Lyandra
Desci as escadas da casa do Seu Antônio em disparada. Que ódio desse velho nojento! Quem ele pensa que eu sou? Ele achou mesmo que eu ia t*****r com ele por causa de dinheiro? Eu não acredito que saí da minha casa pra passar por isso. Hipocrisia do c*****o. Eu queria gritar pra todo mundo o que tá acontecendo, mas ele mesmo disse que a mulher dele aceita. Então, de que ia adiantar? Ela ia se fazer de vítima e depois continuar com ele… e eu ainda ia sair como a errada.
Subi o morro p**a da vida. A minha vontade era ter metido a mão na cara daquele velho desgraçado, mas aí ele ia falar que eu bati nele do nada. Duvido que ele teria coragem de admitir que me ofereceu dinheiro pra eu t*****r com ele. Filho da p**a! E ainda jogou o dinheiro no chão, como se eu fosse pegar aquela merda. Como se eu fosse alguma p*****a. Ele achou que ia me humilhar. Ou melhor… ele achou que ia me comprar.
Ly: Amiga, tô indo buscar a Alice. Se eu te contar o que aconteceu, você vai ficar desacreditada.
Ela respondeu em segundos.
Bru: Vem logo. Ela não tá bem.
Meu peito afundou. Um calafrio percorreu meu corpo inteiro. Corri como se minha vida dependesse disso — e dependia. Quando cheguei na casa da Bruna, ela já estava no portão com a Alice no colo. Pálida, suando, com os olhinhos revirando.
Bruna: Amiga, ela tá com febre muito alta! Já dei dipirona, mas não baixa!
Lyandra: p**a que pariu... vamos levar ela pro hospital!
Fomos pra um hospital fora do morro. Lá dentro até tem o postinho, mas eles não fazem atendimento complexo. Estão construindo a parte nova, onde vão fazer cirurgias e outras coisas, mas ainda não tá pronta. Então, qualquer caso mais sério, a gente tem que vir pra UPA mesmo.
Bruna: Amiga, calma. Vai dar tudo certo.
Lyandra: Não vai dar certo, Bruna. Nada dá certo. Eu tentei, cara. Eu juro que tentei...
Bruna segurou minha mão. Forte.
Chegamos no hospital e fomos direto pra emergência pediátrica. A médica atendeu rápido, mas o olhar dela já me deixou apavorada.
Médica: Ela tá com um quadro avançado de pneumonia. Vamos precisar internar agora. O pulmão dela tá muito comprometido. Se não cuidarmos disso imediatamente, pode se transformar em algo muito mais grave.
Lyandra: Internar? Mas... ela vai ficar bem, né?
Médica: Vai depender da resposta dela aos antibióticos. Se ela não reagir bem nas próximas 24 horas, talvez tenhamos que considerar medidas mais agressivas.
Ela não falou “cirurgia”, mas o tom era tão sério que parecia até pior. Meus olhos encheram de lágrimas, mas eu segurei. Não dava pra chorar ali. Não na frente da minha filha.
A médica levou a Alice pra ala infantil. Eu e Bruna ficamos sentadas. Eu tava tentando me fazer de forte, mas não consegui. As lágrimas começaram a cair. E, junto com elas, veio aquela avalanche de perguntas: por que tudo de r**m acontece comigo? Desde o meu casamento que deu errado, até agora... nada dá certo. Eu não consigo acertar uma. Eu não consigo ser uma boa mãe pra minha filha. Eu não consigo fazer nada direito. E parece que a única solução… é a proposta que a Bruna me fez.
Lyandra: Bruna...
Bruna: Oi.
Lyandra: Eu vou aceitar o convite. Eu vou nesse job aí.
Bruna me olhou por alguns segundos. Ela não sorriu. Não comemorou. Ela entendeu. Só pegou minha mão e apertou de novo.
Bruna: Tem certeza?
Lyandra: Eu não tenho mais escolha. A Alice precisa de mim. E eu preciso de dinheiro.
Bruna: Então a gente vai fazer isso do jeito certo. Eu vou estar com você. E se você quiser desistir a qualquer momento, você desiste. Eu te tiro de lá nem que eu tenha que carregar você no colo. Mas agora, a prioridade é sua filha. E, pra isso, a gente vai levantar esse dinheiro. Seja como for.
Eu respirei fundo. E, naquele instante, eu entendi o que significa fazer tudo por um filho. Eu podia não ter experiência. Podia estar apavorada. Mas eu ia enfrentar o que fosse preciso. Porque quando a vida bate, a gente tem duas opções: cair... ou levantar com mais raiva do que ela.
Encostei a cabeça no ombro da Bruna e comecei a chorar. Chorei de desespero. Chorei pelas coisas que tão acontecendo na minha vida. Eu queria colocar tudo pra fora gritando, mas eu não podia gritar. Então deixei as lágrimas escorrerem. É claro que não ia sair toda a angústia e frustração que a vida me trouxe. Mas pelo menos isso eu ainda podia fazer.
Eu ainda podia chorar.
Porque amanhã… amanhã eu vou ter que ser forte. Amanhã eu vou virar garota de programa.