A vida tem dessas ironias: quando menos esperamos, quando achamos que nada pode voltar a ser calmo, ela insiste em nos oferecer dias que parecem saídos de um sonho. Foi assim que me senti naquela fase. Depois de tudo — as ameaças, o sangue, o desespero, o medo, o segredo que carregava —, de repente, parecia que o mundo tinha se cansado de cobrar a conta e simplesmente nos deixava viver. A rotina começou a ganhar contornos diferentes. Eu acordava, quase sempre, com Isadora ao meu lado. O cabelo dela espalhado pelo travesseiro, o corpo ainda aquecido pelo sono, a respiração tranquila. Havia algo de poético naquele quadro: depois de tantas noites tensas, poder apenas observar o silêncio de uma manhã calma já era um presente. Eu tinha me acostumado a passar alguns minutos só a olhando, sem pr

