Atitudes. = part III ( Voileta)

1649 Words
" Somos seres humanos errôneos, mas todos nós merecemos uma nova chance de fazermos as coisas certas." Por: Violeta. O amor transborda em mim, um amor diferente, mais forte e sublime. Talvez por pensar que nunca iria experimentar essa experiência, talvez por já ter aceitado que a dinastia dos Greccos chegaria ao fim. Torço minhas mãos em meu colo, ansiosa e apreensiva. Nunca me senti assim, jamais alguém me viu tão despida de minhas máscaras como estou. Meus pensamentos estão neles, meus netos. "São meus, com meu DNA correndo em suas pequenas veias, minhas crianças."- falo mentalmente. E o que me deixa extremamente aflita é não saber como Pietro irá reagir diante dessa verdade incontestável de que ele é pai. Penso em Larissa, nas coisas rudes e ofensivas que eu disse para a menina. Fui injusta, agressiva, todavia eu também acreditava na condição estéril de meu filho. Nós acreditávamos, sem ter noção de que estavamos sendo enganados por um resultado falso durante esses longos anos e isso desperta a raiva em meu íntimo. Me indago se Pietro não teria mais filhos espalhados por aí. " Dio santo, Dio Santo! " - exclamo no silêncio da minha mente. _ Algum problema, senhora? - Antoni pergunta ao fitar-me pelo retrovisor interno. _ Não, apenas estou me sentindo um pouco indisposta. Pode, por favor, ser um pouco mais ágil. - peço, tentando me conter. _ Sim, senhora. O carro ganha mais velocidade pelas estradas de Alegrete. Aproveito para ligar para minha casa e dispensar Carmem e Mônica do trabalho. Inventei a desculpa de que hoje eu quero ficar somente na companhia do meu marido e filho. Na realidade, queria ouvidos e olhos atentos longe da conversa que teremos. Temo que se algo chegar aos ouvidos de Fernando, ele desapareça com Larissa e meus netos, por isso todo cuidado agora é pouco. Assim que o carro atravessa o portão principal, olho para a minha casa, fecho os meus olhos e tomo alguns minutos extremamente necessários para poder manter a compostura e não sair correndo de dentro do veículo na frente dos demais seguranças e fazer uma cena. Desço do automóvel e dou passadas apressadas até a porta de entrada da casa. Assim que atravesso, deixo todo o enlevo e deleite que se apossaram de mim vir à tona. _ Gerardo! Pietro! - grito pelos dois, trêmula e com meus olhos se debulhando em lágrimas. _ Gerardooo! - berro a plenos pulmões. Meu marido surge desesperado vindo do escritório, empunhando sua arma e me olhando analiticamente. Em seguida vejo Pietro surgir no último degrau, meu filho desce correndo, o cheiro fresco de sabonete chega até meu olfato. Olho para o meu menino e não consigo conter os soluços que escapam da minha boca. Meu choro se intensifica ao me dar conta de todo o sofrimento que Pietro passou. _ O que houve, Violeta? O que te fizeram para estar tão consternada? - Gerardo pergunta ao se aproximar de mim. _ Cazzo! Mammà, o que tens? - Pietro pergunta franzindo a sobrancelha. Olho para os dois, tento falar, mas não consigo, as palavras entalam na minha garganta. Respiro fundo, buscando uma calma que perdi faz tempo. Me viro para Gerardo e seguro na lapela do paletó do meu marido. _ E...els... eles são nossos, Gerardo, nossos! - consigo dizer, agarrada a ele. Meu esposo me lança um olhar de quem não está entendendo absolutamente nada do que estou falando. _ São tão frágeis, lindos. Meu amor, são nossos! - falo, atropelando as palavras de tão ansiosa que estou. _ Do que a senhora está falando, mãe? - Pietro pergunta, cruzando os braços. Me viro para o meu filho, vestido com sua calça de moletom preta, camisa de algodão cinza, pés descalços, cabelos úmidos, rosto com a barba crescendo. Ando até ele e seguro seu rosto com as duas mãos, olhando nos seus olhos. _ Dos seus filhos, Pietro. Seus filhos! Você precisa vê-los, figlio mio! - falo, dando um sorriso molhado pelas lágrimas de felicidade que me invadem de dentro para fora. O homem endurece a expressão, retira minha mão do seu rosto e me lança um esgar de sorriso. _ Onde a senhora andou? - pergunta, medindo-me de cima a baixo. _ Também quero saber, Violeta, saiu sem falar para onde ia e chega dizendo coisas sem nexo.