Acordei com um som que não era bem grito, mas também estava longe de ser uma conversa calma. Era aquela cadência carregada, quando as palavras saem afiadas como lâminas e não existe mais filtro entre o que se pensa e o que se diz. Demorei um segundo pra perceber que vinha do andar de baixo. O sol entrava pelas frestas da cortina, mas o brilho era abafado, como se o dia também não estivesse com disposição pra sorrir. Coloquei uma camiseta qualquer, desci os degraus devagar, tentando entender o que estava acontecendo antes de aparecer. — … não aguento mais isso, Lorenzo! — a voz de Isadora ecoou primeiro, firme, mas com um tremor que denunciava a raiva misturada ao nervosismo. — Você acha que pode voltar pra casa todas as noites com cheiro de álcool, falar o que quer, como quer, e eu vou

