Capítulo 25. Ainda crianças

743 Words
Naquela noite, Mattheo caiu no sono com a mente ainda girando em torno de Anélisse— Chaterine e das descobertas sobre os feitiços. Mas o que aconteceu em seu sonho foi diferente de tudo que já experimentou. Desta vez, ele não a viu como adulta, ou mesmo como adolescente. Ele a viu como criança. E não apenas isso: ele próprio parecia mais jovem, com cerca de oito anos, e o cenário ao redor não era familiar, mas tinha uma sensação de memória antiga, como se ele estivesse revivendo algo que nunca deveria ter lembrado. Eles estavam dentro de uma caverna pouco iluminada, as paredes úmidas refletindo a luz fraca que escapava de suas varinhas. Pequenos feitiços, coloridos e saltitantes, dançavam pelo ar. Eles estavam duelando de brincadeira, lançando feitiços leves um contra o outro, rindo e desviando com a naturalidade de crianças. Anélisse sorria de forma pura, com os olhos brilhando de alegria, e cada movimento dela transmitia cuidado. Quando um dos feitiços — ainda que fraco — acertava Mattheo, ela não ria de forma maliciosa; pelo contrário, aproximava-se dele, acariciando seu braço ou seu rosto, certificando-se de que ele estava bem. — Desculpe, Mattheo! — dizia ela, a voz infantil e suave, cheia de preocupação genuína. — Você está bem? Ele sentiu o calor do toque dela, a atenção e o cuidado genuíno, e algo dentro dele se aqueceu de forma estranha, confusa, e ao mesmo tempo reconfortante. Ela ria, brincava, mas nunca de forma c***l, e cada gesto parecia natural, cheio de afeto. Mattheo percebeu que aquela memória — se era realmente uma memória — mostrava algo profundo: uma ligação antiga, um vínculo que transcenderia o tempo e os segredos. Ele estava acostumado a controlar tudo, a observar de fora, mas ali, naquele sonho, ele se permitiu sentir algo próximo da inocência e da confiança. Quando o sonho começou a se desfazer, a luz da caverna se apagando aos poucos, ele ouviu o riso dela ecoando suavemente, e a sensação de proximidade, cuidado e afeto ficou gravada, mesmo ao acordar. Mattheo despertou ofegante, as mãos ainda trêmulas, os olhos fixos no teto. Era a primeira vez que sentira algo tão puro e verdadeiro nos sonhos com Anélisse. Mattheo permaneceu acordado por horas após o sonho, a cabeça pesada de pensamentos. Sentado no sofá, os dedos entrelaçados e os olhos fixos na lareira apagada, ele tentava puxar na memória qualquer vestígio da infância que pudesse explicar aquela ligação misteriosa com Anélisse. — Então… nós nos conhecemos de verdade? — murmurou, a voz grave, quase um sussurro. — Ou é apenas alguma… memória esquecida, algum fragmento que minha mente criou? Ele fechou os olhos, forçando-se a revisitar os momentos da infância que conseguia lembrar. Mas não havia registros claros. Nenhuma memória consciente de estar em uma caverna, de brincar com feitiços ou dela mesmo. Era como se aquela conexão tivesse sido apagada ou escondida de sua própria lembrança. — Por que você sumiu? — continuou, os olhos semicerrados, o rosto tenso. — Uma hora você está ali… e de repente… nada. Nenhuma lembrança clara, nenhum registro… — a frustração ressoava em cada palavra. — Por que minha mente agora insiste em te trazer nos sonhos? Por que tantos anos depois eu sonho com isso? Cada pergunta parecia ecoar na escuridão do refúgio, sem resposta. Ele sabia que os sonhos não eram apenas meras fantasias; havia intenção, urgência e reconhecimento. Mas o porquê permanecia obscuro. — É como se você estivesse tentando me lembrar de algo… de nós… de algo que eu deveria saber — murmurou, a mão tocando o peito, como se tentasse sentir a verdade escondida ali. — Mas… o que é? Mattheo respirou fundo, a frieza característica voltando aos poucos. A mente que sempre havia controlado tudo, cada passo, cada gesto, agora se via diante de um mistério que ultrapassava o tempo, a memória e até mesmo a própria lógica. — Você vem até mim, por anos, algum motivo deve existir… — disse, a voz baixa e firme, os olhos queimando com determinação. — E eu vou descobrir. Vou descobrir quem você realmente é para mim, o que aconteceu na sua infância, e por que… por que insiste em aparecer nos meus sonhos. O silêncio voltou a cercá-lo, pesado e quase palpável. Mas ao contrário do medo ou da hesitação, Mattheo sentiu uma centelha de excitação e obsessão crescer dentro de si. Ele sabia que estava à beira de descobrir algo
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