Lyandra
Quando a Bruna saiu, eu fiquei pensando na proposta dela. Eu sei que, se eu não for, ela vai me ajudar de qualquer forma… mas, p***a, é muita pressão em cima dela. p**a que pariu, na moral… eu achei que recomeçar a vida seria muito mais fácil, mas pelo visto não é. A vida não é um morango, não é leve, não é simples. Pelo visto, eu vou ter que fazer o que for preciso pra sobreviver.
Abri o site do Riovagas e comecei a procurar emprego. Mandei meu currículo pra vários lugares… e nada. Ninguém responde. É claro que eu não espero que a resposta caia do céu, mas já faz um ano que eu tô mandando currículo e ninguém me chama. Isso cansa, isso desanima, dá vontade de desistir.
Eu já tava desacreditada quando meu celular tocou. Era o seu Antônio. Um velho aqui do morro, chato pra c*****o. Eu já fiz faxina na casa dele, e ele até paga bem. O desgraçado tem dois mercadinhos aqui dentro e vive de boa. Respirei fundo antes de atender.
Ligação:
Lyandra: Oi, seu Antônio. Tudo bem? Como o senhor tá? A que devo a honra da sua ligação? – falei forçando simpatia.
Antônio: Oi, Lyandra. Tudo certo. Tô te ligando porque preciso que você faça uma faxina aqui em casa. A casa tá uma bagunça. E eu vou pagar bem, o mesmo valor de sempre.
Lyandra: Sim…
Antônio: Você pode vir hoje?
Lyandra: Pô, seu Antônio… precisa ser hoje? É que já são quatro da tarde, e daqui a pouco tenho que buscar minha filha na creche.
Antônio: Amanhã eu tenho um almoço de família. Precisava que a faxina fosse hoje, senão não vai dar tempo. Mas, se você não puder, eu chamo outra pessoa…
Lyandra: Não, não! Eu vou, sim. Eu vou dar um jeito. Pode ficar tranquilo que já já tô chegando aí.
Antônio: Tudo bem. Tô te esperando.
Desliguei a chamada já passando a mão no rosto. p**a que pariu, vou ter que incomodar a Bruna e a mãe dela mais uma vez. Abri meu w******p e mandei mensagem.
Mensagem:
Ly: Amiga, eu não quero te perturbar, mas será que você pode pegar a Alice na escola pra mim? Pintou uma faxina de última hora, e como você sabe, eu tô precisando de grana. Não dá pra recusar.
Bru: Claro, amiga! É claro que eu posso pegar ela. Passa aqui quando terminar a faxina. Fica tranquila, eu cuido dela direitinho até você chegar.
Ly: Você é um anjo, sabia?
Bru: Hahaha, tenho noção!
Ly: Qualquer coisa me liga.
Bru: Pode deixar comigo.
Respirei aliviada porque ela vai conseguir pegar a Alice. Subi correndo as escadas, vesti minha roupa de faxina — uma camisa de homem e um short mais comprido, porque o seu Antônio é um abusado que vive encarando a minha b***a e nem disfarça. Prendi o cabelo, desci o morro e fui direto pro mercadinho.
Assim que cheguei, ele me olhou de cima a baixo com aquele sorrisinho malicioso. Eu fico com nojo, sim, mas preciso trabalhar.
Antônio: Pensei que você não vinha.
Lyandra: Eu só tava resolvendo com uma amiga pra buscar minha filha na creche. É pra limpar lá em cima, né?
Antônio: Sim. Pode subir.
Subi a escada até o andar de cima, onde é a casa dele. E, realmente, estava uma zona. Fui direto pro banheiro, peguei o balde, separei os produtos de limpeza e comecei a trabalhar. Coloquei meu fone pra ouvir a Mamys cantando, e já fui logo repetindo:
"Energia de gostosa, atitude de gostosa, quem bate boca é feia, feia que faz fofoca…"
Eu tava tão concentrada limpando os móveis que nem percebi quando o seu Antônio apareceu atrás de mim. Ele ficou me encarando por uns segundos. Tomei um susto e tirei o fone na hora.
Lyandra: Desculpa, seu Antônio. Eu tava com o fone. O senhor falou alguma coisa?
Antônio: Não… só tava admirando sua beleza. Você tem noção do quanto é bonita, menina?
Lyandra: Obrigada. Agora deixa eu continuar meu trabalho.
Antônio: Eu ouvi a assistente social da associação dizendo que você tá passando por um momento difícil. Que tá precisando comprar umas coisas pra sua filha. Foi por isso que te chamei hoje. Quero te ajudar, Lyandra. Você só precisa colaborar, e eu vou te ajudar.
Lyandra: Eu acho que não tô entendendo muito bem o rumo dessa conversa.
Antônio: Eu só tô dizendo que você é uma mulher muito bonita… e que eu posso te dar dinheiro, uma casa boa, tudo o que quiser. É só me agradar.
Lyandra: Seu Antônio, o senhor deve estar fumando maconha estragada. Que falta de respeito é essa? Eu nunca te dei a******a pra me oferecer dinheiro em troca de… de favores!
Antônio: Me fala o seu preço. Eu pago. Quer uma casa nova? Eu te dou. Aqui no morro, tenho várias. Coloco sua filha em colégio particular. Eu te dou tudo que você quiser. É só sexo, Lyandra. Eu sei que sou velho, mas posso te fazer chegar em lugares que você nunca chegou…
Lyandra: Se o senhor não me respeitar, eu que vou te fazer chegar num lugar que você nunca chegou: no cemitério.
Antônio: Tá muito nervosa pra quem precisa de dinheiro. – ele falou se aproximando, e eu comecei a tremer.
Lyandra: Se afasta! Eu vim aqui pra trabalhar, não pra aguentar patifaria. A sua mulher sabe que você tá dando em cima de mim?
Antônio: A Maria se faz de surda, muda e cega. Ela gosta da vida boa que leva. Você também pode ter uma vida assim, se quiser. Toda vez que eu te vejo, fico duro igual pedra… Se você me ajudasse a aliviar, eu te ajudava a viver melhor.
Lyandra: Quer saber de uma coisa? Eu não vou fazer mais p***a de faxina nenhuma!
Ele me encarou, puxou a carteira do bolso e jogou R$400 no chão.
Antônio: Mesmo assim, pega o dinheiro da faxina. Eu sei que você tá precisando. E da onde esse veio, tem muito mais.
Lyandra: Pega esse dinheiro e enfia no seu cu! – falei já me afastando e saí correndo dali.