ENTRELAÇADOS PELO DESTINO

Capítulo 26. A foto

Mattheo percebeu que, para entender completamente Anélisse e a estranha ligação entre eles, precisava olhar também para seu próprio passado — algo que raramente o interessara. Ele nunca sentiu necessidade de revisitar sua infância, marcada por cuidado rígido e treinamentos do seu pai, brigas com seu pai, era algo que ele detestava, detestava se lembrar do seu pai e de tudo que forçou ele a aprender. Mas agora tudo fazia sentido: se havia uma conexão com ela, talvez ele pudesse encontrá-la nos próprios registros esquecidos.

Ele começou a vasculhar pergaminhos, fotos antigas e registros de sua criação, procurando qualquer vestígio que pudesse ligar seu passado ao dela. A tarefa era meticulosa, envolvendo horas de revisão e comparações detalhadas.

Foi então que, em meio a fotos de seu aniversário, uma data que Mattheo odiava lembrar pois seu pai nem mesmo lhe parabenizava na data. Algo chamou sua atenção. Uma imagem antiga, quase desbotada pelo tempo, mostrou Mattheo ainda criança, com cerca de oito ou nove anos, ao lado de outra criança — uma menina de cabelos castanhos escuros e olhos profundos, sorrindo com ele.

O coração dele acelerou. Era Anélisse. Ele reconhecia o brilho dos olhos castanhos dela em qualquer lugar, qualquer foto...

Ele ficou parado por um momento, os olhos fixos na fotografia. O sorriso dela era inocente, espontâneo, e o jeito como se inclinava para ele revelava proximidade genuína. Pela primeira vez, ele teve uma prova concreta: eles realmente se conheciam na infância, e não era apenas uma memória confusa ou um sonho fabricado pela mente.

Mas algo ainda o perturbava. A foto era antiga, mas não havia registros posteriores dela com ele, nem nos arquivos de sua criação. Era como se aquela ligação tivesse sido abruptamente cortada, apagada das memórias e registros, tanto dele quanto de Anélisse.

— Então… — murmurou, a voz baixa, quase sussurrada — nós éramos próximos… de verdade… e alguém… ou algo… quis que esquecêssemos.

Mattheo segurou a fotografia, analisando cada detalhe.A sensação de familiaridade, agora confirmada, misturava-se à obsessão crescente de descobrir tudo sobre ela, tudo sobre o passado deles.

— Você me esqueceu… e eu esqueci você… — disse, os olhos fixos na imagem — mas agora… agora vamos descobrir tudo.

Ele guardou a foto cuidadosamente, a mente girando com perguntas que precisavam de respostas: quem os separou? Por que essa ligação foi apagada? E, acima de tudo, qual era o papel de Anélisse nesse passado que ninguém queria que eles lembrassem?