo um tipo de discurso como aquele. — Aston Caridge me diz, de trás de sua mesa gigante e cara.
Dou um sorriso contido, mantendo as mãos cruzadas sobre o colo de forma recatada e elegante.
— Miss Amelia é bem conhecida pela franqueza. Outros empregadores já comentaram sobre sua carta de recomendação. — Baixo meus olhos e encaro meus dedos, me obrigando a não retorcê-los.
— E você já fez muitas entrevistas desde que deixou os Cunning? - Sr. Caridge pergunta.
Ergo a cabeça e deixo minha expressão mostrar competência, seriedade e um mínimo de consternação.
— Algumas, senhor. Infelizmente a maioria das pessoas não sabe lidar muito bem com palavras ásperas.
O que significava que a maioria dos lugares onde fui me chutava pra fora ao ver que a megera da minha ex patroa xingava de i*****l qualquer um que não me achasse competente o suficiente para ser contratada.
Calidge se recosta na cadeira, avaliando a carta e o currículo. Prendo a respiração, e me forço a soltá-la devagar. Faço isso três vezes antes que ele volte a falar.
— E a senhorita realmente fala cinco línguas? E é formada em administração? E tem cinco anos de experiência como assistente pessoal da esposa do presidente de uma das maiores redes hoteleiras do mundo? — Uma sobrancelha grisalha se ergue, os olhos verdes subindo do papel até o meu rosto, procurando qualquer pista de mentira, aposto.
— Na verdade, senhor, eu falo sete, mas só tenho diplomas de comprovação para cinco. — Minha voz é delicada ao corrigir.
O som do microondas me trás de volta ao momento, e abro a porta e retiro o pedaço de lasanha, agora fumegante. Volto para a sala soprando, e como no sofá mesmo, olhando a televisão sem prestar atenção.
A Calidge Corp S.A. é a maior indústria de móveis do país, e uma das maiores do mundo. Foi a primeira a inovar na produção sustentável, excluindo a extração de madeira de lei e implantando o reflorestamento em sua produção. Uma potência, que rende alguns algarismos altos acompanhados de vários e vários zeros a cada ano, é o sonho de consumo de qualquer um que seja da área administrativa. Literal e figuradamente, para um bom funcionário de alto escalão da C.C.S.A o céu é o limite.
E aqui estou eu: assistente pessoal do futuro CEO!
Dou um grito de comemoração, antes de cobrir a boca com a mão e sair dançando enquanto levo o prato vazio para a pia. E continuo dançando ao lavar e guardar. E ainda enquanto vou para o quarto e depois o banheiro tomar um banho.
Ainda enrolada na toalha atendo o telefone que toca de forma estridente. A voz animada de Lindsay me impede de falar qualquer coisa.
— CONTA TUDO! Conseguiu? Como foi? Ele é tão charmoso quanto parece na televisão? — Lind tem uma queda grave por caras mais velhos.
— Começo na segunda. – Mantenho o tom blase, embora esteja sorrindo de novo.
Afasto o aparelho do ouvido com o grito que ela dá, e começo a rir baixinho.
— Aimeudeusaimeudeusaimeudeus! Calidge Corp!
— Eu sei. Eu ainda estou processando isso. Eu… — Fico sem palavras e balanço a cabeça, mesmo que ela não possa ver o gesto.
— Nós vamos sair pra comemorar! Álcool vai lubrificar as engrenagens da sua cabeça e te ajudar a 'processar'. — Sua empolgação é contagiante.
— Vou te esperar às dez. O destino é por sua conta. — Lhe dou carta branca, e consigo ouvir quando ela bate palmas, comemorando.
— Coloque algo sexy. A melhor forma de comemorar é com uma bela sequência de orgasmos.
Reviro os olhos. Mais uma vez ela esta tentando interferir na minha vida s****l - ou falta dela. Mas por essa noite eu concordo. Vai ser bom relaxar.
— Feito. Até mais tarde.
Os cabelos negros caem em ondas ao redor dos ombros descobertos, destacando a clareza da pele, e os olhos azuis estão delineados e brilhantes, combinando com a boca pintada de vermelho. O vestido é preto, sem alças e justo, na altura do joelho. Com vinte e seis anos, um sorriso satisfeito se espalha pelo meu rosto enquanto me olho no espelho. Calço os sapatos de salto fino e pego a minuscula bolsa, e saio.
Lá embaixo, Lind esta dentro do carro dela, me esperando. Ergue as sobrancelhas ao ver minha roupa, e levanta um polegar em aprovação. Sorrio e entro, e então estamos em movimento.
— Você esta um espetáculo. O cara que você escolher nem vai saber o que o atingiu.
