65

1787 Words

ISABELA NARRANDO Eu conheço o barulho desse pagode de olhos fechados. Sei a hora que a bateria vira, o momento que o coro explode, o ponto exato que o gargalo da garrafa sua. Hoje tá tudo igual, mas eu não tô igual. Ficar parada no camarote fingindo que não tô vendo é minha pós-graduação e olha que eu já tenho uma: nutricionista do posto, fitinha de pressão, ficha de atendimento, prancheta na mão e consultório alugado ali na rua de baixo. O morro me conhece pelo jaleco, não pelo salto. Só que tem coisa que nem jaleco segura. Falar do Brasa? Tá. Sem novela. A gente começou no “nada a ver”. Eu atendia muita gente dele no posto: moleque anêmico, tia com diabetes, mãe cansada de comer salsicha. Ele via isso de longe, nunca falava comigo ali. Um dia, depois de uma campanha de pesagem, me esp

Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD