O Dono do Vidigal

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Tóxico

E aí, mulherada, meu nome é Théo, mas podem me chamar pelo vulgo Tóxico. Eu tenho 27 anos, sou dono do Vidigal e já tô preso há cinco anos nessa merda de Bangu porque entraram no meu morro de surpresa e eu acabei rodando, tá ligado? Porque eu matei uma policial queimada, filha da p**a que entrou de X9 no meu morro e achou que ia sair de boa. Desde então, eu tenho visto o sol nascer quadrado. Só que agora o safado do meu advogado conseguiu um pedido de liberdade condicional. Eu tenho que voltar pra dormir no presídio todo dia, mas vocês vão ver: nem eu tô me dando essa liberdade porque, quer vagabundo ou não, depois que o juiz assinar o papel eu não piso aqui nem fodendo nunca mais nesse inferno. Porque é isso que isso aqui é: o inferno, mano.

Galinha: p***a, quer dizer que tu vai abandonar a tropa hoje, né? Tô doido pra minha liberdade cantar também, irmão.

Tóxico: Vou te indicar meu advogado, c*****o. Tem que cantar pra tu também. Tu tá ligado que eu não tô na mesma perpétua, né? Eu tô cansado de ficar aqui nessa merda, irmão. Não dá mais, não. Cinco anos comendo b****a em pé no banheiro não dá mesmo, tô fora. O meu gerente falou que vai dar uma festinha pra mim em uma boate.

Galinha: Aí sim, considerado pra c*****o, né?

Tóxico: Nem tão considerado assim, tá ligado? Senão não tinha ficado cinco anos nesse inferno. Mas é aquilo, né? Segundo a justiça, agora eu tô limpinho. Eu só não volto nesse inferno nem pra dormir. Eles vão ter que me caçar, tá ligado?

Galinha: É isso. Mas aí, vamos tomar uma hoje, pô. Vou pedir pro carcereiro arrumar uma cervejinha pra gente poder comemorar que tu vai embora desse inferno, irmão.

Tóxico: Irmão, com todo respeito, hoje eu só quero dormir cedo pra ver se eu acordo logo no sábado pra eu meter o pé, pra acontecer lá da festinha na boate, pra minha liberdade cantar e pra dar tudo certo pra eu voltar pro meu Vidigal, mano. Até queria tomar uma com você, tá ligado? Mas não vou tomar não, que eu não posso vacilar, porque se eu vacilar é capaz de vagabundo falar que a minha liberdade não vai rolar e eu vou ficar maluco.

Galinha: Tá certo, mano. Tem que ficar na atividade porque esses cu-azul daqui de dentro são tudo vacilão. Eles podem arrumar alguma coisa pra tu.

Tóxico: É isso. Mas agora, minha liberdade já foi assinada e vagabundo não vai me fazer ficar aqui dentro nem amarrado. Eu mato cinco se eu tiver que ficar aqui.

Ele deu um sorriso de lado e saiu de perto de mim. Até gosto do Galinha, tá ligado? Mas sabe aquela pessoa que não é confiável? É ele. Eu tenho certeza que ele trabalha pro outro lado também, mas eu não falo nada. Só fico na atividade. Aqui dentro a gente tem que pensar no que a gente vai falar, no que a gente vai ouvir e no que a gente vai levar pro desenrolo. E eu não posso levar ninguém pro desenrolo sem ter 100% de certeza, tá ligado? Mas eu não vou beber com ele que eu não sou maluco. Vai que ele faz alguma coisa pra eu ficar mais um tempinho aqui dentro.

Entrei na minha sala, tranquilão, peguei o celular que tava escondido debaixo do travesseiro e apertei em cima do contato do meu advogado. Quero ter certeza que eu vou sair amanhã mesmo, tá ligado? Não quero ficar marolando aqui dentro nem mais um minuto. Deus que me perdoe.

Ligação

Marcos: Fala. Pensei que você ia demorar a me ligar, ou melhor, pensei que você já tinha entregado esse telefone pra outro preso.

Tóxico: Antes de entregar eu quero ter certeza que eu vou sair daqui amanhã, né? Tenho que ficar na atividade. Aí eu dou meu telefone pra outro preso, depois eu vou ter que tomar no cu comprando outro, tá maluco? Telefone aqui tá pela hora da morte, acessório de luxo.

Marcos: Tá tudo certo, irmão. Amanhã tu vai voltar pro teu morro, pra tua vida. Eu vou te buscar de manhã cedinho e, de noite, vai ter a festinha lá na boate que os caras tão organizando. Teu irmão tá animadão pra poder olhar pra essa tua cara de novo.

Tóxico: Ele tá animadão é pra poder se livrar de tomar conta do morro, isso sim, hahaha. Tu acha mesmo que ele quer ficar com essa responsa nas costas dele? Duvido. Mas amanhã eu volto pro Vidigal. Eu tô animado pra essa festinha na boate. Tu acha que vai dar bom?

Marcos: Dando bom ou r**m, eu vou estar lá pra poder curtir com vocês, né? Mulher é aquilo, tô dentro.

Tóxico: Tu não vale nada, né, seu filho da p**a? Mas é isso, vou te esperar amanhã e não se atrasa não, que eu não quero ficar nem na porta dessa p***a aqui. Vai que eles mudam de ideia e me colocam pra dentro de novo.

Marcos: Hahaha. O juiz que assinou pra você sair e ganhou uma bolada, pode ter certeza que ele não vai mudar de ideia, porque se ele mudar de ideia ele sabe que é um homem morto. Agora eu vou desligar, que eu tô com assunto sério pra resolver aqui em casa.

Tóxico: Assunto sério… r**o de saia, né, filho da p**a? Que é disso que vocês gostam, de mulher, um bando de safado.

Marcos: Hahaha. Até parece que você não é do bonde. Até amanhã.

Tóxico: Não se atrasa, hein, p***a.

Ligação encerrada.

Fechei os olhos, respirei fundo e fiquei pensando. A minha liberdade vai cantar amanhã, o pai vai estar na pista e ainda vou numa festinha… p**a que pariu, vai ser só ladeira abaixo.