Dafne acordou sonolenta novamente.. Abriu os olhos lentamente e viu Dionísio sentado ao lado da cama. O coração acelerou, e ela, instintivamente, fechou os olhos de novo, fingindo dormir. Ficou assim por algum tempo, imóvel, com a respiração controlada, tentando acreditar que ele iria embora.
— Sei que está acordada, Dafne. Hora de ir pra casa.
— Não posso ficar aqui mais uns dias? — murmurou, ainda de olhos fechados.
— Não pode. A cirurgia foi um sucesso, você pode ir com a camisola mesmo.
Dionísio se levantou, aproximou-se da cama e tentou pegá-la no colo, mas ela negou , não queria ser pega por ele.. .
— Consigo andar. Estou bem.
— Está fraca. Comeu pouco, foi o que a enfermeira disse.
— Mesmo assim, consigo andar — insistiu.
Ela se sentou com cuidado, mas antes que pudesse se levantar sozinha, ele a segurou pelos braços e a ergueu. Vestia uma camisola rosa, feita especialmente pelo hospital para os pacientes em alta.
Dafne foi colocada no carro. Assim que sentou, fechou os olhos e encostou a cabeça no banco.
— Vai ficar de olhos fechados até quando? — perguntou Dionísio.
— Queria ter ficado no hospital — respondeu, num fio de voz.
Dionísio não disse nada.
Apenas ligou o carro e seguiu pela estrada, enquanto Dafne, em silêncio, sentia o corpo doer e o coração pesar com a certeza de que estava voltando ao mesmo lugar que não queria nunca mais entrar.. Quando Dionísio estacionou o carro, Dafne desceu sem esperar ajuda. Por sorte, foi uma daquelas cirurgias a laser, e a dor agora era suportável — apenas uma pressão incômoda na região do abdômen. Mesmo assim, cada passo parecia um esforço, porque tremia de medo, não sabia porque mais saber que Nero ou Venal como os homens o chamavam estava ali tao perto a deixava aterrorizada, saber que Venal havia m@tado a primeira mulher a deixava quase louca de medo.
Brutus surgiu à porta, oferecendo o braço.
— Senhora, deixe-me acompanhá-la até o quarto.
Ela hesitou por um instante, mas aceitou. Subiram em silêncio, os passos dela lentos, até chegarem ao quarto. Assim que se deitou, Brutus ajeitou o lençol e falou com respeito:
— Se precisar de alguma coisa, avise uma das funcionárias. Elas me chamam e eu dou um jeito de vir ajudar. Eu não estava na casa quando a senhora gritou… se estivesse, teria ajudado.
— Eu sei, Brutus. Obrigada., Brutus sabe por que ele m@tou a mulher? Por que Nero matou a mulher dele?
__ Não senhora, mas acho que foi armação.. Não acho que ele seja culpado;;
Ele se retirou, e ela fechou os olhos. Tentou descansar, mas o corpo ainda não encontrava paz. Depois de algum tempo, levantou-se com cuidado, trancou a porta e foi até o banheiro., tomou um banho quente depois sou o algodão para limpar os curativos, trocou as faixas e vestiu um vestido leve antes de voltar para a cama. O sono não vinha, mas preferia ficar imóvel a ter que enfrentar a voz dele.
Não demorou para Dionísio aparecer.
Entrou sem ba.ter, trazendo uma caixa com medicamentos e um copo d’água.
— Precisa tomar isso por quinze dias
Dafne se endireitou um pouco.
— Por que você não disse que estava doente?
— Porque você não se importaria
Ela soltou um riso curto, cansado.
__ Sempre te amei
Ela riu, porque nunca acreeditou no amor dele, nunca..
Ele estendeu a mão e tocou o rosto dela, devagar. O toque era pesado, odiava o toque dele.
O marido saiu, e Dafne voltou a ficar imóvel, o corpo tenso, a mente vazia. O silêncio voltou a dominar o quarto, até que o som de passos pesados se aproximou outra vez. Assustada, fechou os olhos e fingiu dormir,..
Mas Nero percebeu.
— Como está, Dafne?..
Ela hesitou por um instante antes de responder.
— Estou bem.
— Se precisar de alguma coisa, me ligue. Peça ao Brutus o número do meu telefone.
— Eu não tenho celular. Os telefones fixos ficam na sala, preciso ficar deitada, não posso ir até lá fazer a ligação;
Nero ficou em silêncio por um momento.
— Por que nao tem telefone?
— O seu irmão não deixa
Nero desapareceu do seu campo de visão, e Dafne acreditou que ele havia saído de casa, ela nao era importamte;
Poucos minutos depois, a porta se abriu novamente.
Ela se encolheu, o corpo trêmulo, esperando o som familiar da voz do marido — mas era Nero outra vez.
Sem dizer nada, aproximou-se e deixou um pequeno aparelho ao lado da cama.
— Está aqui o meu número. Basta ligar. O aparelho é seu agora.
Dafne o observou em silêncio, sem entender o gesto, as mãos trêmulas sobre o lençol.
— Por que está fazendo isso?
__ Porque eu quero, só isso Dafne.
E ele se foi.
Não conseguia entender. O homem que todos temiam, o que chamavam de rei do submundo, o mesmo que parecia mais frio e perigoso do que Dionísio estava sendo bom com ela, por que?
Por quê?