Mattheo se sentou na cama, a fotografia antiga ainda em mãos, e respirou fundo. Pela primeira vez, sentiu necessidade de organizar tudo de maneira clara, de colocar em ordem os fragmentos de sonhos que vinha tendo com Anélisse ao longo dos anos.
Ele começou a pensar com cuidado. Os sonhos começaram quando ele tinha cerca de quinze anos. Inicialmente, eram imagens vagas, mas sempre com ela sorrindo, próxima, acariciando seu rosto, transmitindo uma sensação de segurança e carinho que ele jamais sentira na vida real.
Conforme os anos passaram, ele percebeu uma mudança sutil nas nuances dos sonhos. Quando entrou na fase adulta, os sonhos passaram a retratá-la mais séria, mas ainda presente de forma protetora: ajudando-o, cuidando de ferimentos, guiando-o por caminhos que ele mesmo não conseguia enxergar. Havia uma determinação nela, uma força que não desaparecia, mesmo quando os sonhos traziam situações perigosas ou desconfortáveis.
Nos últimos sonhos, após o reencontro e a observação dela em Londres, a dinâmica mudou ainda mais. Ela agora o chamava pelo nome, pedia ajuda, exigia atenção. Era como se a Anélisse que aparecia nesses sonhos estivesse tentando quebrar barreiras, atingir algo dentro dele que até então estava adormecido, chamando-o para despertar memórias esquecidas.
E então vieram os últimos, mais recentes, que pareciam menos sonhos e mais memórias que estavam sendo trazidas à tona depois que ele a viu de verdade: momentos da infância na caverna, brincando com feitiços, sorrindo e cuidando dele, i********e genuína que a própria realidade havia apagado. Ele percebeu que essas memórias estavam ligadas diretamente à foto antiga que havia encontrado, à presença dela em sua vida que alguém ou algo quis apagar.
Mattheo respirou fundo, as mãos fechando-se em punhos sobre os joelhos. Cada nuance, cada detalhe, cada mudança nos sonhos revelava algo sobre ela — sobre o que ela sentia, sobre o vínculo antigo que tinham, e sobre a razão de ela estar reaparecendo agora.
— Então… — murmurou, a voz grave, cheia de determinação — você sempre esteve comigo. Sempre… mesmo quando ninguém mais lembrava. Sempre cuidando… sempre esperando que eu acordasse para perceber.
Os olhos fixos no teto, tentando conectar cada fragmento: os sorrisos, as lágrimas, os pedidos de ajuda, as memórias da infância. Tudo levava a uma única conclusão: Anélisse não era apenas alguém que ele conhecia; ela era parte de algo maior, um elo antigo que precisava ser desvendado.
— E agora… — disse, cerrando os dentes — vou descobrir quem ou o quê fez isso com a gente, e nós... Nós vamos nos ter de volta, Anélisse.