cap 01 ela só vai me atrapalha
Filipe...
Filipe: Eu não vou abrir mão do D2 só porque tu quer comer a irmã dele.
— Apontei pro Grego.
Grego: Eu não quero comer a garota, te liga, p***a! — gritou, jogando a garrafa de cerveja no chão.
O dono do bar ficou olhando pra gente, mas não falou nada. Duvidava que tivesse alguém maluco o bastante pra falar alguma merda na nossa cara.
Grego era dono do Complexo da Penha. O cara que comandava o morro há uns anos, e tinha o maior respeito dos moradores. Mas comigo não era tanto assim, porque ele me estressava pra c*****o às vezes. Tipo agora.
Ele comandava a p***a toda, mas tinha uns de confiança pra dar apoio nos bagulhos que a gente se metia.
Comecei com 33, aviãozinho... ainda era novão, pô. Não demorou muito pra descobrir o que eu queria de verdade. Até me metia nuns bagulho quando o Grego precisava, mas a minha meta mesmo era 157 boladão. Tinha nascido pra isso, sem neurose.
Comecei roubando na pista, coisa pequena, e me meti no meu primeiro assalto grandão com dezesseis anos. Foi loucura. Nem a cocaína me deixava tão pilhado quanto um assalto. Eu era viciado pra c*****o em adrenalina, e nada me proporcionava mais adrenalina do que um assalto bem bolado.
Cresci na visão do Grego, e a meta era minha. Eu trabalhava pra ele, a grana era dividida, mas o corre de montar os bagulhos era meu. E dessa vez ia ser quente.
Assaltar a casa do governador, pô.
O filho da p**a tava prejudicando pra c*****o o nosso lado, roubando, falando merda na televisão, enquanto o caveirão tentava invadir e a gente só devolvia bala com bala... Não dava nem umas horas e ele já tava na TV culpando bandido.
O foco era a grana, mas se eu tivesse a oportunidade, ia peneirar ele todinho, sem caô.
Filipe: D2 é o meu melhor piloto de fuga. Não tô entendendo tu querer meter a irmã dele no rolo.
— Cruzei os braços, boladão.
Grego: A garota quer crescer no crime, Tubarão. Ela tá vendendo bem pra c*****o na biqueira.
— Marolou legal enquanto falava, parecia estar com a cabeça em outro mundo. — Quero dar essa oportunidade pra ela.
Tava desconfiado que ele queria mesmo era dar a p**a pra ela. Nada a ver, pô. A garota era toda criança lá.
Filipe: Meter o louco com a família do lado é f**a, tu tá ligado.
Grego: Tô ligado, mas quero ela junto. — Insistiu.
Filipe: A garota deve nem saber atirar. — Resmunguei.
Grego: Aí o problema não é meu, né. Pago vocês pra ensinar quem tá chegando na caminhada.
— Falou, se levantando da cadeira. — A meta tá na tua mão. Faz acontecer.
Filipe: Três semanas. Tu quer que eu prepare uma criança em três semanas? — Neguei com a cabeça.
Grego: Criança? — Ele riu e eu fiquei mais bolado ainda. — É isso mesmo.
Filipe: Come ela antes, jaé? — Ele fechou a cara. Tava nem ligando. Não mandei vir pesar a minha mente. — Se eu tiver que deixar alguém pra morrer, não vou nem pensar em outra pessoa.
Grego: Fé pra tu.
Me dava o maior ódio no coro quando alguém tentava mandar em mim, pô. Não foi pra isso que eu ralei pra c*****o. Eu tinha os meus homens, o meu time, treinadão pra isso. Aí o outro vem de tiração com a minha cara, querendo incluir uma vagabunda no meu plano só porque ela tava batendo a meta legal na biqueira.
Tava pouco me fodendo. Se ela tava se dando bem lá, que ficasse lá então. E não viesse atrasar o corre dos mano.
Mas eu tava consciente de que a última palavra era do Grego, e ele já tinha dado o papo.
Continuei no bar por mais um tempo, tentando acalmar um pouco as ideias, antes de ir atrás da criança.
Vi o meu celular tocando e o nome da Fabiana brilhando no visor, mas nem atendi.
Fabiana era a minha fiel há dez anos.
É, caraí. Dez anos é coisa demais. Uma vida juntos. No começo era maneiro até, eu curtia ela, mas gostava mais da p*****a. Mas ela nunca se importou muito com isso, até porque se viesse ficar me enchendo era poucas ideia, e ela tava bem ligada nessa fita.
Mas a parada que já não era boa, piorou pra c*****o quando ela perdeu o bebê, há uns meses atrás. Eu não me importei muito, mas isso destruiu a mulher. E destruiu qualquer sentimento bom que existia entre nós dois.
Ela sabia que eu não queria. Nunca quis, e nem fiz questão.
Cê é louco, tio. Bandido não tem que ficar colocando cria no mundo pra sofrer, não. Mas a Fabiana nunca entendeu isso, e ficou toda toda quando descobriu que tava grávida. Mas na primeira consulta, a médica já tinha falado que o bebê não tinha sobrevivido.
Não vou mentir, fiquei aliviado. Era uma fita a menos pra minha cabeça. Eu não ia ser um pai maneiro, e se pá que ia sumir no mundo igual vários filhos da p**a aí. Mas eu não queria ser um filho da p**a.
Ela ficou doidona com isso, e jogava na minha cara que a culpa era minha por ter perdido o filho, sendo que eu nem tava por perto quando aconteceu, papo reto. Aí agora ficava apertando a minha mente, falando que tava com depressão e essas parada aí. A gente não tava bem, mas também era f**a de largar depois de tanto tempo juntos.
Salvador: E aí, meu parceiro, suave?
Voltei pra terra quando o moleque estendeu a mão, bem na minha frente, pra eu cumprimentar. Fiz um toque maneiro com ele e fiquei de pé, colocando um cigarro no bico e acendendo.
Filipe: Tudo certo. Tô piando, tenho uns bagulho pra resolver aí.
— Ele fez um joinha com a mão.
Salvador: Tranquilidade.
Filipe: Brota no treino às oito. Tô com um bagulho grande aí e quero tu envolvido.
Salvador: Claro, tio. Só agradece a confiança, viu.
Eu só mexi a cabeça e vazei dali.
Já tinha mandado o papo pro D2 que queria ele no treino, e o Rato também já tava ciente dos bagulhos. Então só faltava eu acionar a Alana.