- gesticula com a mão em minha direção - Que disparates são esses que está dizendo. Me afasto de ambos, viro-me de costas, fecho meus olhos e lembro dos pequenos olhos cinzentos daquele bebê. Volto meu corpo para os dois, que me encaram com olhares cortantes. _ Fui ver as crianças da Larissa. - revelo. _ O que você fez! - Pietro vocifera alterado. _ Que diabos você foi fazer lá, donna mia?! - Gerardo brada nervoso. _ Eu precisava vê-los. Desde o dia em que o Fernando esteve aqui, a forma como o olhar dele transmitia verdade não saiu dos meus pensamentos. Os olhos são o espelho da alma e mostram muito do que temos e somos por dentro, e os dele só mostravam que ele não estava sendo leviano em suas palavras. - expresso, alternando meu olhar entre os dois. _ A senhora está senil, quer tanto netos que está delirando, fantasiando que aqueles dois bastardos são meus. Qual parte de tudo que eu passei você excluiu da sua mente? - meu filho me dirige palavras frias, mirando-me por uma linha fina em seus olhos. _ Nunca mais se refira a seus filhos de forma tão vil! - repreendo-o. _ Aquelas crianças têm os olhos iguais aos nossos, são cinzas! - digo, olhando para meu filho, que está com o maxilar trincado de tanta raiva. _ Olhos cinzentos são comuns por aí, Violeta. A menina deve ter arranjado um rapaz com olhos parecidos com os de Pietro - Gerardo fala, enfiando as mãos nos bolsos da calça que está usando. - Engana-se, querido, apenas cerca de 3% da população possui a íris dessa cor, e são mais comuns no norte e leste da Europa. - Pode ser raro, dona Violeta, mas não é impossível a garota ter se envolvido com um latino que tenha olhos cinzentos. Sua certeza baseada em algo tão frágil não é inteligente - meu filho diz entre dentes. - As crianças têm a marca de nascença que você e seu irmão têm, no mesmo lugar e com a mesma forma - evidencio- Eles têm o seu sinal de nascença, meu amor - falo, voltando-me para meu marido, que está se sentando no sofá, em choque e de boca aberta. Pietro senta-se na poltrona de frente para o sofá, e os olhos do meu menino marejam. - Tem certeza disso, mãe? - ele me pergunta com a voz embargada. Afirmo com um balançar de cabeça. _ Oh, meu Deus, meu Deus! - Pietro exclama, olhando para o teto da sala. _ Então somos... avós? - Gerardo me pergunta, com os olhos brilhando. _ Sim, meu amor, nós somos. - olho para os dois, que estão estarrecidos com a notícia que eu trouxe. - Decidi ver as crianças depois de recordar do passado. Pâmela nunca me passou confiança, uma boa imagem, e pensei se ela não teria armado essa sujeira para Pietro. Eu nunca soube qual era a dela nisso tudo e nem o que ganharia, mas eu estava certa: essa mulher não valia nada! Pietro se levanta da poltrona com tanta brusquidão que o móvel cai no chão, provocando barulho. _ Não fale assim da minha esposa, Pâmela me amava, nós dois nos amávamos. Jamais ela faria algo tão c***l comigo! Se houve algum erro, foi por parte do laboratório e da clínica que realizaram os exames. Minha mulher tinha o sonho de ser mãe! - berra animalesco, com o dedo em riste apontado na minha direção. Ando pela sala com a minha cabeça sendo bombardeada pelas coisas que dissemos e fizemos para a filha do veterinário. _ Fomos cruéis com a Larissa, meu Deus, falamos tantas p************s! A ragazza sendo sincera o tempo inteiro e a tratamos como uma pária! - exprimo, levando minhas mãos em forma de oração aos lábios. Pietro me dirige um olhar sofrido, magoado, ele estava iniciando uma contenda em seu interior. Paro trêmula, perto de um aparador, olho para meu esposo que se encontra pensativo. _ Filho, em qual clínica você realizou os seus exames? - Gerardo pergunta olhando para nosso filho, que está completamente alterado diante do que, por dedução, eu descobri e ele se n**a a aceitar. _ Em uma em que um amigo de Pâmela, era ou é diretor. - fala, passando as mãos nos cabelos. _ Você por acaso foi a um segundo especialista, procurou refazer os exames, procurar uma segunda opinião? _ Não, pai, fiquei tão sem chão diante da afirmação de ser um homem seco que sequer cogitei essa possibilidade. - Pietro diz, andando de um lado para o outro. _ Como pôde ser tão asno, cazzo! O que passava por sua mente, stronzo? Confiar cegamente em apenas um resultado sem fazer a contra-prova! _ Eu me senti quebrado, pai. Não queria remexer nas feridas. Tudo estava sendo muito pesado para mim. Cheguei a pensar que não fosse aguentar. - A explicação que meu filho nos dá aperta meu coração de mãe, ele estava tão vulnerável. Gerardo apenas desvia o olhar para o chão. Um silêncio se instaura no ar. _ Arrume uma pequena mala, estamos indo para São Paulo hoje. Repetiremos os exames no hospital mais conceituado da cidade e descobriremos o que há por trás desses exames que supostamente estão errôneos em seus resultados. - Meu marido fala, erguendo-se do sofá. Pietro nos direciona um olhar indecifrável e move-se em direção às escadas. A cabeça do meu filho com certeza estava numa desordem sem fim e eu temia por sua reação no decorrer do desenrolar desses fatos.
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