Ela parece o oposto brilhante de mim. Cabelo loiro, vestido branco com lantejoulas e um decote que desde quase até o umbigo, parece pronta pra um coquetel em Hollywood.
— Obrigada. Você também esta incrível. Pra onde estamos indo? — Estou descontraída, me sentindo leve e surpreendentemente confortável com a roupa sensual.
— La Gruta! —Seu tom é grandioso e o sotaque é perfeito. Ergo uma sobrancelha, sem entender, e ela ri. — Uma boate top de linha que acabou de abrir. Estava louca pra ir lá.
Geralmente não vou muito à boates, mas essa é uma noite para comemorar novos começos, então tento manter a mente aberta e o pensamento positivo.
Continuamos conversando sobre amenidades até chegar ao La Gruta. A fachada é toda estilizada com pedras irregulares, e a entrada em arco realmente dá a entender que estamos entrando numa caverna. O segurança olha nós duas de cima a baixo e parece gostar do que vê, porque acena com o polegar indicando a entrada, e simples assim estamos dentro, mesmo com a imensa fila do lado de fora.
A música toca num volume gostoso, bom pra dançar, mas sem tornar as conversas impossíveis. A mesma decoração de pedra bruta decora o ambiente, e com a meia luz, me sinto num local rústico, selvagem. Essa sensação mexe comigo, me fazendo pensar em situações inusitadas. Algo instintivo, feral. E isso é quente como o inferno. Obviamente não sou a única a me sentir assim, porque vários casais estão em vários estágios de amassos, tanto na pista de dança, quanto na área VIP, onde pequenas ilhas de sofás de couro preto ao redor de mesas de vidro estão ocupadas por pessoas de aspecto mais sofisticado. Não são poucas as gravata afrouxadas e as bolsas Gucci por ali.
Amo dançar, e não demoro a estar na pista me balançando ao ritmo da música, uma tacinha de um negócio doce que Lind pegou no balcão do bar pra mim. Não é r**m, então bebo e balanço. A sensação é melhor do que eu esperava, e um sorriso surge no meu rosto enquanto danço de olhos fechados.
É quando eu sinto um par de mãos na minha cintura e um corpo forte por trás de mim.
— Você parece incrível dançando assim. Me faz imaginar sua expressão estando absorta em… 'outras coisas'. — Uma voz profunda e meio rouca sussurra no meu ouvido.
Meu corpo congela e meus olhos abrem, e minha primeira vontade é virar e enfiar a mão no cara que se atreveu a me tocar sem permissão. Mas me controlo. Algo naquela voz mexe comigo, e eu me viro pra ver quem é ele. Meu olhos batem numa camisa social cara desabotoada, com um paletó chique por cima. Nada de gravata a vista, mas aposto que ele deve ter uma em algum lugar. Ergo os olhos… e ergo mais um pouco, até ver um maxilar quadrado coberto por uma barba preta bem aparada, lábios esculpidos, nariz reto e sobrancelhas grossas, e olhos… AI MEU DEUS. Os olhos dele são cor de oliva. Não são verdes, nem castanhos, nem azuis, mas uma mistura perfeita das três cores. E eles estão fixos na minha boca.
Sou uma mulher bonita. Atraente. Tenho plena consciência dos meus atributos, e por isso caras de boa aparência dificilmente viram a minha cabeça. Mas a forma como esse estranho imenso e lindo me olha faz com que me sinta consciente do meu corpo, de como meus s***s ficam destacados no vestido, e de como a seda fina me permite sentir o calor de suas mãos na minha cintura. E um pouco abaixo dela eu sinto um latejar gostoso que me faz lamber os lábios por reflexo.
Ele registra isso, e um sorriso puramente masculino se insinua em sua boca. Pelo visto não sou a única que sabe do efeito que pode causar.
— Outras coisas? — Ergo uma sobrancelha pra ele, quase em desafio. Meu corpo esta aceso e pronto para o flerte - e qualquer resultado que vier dele.
Jogo o cabelo do ombro, deixando meu pescoço e ombro expostos, e os olhos dele se movem pra minha pele. Rá! Minha vez de vê-lo lamber os lábios.
— Sim. Várias outras coisas. — Sua voz fica mais rouca e eu me obrigo a não apertar as coxas. Ele pega minha mão e ergue, pousando um beijo no meu pulso, o arranhar da barba espalhando pequenos tremores pela minha pele e fazendo meus pelos ficarem arrepiados. — Você vai me deixar te mostrar que coisas são essas?
Eu vou?
Vou embarcar numa aventura de uma noite com esse estranho delicioso que deixou meu corpo latejando?
Fico na ponta dos pés e sussurro contra sua boca.
— Faça seu melhor.