Um
Samantha McDowell
Após degustar calmamente mais um gole de café, observo a movimentação intensa na cozinha. O ambiente está tomado por uma atmosfera de expectativa em razão da chegada do filho do proprietário da fazenda. Há comentários de que ele viveu aqui durante a infância, mas, por eu ainda ser muito pequena à época, não tive a oportunidade de conhecê-lo. Apesar de ter passado praticamente toda a minha vida dentro da Fazenda Howard Ranch, sua presença sempre foi rara, embora, segundo relatos, ele seja bastante estimado pelos trabalhadores.
O senhor Howard determinou que fossem preparadas suas refeições favoritas, e o que chama minha atenção é o fato de minha mãe, Mary, conhecer detalhadamente suas preferências alimentares. Ela atua na residência da família há mais de três décadas, mas, ainda assim, o herdeiro visita o local com pouca frequência.
— Sam, deseja mais alguma coisa? — pergunta minha mãe.
— Já estou satisfeita, o pão de queijo estava excelente. Obrigada. — Respondo, recebendo dela um sorriso afetuoso.
— Quais são seus planos para hoje? — ela questiona enquanto p**a algumas cenouras.
— Preciso inspecionar o gado e verificar uma vaca que pariu recentemente. Quero avaliar sua recuperação e observar a vitalidade do bezerro — digo em tom sereno.
Recordo-me de que apenas deixei a fazenda quando fui para Northlake cursar Medicina Veterinária, posteriormente realizando especialização em animais de grande porte. O senhor Howard sempre deixou explícito que eu teria um espaço profissional garantido após minha formação. Além de financiar meus estudos, proporcionou-me a oportunidade de consolidar a carreira. Mesmo atuando há apenas seis meses, sinto-me realizada com o desempenho e com a prática adquirida.
— Sam! — escuto Bernadette me chamar. — Pode buscar cebolinha para mim?
— Claro. — Respondo prontamente.
Minha mãe, no entanto, intervém em tom firme:
— Não! Onde está a Naomy que não está ajudando? Peça para ela buscar.
— Sem problema, eu mesma busco — digo, preferindo evitar conflitos desnecessários. — Se encontrar a Naomy pelo caminho, aviso para vir ajudar.
Dirijo-me rapidamente à horta, pois ainda preciso examinar a vaca recém-parida. Cumprimento o senhor Anthony, responsável pelo cultivo, colho a cebolinha solicitada e, no retorno, encontro Naomy. Já antecipo sua postura ríspida.
— Naomy! — chamo em voz firme. — Minha mãe pediu que você vá até a cozinha agora.
— Sei das minhas obrigações, não precisa me lembrar — ela retruca de maneira áspera.
— Parece que não sabe, já que está aqui e não na cozinha — respondo com ironia, antes de me afastar sem prolongar a discussão.
De volta à cozinha, entrego a cebolinha à Bernadette, despeço-me de minha mãe com um beijo e sigo para o curral. Acompanhamento pós-parto é fundamental: a vaca precisa recuperar-se adequadamente e o bezerro deve apresentar desenvolvimento saudável. Após a verificação, encaminho-me ao estábulo para inspecionar os equinos.
No trajeto, encontro Kimberly, minha amiga de longa data. Estudamos juntas desde a escola da vila, seguimos até o ensino superior na mesma época, embora ela tenha optado pela docência e hoje lecione na mesma instituição em que estudamos.
— Kim! — chamo, apressando o passo até ela. — Tudo bem? O que faz por aqui?
— Estou indo encontrar o Amos, ele está no estábulo — responde sorrindo.
Brinco, fingindo aborrecimento, e logo rimos juntas, como adolescentes.
Durante a conversa, o assunto inevitavelmente recai sobre o retorno do filho do senhor Howard. Kimberly comenta que o conheceu em uma visita anterior, cerca de três anos atrás, e que ele demonstrou ser uma pessoa agradável. Apesar da minha aparente indiferença, admito, internamente, certa curiosidade. Ela ainda destaca sua aparência física, descrevendo-o de maneira entusiasmada, e não resisto em provocá-la com humor.
Ao chegarmos ao estábulo, somos advertidas pelo barulho que fizemos, mas logo descontraímos o clima. Kimberly encontra-se com Amos, e eu lhes concedo um instante de privacidade, desviando o olhar. Logo retomamos a conversa sobre o herdeiro, e Amos acrescenta uma informação relevante: ele é administrador e será nosso superior imediato. A notícia desperta em mim interesse profissional, pois imagino que sua chegada possa trazer inovações. Eu entro com o manejo reprodutivo, melhoramento genético e ele com as práticas de gestão pecuária.
Amos nos leva para conhecer o potro nascido naquela manhã. O animal, de pelagem predominantemente branca com manchas negras, é encantador. Observar sua vitalidade reforça minha certeza sobre a escolha da profissão. Kimberly, emocionada, pergunta qual será o nome do potro, e Amos explica que a decisão caberá a Jacob, já que o nascimento coincidiu com sua chegada.
Após alguns instantes de contemplação, despeço-me, pois ainda há tarefas a cumprir. Kimberly, em tom provocativo, sugere que eu me arrume para a recepção do novo chefe, mas apenas sorrio com desdém, despedindo-me do casal.
Enquanto caminho de volta, respiro fundo. Logo o filho do patrão estará entre nós, e resta apenas torcer para que sua presença contribua positivamente para a fazenda. De qualquer forma, este lugar permanece sendo minha escolha e meu refúgio, o espaço onde encontro satisfação e propósito todos os dias.