capítulo 03
1161 Words
Valentina On
Ela me olha e pula do sofá.
Alice: Levanta a raba daí que a gente vai tomar açaí com as filhotes de cruz-credo. Vou te apresentar! – fala batendo palminhas. Eu e Ana rimos dela.
Ana: Tudo doida, não liga não.
Subo com Alice pro quarto e decido trocar de roupa, porque estava calor e não queria ficar com aquela. Escolhi um conjunto, troquei o salto por uma rasteirinha e fiz uma trança lateral, deixando o resto solto.
Eu: Tô pronta. – falo.
Alice se vira e arregala os olhos.
Alice: Que conjunto mara, meu Deus! Menina, tô até com inveja. – ela mesma estava com uma blusa branca de duas listras no peitoral e um short jeans escuro.
Eu: Para, você também tá linda. Agora vamos, quero açaí, tô com fome.
Alice: Não é à toa que seu amigo te chama de Magali. – rimos e descemos as escadas, dando de cara com Ana, DT e Terror.
Terror: Onde pensa que vai? – pergunta sério. Eu paro de rir e fico quieta.
Alice: Ela vai comigo tomar açaí com as meninas. Algum problema? – cruza os braços.
Terror: Tem. Eu não deixei ela ir. – fala e leva um tapa da mãe. – Ai, c*****o, isso dói!
Ana: É pra aprender. A menina pode estar aqui, mas você não vai trancar ela em casa. Podem ir, meninas. – ela me olha. Alice anda, mas eu fico parada, com medo. DT percebe.
DT: Eu vou com elas, se o problema é ela fugir.
Alice: f**a-se. Vamos logo, Valen. – ela me puxa, e DT vem logo atrás.
DT: Gostei da roupa, pequena. – fala, e eu começo a rir. – Eu hein, doida.
Eu: Não é isso. Me chamou de pequena, mas sou quase do seu tamanho. – ele olha e parece só então perceber. Faz uma careta e Alice cai na risada.
Não demorou muito pra chegarmos.
Alice: Abre espaço que a mais maravilhosa chegou!
Xxx (Loira): Ih, tá loucona, eu já tava aqui.
Xxx (Morena): Suas p*u no cu, eu que sou maravilhosa.
DT: Aí, amigas, eu sou a mais maravilhosa. – fala em voz de gay e caímos na gargalhada.
Alice: Meninas, essa é a Valentina, nova moradora daqui, mais precisamente da minha casa. Valen, essa é a Isabela. – aponta pra loira. – E essa é a Isis. – aponta pra morena.
Eu: Oi, meninas.
Meninas: Oiii!
Isis: Menina, adorei sua roupa. – fala enquanto eu sento. O DT foi pedir os açaís.
Alice: Tem que ver o guarda-roupa dela, só roupa linda.
Isabela: Menina, inveja que fala. – começamos a rir. – Mas por que tá na casa da Alice? São parentes?
Eu: É uma história meio doida… Eu cheguei hoje e descobri que tenho dono. – elas me olham assustadas.
Isis / Isabela: O i****a comprou você?! – assenti. Elas ficaram de boca aberta, sem acreditar.
Terror: Eu ouvi isso. – aparece do nada. Eu fico quieta.
Isabela: O que aconteceu com você? Tá louco? Te conheço desde que me entendo por gente! Por que fez isso com a garota?
Terror: Não começa. – fala irritado, sentando do meu lado. Me olha fixamente, e eu fico calada. Logo DT chega com os açaís e entrega o meu e das meninas.
Todos: Obrigada.
DT: Ia te perguntar, mas esqueci. De onde você tava vindo quando cheguei na sua casa? – se vira pra mim. Todos me encaram.
Eu: Faculdade.
Alice: DE MEDICINA! – grita, chamando atenção. – Esse povo tem que saber que minha amiga nova vai ser médica! – fala rindo.
Terror: Não mais, né. – fala frio. Eu o encaro, assim como todos.
Eu: Vai me proibir até de estudar?
Terror: Vou. Não confio em você. – fala sério. DT balança a cabeça, reprovando.
Eu: Você não pode me proibir de tudo. Eu não sou sua escrava pra ficar trancada em casa fazendo o que você quer. Não vou parar minha faculdade. Eu não posso. Prometi pra minha mãe, e vou cumprir.
Terror: EU MANDO EM VOCÊ! E VOCÊ NÃO VAI! – grita. As lágrimas descem no meu rosto. Me levanto da cadeira e saio correndo, ouvindo só os gritos dele e DT tentando segurar.
Terror: VOLTA AQUI, VALENTINA!
DT: DEIXA ELA, MANO! – segura ele.
Corro em meio aos olhares das pessoas. A "nova menina do dono" agora corria chorando pelo morro.
Entro em casa e vejo Ana sentada no sofá.
Ana: Querida, tá tudo bem? – pergunta, se levantando. Eu corro pro quarto e me jogo na cama, chorando. Pego uma caixinha e tiro a foto da Lu, me deitando com ela ao lado.
A porta se abre, a cama afunda, e sinto um cafuné. Olho: é Ana. Ela me deita no colo e me deixa chorar.
Eu: Por que tudo acontece comigo, Ana?
Ana: Não sei, querida. Mas o que houve? – pergunta, sem parar o cafuné.
Eu: O Terror não quer que eu continue na faculdade. Eu não posso parar…
Ana: Não acredito que meu filho tá fazendo isso. Me desculpa por ele. – fala, decepcionada. Vê a foto na minha mão e eu escondo rápido. – Quem é?
Eu não estava pronta pra falar sobre isso, mas de alguma forma confiava nela, mesmo a conhecendo há poucas horas.
Eu: Precisa prometer que não vai contar pra ninguém. Por favor.
Ana: Eu prometo.
Me sentei ao lado dela, respirei fundo. Meses sem tocar nesse assunto. Só meu irmão, minha cunhada e Oliver sabiam.
Eu: Essa é a Luiza. Minha filha. – falo, e ela me olha surpresa. – Ano passado, fui numa festa e um cara bêbado me estuprou. Duas semanas depois descobri que estava grávida. – as lágrimas voltam. – Minha mãe ficou ao meu lado na gravidez toda. Não contei pro meu pai, tinha medo. Depois de meses, tive minha filha. Ela era meu motivo pra acordar todos os dias. Não tinha culpa do que aconteceu.
Um dia, minha mãe saiu pra trabalhar, fiquei sozinha com ela. Meu pai chegou, descobriu tudo e, junto com outro homem, pegou minha filha de mim. – falei, enquanto Ana me olhava incrédula. – Chorei, liguei pro meu irmão e pra minha mãe. Depois me ligaram do hospital: um carro tinha capotado e minha filha havia morrido.
Mas eu sei que não morreu. Ninguém viu o corpo. Não deixaram nem eu reconhecer. Disseram que já tinham feito isso. Eu sinto que ela tá viva, Ana. Sei que não posso parar de procurar. Ela é tudo que eu tenho. Depois de amanhã, ela faria um ano. Eu perdi um ano da vida dela… só por causa desse monstro.
Ana: Oh, minha filha… nunca poderia imaginar que você passou por isso. Não consigo nem medir a dor que sente, mas estou do seu lado. E se sente que ela tá viva, não desista. – beijou minha cabeça.
Ficamos abraçadas até eu pegar no sono, com a foto da minha pequena nos braços.
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