A manhã nasceu lenta no hospital. A claridade tímida atravessava as persianas do quarto, trazendo aquele tom pálido de azul acinzentado que não era exatamente bonito, mas que carregava uma sensação de recomeço. Eu estava deitado, exausto, ainda sentindo dores latejantes na região onde a faca de Gustavo tinha me acertado. Cada movimento era acompanhado por uma ardência insuportável, mas nada que me lembrasse tanto da morte quanto o simples silêncio que reinava após as madrugadas de insônia. Isadora estava sentada ao meu lado, deitada numa poltrona reclinável, ainda usando a mesma roupa da noite anterior. Ela havia dormido ali, porque se recusara a me deixar sozinho. O cabelo loiro estava bagunçado, caindo pelos ombros, e o rosto cansado mostrava olheiras profundas. Mas mesmo assim, havia u

